13.9.09

Jorge Luis Borges: "Nubes I"

Nubes I

No habrá una sola cosa que no sea
una nube. Lo son las catedrales
de vasta piedra y bíblicos cristales
que el tiempo allanará. Lo es la Odisea,
que cambia como el mar. Algo hay distinto
cada vez que la abrimos. El reflejo
de tu cara ya es otro en el espejo
y en el día es un dudoso laberinto.
Somos los que se van. La numerosa
nube que se deshace en el poniente
es nuestra imagen. Incesantemente
la rosa se convierte en otra rosa.
Eres nube, eres mar, eres olvido.
Eres también aquellos que has perdido.



Nuvens

Nuvens I

Não haverá uma só coisa que não seja
uma nuvem. São nuvens as catedrais
de vasta pedra e bíblicos cristais
que o tempo aplanará. São nuvens a Odisséia
que muda como o mar. Algo há distinto
cada vez que a abrimos. O reflexo
de tua cara já é outro no espelho
e o dia é um duvidoso labirinto.
Somos os que se vão. A numerosa
nuvem que se desfaz no poente
é nossa imagem. Incessantemente
a rosa se converte noutra rosa.
És nuvem, és mar, és olvido.
És também o que já está perdido.



BORGES, Jorge Luis. "Los conjurados". Obras completas. Buenos Aires: Emecé Editores, 1989.

15 comentários:

filosofique disse...

www.osonetista.blogspot.com

Recomenda obrigatoriamente Jorge Luis Borges.

Victor de chevalier disse...

olá cicero, estou num projeto de uns 40 poemas, chamado "escrever pouco bem poquinho mas nada mesmo da essência" ... os poemas estão bonitos, eu gostaria que voce pudesse ler alguns versos, aqui; www.poemamergulho.blogspot.com

Victor de chevalier disse...

www.poemamergulho.blogspot.com n sei se estava correto o link.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Um mar de imagens e nuvens! Lindo!


Grande abraço,
Adriano Nunes.

Jefferson Bessa disse...

Tudo como nuvem..tudo se desfazendo...passando...esquecendo...Tudo como nuvem porque tudo se perde.

Como foi bom ler o poema. Obrigado, Cicero!

Um abraço.

Unknown disse...

observador,

sou grande admiradora da poesia de borges e penso constantemente a respeito da "não fixidez" das coisas que pensamos/desejamos que sejam para sempre, para além.

lembrei imediatamente, por associação de idéias, do poema "Guardar", e que aqui poderia ser uma "solução" para as passagens inevitáveis a que borges se refere. poderíamos "guardar" aos moldes do teu poema, as coisas que gostaríamos de reter...

admiro a visão que você propõem no belíssimo verso que construiu.

grande abraço!

Climacus disse...

se nos perdemos na memória, não nos perdemos tanto assim, a desgraça é que me esqueço a todo momento de lembrar disso.

EDSON DA BAHIA disse...

Belo, Belo!
Avante,Cícero!!!

Eleonora Marino Duarte disse...

observador II,

ao postar o comentário eu não percebi que estava usando a conta de minha irmã no google (a assinatura de ester) peço perdão pela falha mas mantenho a admiração!


grande abraço!

ADRIANO NUNES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Caro Antonio Cícero,

Na mesma linha deste belíssimo poema Nuvens I, deixo aqui a última quadra do poema, Arte Poética, de Jorge Luís Borges:

Também é como o rio interminável
Que passa e fica e é cristal dum mesmo
Heraclito inconstante, que é o mesmo
E é outro, como o rio interminável

DM

João Renato disse...

Prezado Cícero,
Adoro Borges. Quanto mais o leio, mais me espantam a coerência com seu mundo, seus jogos, sua técnica, sua erudição, e também sua coragem. Seus poemas sempre tem frases geniais ("Somos los que se van").
O poema 1964 é um dos maiores que conheço.
Abraço,
JR.

Anônimo disse...

Antonio,


Lindo! Parabéns pela postagem!


***VIS A TERGO***



Nenhum deus,
Lá, desceu.
Triste treva


Se conserva
No poema.
Dor extrema,


A rotina,
Extermina
A palavra.


Que se lavra
Da enigmática
Matemática


Dessa vida,
Só, sentida?
Quase nada,


Da jornada,
Justifica-a
ratifica-a.



Beijo,
Cecile.

paulinho (paulo sabino) disse...

cicero, meu amor,

borges é um luxo, é uma riqueza!

que lindas linhas!

o contínuo movimento de mudar, sempre sendo outro, sempre sendo perda, sempre esquecimento, sempre nuvem, matéria que segue céu acima e que se recria e se reinventa ao sabor do vento; afinal, vai tudo em mim - o que eu fui em mim de mim fugindo.

aprender a arte de perder sem catástrofe, por mais difícil determinada perda: eis o curso natural das coisas: serem errantes, transfiguradas, mutantes, olvidadas.

maravilha, meu poeta porreta!

beijú!

Fernando Campanella disse...

... Vão, os que do mundo vieram:
as folhas, os porres, os cansaços..." (Fernando Campanella)

Bom dia, Cícero, o poeta bebe dos temas eternos e os traduz em sua linguagem. 'Nada há de novo sob o sol', salvo o olhar.

Borges é um clássico. Lindo seu poema.