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17.1.21

Casimiro de Brito: poemas "1" e "2" de "Ofício de oleiro"

 



1


O mundo não está frio

nem morto nem

indiferente

às formigas que brilham

na carne da pedra.




2


O barro desta luz

andrógina canto – 

barca de som

onde se alojam a febre, o sémen

do mar, aves

que não me canso

de invocar




BRITO, Casimiro de. Poemas "1" e "2" de "Ofício de oleiro". In:_____. Arte pobre. Leiria: Editorial Diferença, 2000.

20.11.20

Casimiro de Brito: "10"

 



10


Quem foi pedra e peixe antes de ser pássaro,

quem foi barro e árvore antes de ser nuvem,

quem foi homem antes de ser mulher

e mulher antes de ser homem,

pai antes de ser filho e vagido

antes de ser música

transporta um saber anterior

ao dom da palavra.




BRITO, Casimiro de. "10". In:_____. Arte de bem morrer. Lisboa: Roma Editora, 2007.


1.3.19

Casimiro de Brito: "Esta manhã não lavei os olhos --"




71

Esta manhã não lavei os olhos – 
pensei em ti.


*


Se o teu ouvido se fechou à minha boca
poderei escrever ainda poemas de amor?
A arte de amar não me serve para nada.


*


Um fogo em luz transformado.
Subitamente a sombra.


*


Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado,
morro um pouco mais.





BRITO, Casimiro de. “Esta manhã não lavei os olhos”. In:_____. "Arte de bem morrer". In:_____ 69 poemas de amor. Tavira: 4Águas editora, 2008.

15.5.18

Casimiro de Brito: "Velho como as flores"



100

Velho como as flores
o vinho respira
no meu copo.
Velho como as aves 
o tinto que bebo
com amigos
que partiram.





BRITO, Casimiro de. "Velho como as flores". In:_____. Arte de bem morrer.  Lisboa: Roma Editora, 2007.

28.9.14

Casimiro de Brito: "13"




13

A morte é uma flor que palpita
no branco da noite, um rosto antepassado
que não posso ver, um rictus terribilis
que me fascina e cega. Uma flor
distraída, pensam uns,
mas há outros que sentem o brilho
da sua navalha. Abre quando quer
o seu olho de Medusa. É
uma deusa. Acolho-me à sua sombra.
Peço ao poema que me ajude
a encontrar um sentido neste segredo
que todos bebemos
e não se esgota.





BRITO, Casimiro de. Arte de bem morrer. Lisboa: Roma Editora, 2007.

4.5.13

Casimiro de Brito: de "A boca na fonte"






1

Não separar a água
da sua espuma
que a vida é só uma




BRITO, Casiiro de. A boca na fonte. Lisboa: Lua de Marfim, 2012.

5.9.11

Casimiro de Brito: "Cuidado. O amor"





Cuidado. O amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
    que se desfia
pouco a pouco. Guardo
    silêncio
para que possam ouvi-lo
    desfazer-se.



BRITO, Casimiro de. "Cuidado. O amor". In: PEDROSA, Inês (org.). Poemas de amor. Antologia de poesia portuguesa. Lisboa: Dom Quixote, 2005.

21.2.09

Casimiro de Brito: "areia"

.


areia

O mundo não posso mudar –
deixa-me sacudir a areia
das tuas sandálias



De: BRITO, Casimiro. 69 poemas de amor. Faro: 4 águas editora, 2008.