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22.7.20

Paul Celan: "Die Wind im Rücken" / "Com o vento pelas costas"




Com o vento pelas costas


Com o vento pelas costas
morro e apago-me
na grande monção –
é então que verdadeiramente vivo.




Den Wind im Rücken



Den Wind im Rücken,
sterb ich mich ein
in den Großpassat –
und lebe erst recht.







CELAN, Paul. "Den Wind im Rücken" / "Com o vento pelas costas". In:_____. A morte é uma flor. Poemas do espólio (Die Gedichte aus dem Nachlass). Trad. por João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1998.






12.9.19

Georg Trakl: "Die Sonne" / "O sol": trad. de João Barrento




O sol

Diariamente, o sol amarelo vem por cima do monte.
Bela é a floresta, o animal sombrio,
O homem: caçador ou pastor.

Fulvo, emerge o peixe no lago verde.
Sob  a curva do céu
Desliza levemente o pescador no barco azul.

Lentamente, amadurece a uva, o trigo.
Quando, no silêncio, declina o dia,
Obras boas e más estão preparadas.

Quando chega a noite
O viajante ergue levemente as pesadas pálpebras;
De sombrio abismo jorra sol.





Die Sonne

Täglich kommt die gelbe Sonne über den Hügel.
Schön ist der Wald, das dunkle Tier,
Der Mensch; Jäger oder Hirt.

Rötlich steigt im grünen Weiher der Fisch.
Unter dem runden Himmel
Fährt der Fischer leise im blauen Kahn.

Langsam reift die Traube, das Korn.
Wenn sich stille der Tag neigt,
Ist ein Gutes und Böses bereitet.

Wenn es Nacht wird,
Hebt der Wanderer leise die schweren Lider;
Sonne aus finsterer Schlucht bricht.






TRAKL, Georg. "Die Sonne" / "O sol". In: BARRENTO, João (seleção e tradução). A alma e o caos: 100 poemas expressionistas. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2001.


7.4.18

Paul Celan: "Der uns die Stunden zählte" / "Aquele que nos contava as horas": trad. João Barrento e Y.K. Centeno





Aquele que nos contava as horas

Aquele que nos contava as horas
continua a contar.
Que estará ele a contar, diz?
Conta e torna a contar.

Não faz mais frio,
nem mais noite,
nem mais húmido.

Só aquilo que nos ajudava a escutar
agora escuta
para si sozinho.




Der uns die Stunden zählte

Der uns die Stunde zählte,
er zählt weiter.
Was mag er zählen, sag?
Er zählt und zählt.

Nicht kühler wirds,
nicht nächtiger,
nicht feuchter.

Nur was uns lauschen half:
es lauscht nun
für sich allein.




CELAN, Paul. "Der uns die Stunden zählte" / "Aquele que nos contava as horas". In:_____. Sete rosas mais tarde. Antologia poética.  Org. e trad.: João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.

5.2.18

Paul Celan: "Schreib dich nicht" / "Não te escrevas": trad. de João Barrento



Não te escrevas
entre os mundos,

ergue-te contra
a variedade de sentidos

confia no rastro das lágrimas
e aprende a viver




Schreib dich nicht
zwischen die Welten,

komm auf gegen
die Bedeutungen Vielfalt,

vertrau der Tränenspur
und lerne leben




CELAN, Paul. "Schreib dich nicht" / "Não te escrevas". In:_____. A morte é uma flor. Poemas do espólio. Trad. de João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1998.

22.3.16

Georg Trakl: "Rondel": trad. por João Barrento




Rondel


Esgotou-se a fonte de oiro dos dias,
Os tons da tarde, azuis e outonais:
Morreram doces flautas pastorais
Os tons azuis da tarde, e outonais
Esgotou-se a fonte de oiro dos dias.




Rondel


Verflossen ist das Gold der Tage,
Des Abends braun und blaue Farben:
Des Hirten sanfte Flöten starben
Des Abends blau und braune Farben
Verflossen ist das Gold der Tage.




TRAKL, Georg. "Rondel". In: BARRENTO, João. A alma e o caos. 100 poemas expressionistas. Seleção e trad. de João Barrento. Lisboa: Relógio d'Água, 2001.

24.9.14

Paul Celan: "Die Halde" / "A ladeira": trad. João Barrento e Y.K. Centeno




A ladeira

Junto a mim vives tu, igual a mim:
como uma pedra
na face caída da noite.

Oh, amada, esta ladeira,
onde rolamos sem parar,
nós pedras,
de regato em regato.
E cada vez mais redondas.
Mais iguais. Mais estranhas.

Oh, este olho embriagado,
que por aqui vagueia como nós
e que às vezes
com espanto nos vê unidos.



Die Halde                                                                                                    

Neben mir lebst du, gleich mir:
als ein Stein
in der eingesunkenen Wange der Nacht.

O diese Halde, Geliebte,
wo wir pausenlos rollen,
wir Steine,
von Rinnsal zu Rinnsal.
Runder von Mal zu Mal.
Ähnlicher. Fremder.

O dieses trunkene Aug,
das hier umherirrt wie wir
und uns zuweilen
staunend in eins schaut.



CELAN, Paul. "De limiar em limiar" / "Von Schwelle zu Schwelle". In:_____. Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.


10.1.14

Paul Celan: "Fadensonnen" / "Sóis desfiados" : trad. João Barrento e Y.K. Centeno





Sóis desfiados
sobre o deserto cinza-negro.
Um pensamento alto-
como-árvore
capta o tom da luz: ainda
há canções para cantar do outro lado
dos homens.




CELAN, Paul. "Sopro, viragem". In_____. Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Edição bilingue. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.

30.9.13

Paul Celan: "Soviel Gestirne" / "Tantas constelações": Trad. João Barrento






TANTAS CONSTELAÇÕES que
nos são oferecidas. Quando
para ti olhei -- foi quando? – estava
lá fora nesses
outros mundos.

Oh, estes caminhos, galácticos,
Oh, esta hora que nos
trouxe as noites lançando-as
na carga dos nossos nomes. Não
é verdade, bem o sei,
que tenhamos vivido, passou,
cego, apenas um sopro entre
Lá e Não-aqui e Às-vezes,
como um cometa, um olho passava vibrante
em busca de fogos extintos, nos desfiladeiros,
no lugar do lume a apagar-se estava
o tempo num esplendor de tetas,
e por ele acima e abaixo já
crescia e passava o que
é ou foi ou há-de ser –,

eu sei,
eu sei e tu sabes, nós sabíamos,
não sabíamos, nós
afinal estávamos aqui e não lá
e às vezes, quando
entre nós só havia o Nada, o nosso
encontro era perfeito.




SOVIEL GESTIRNE, die
man uns hinhält. Ich war,
als ich dich ansah – wann ? –,
draußen bei
den anderen Welten.

O diese Wege, galaktisch,
o diese Stunde, die uns
die Nächte herüberwog in
die Last unsrer Namen. Es ist,
ich weiß est, nicht wahr,
daß wir lebten, es ging
blind nur ein Atem zwischen
Dort und Nicht-da und Zuweilen,
kometenhaft schwirrte ein Aug
auf Erloschenes zu, in den Schluchten,
da, wo’s verglühte, stand
zitzenprächtig die Zeit,
an der schon empor- und hinab-
und hinwegwuchs, was
ist oder war oder sein wird -,

ich weiß,
ich weiß und du weißt, wir wußten,
wir wußten nicht, wir
waren ja da und nicht dort,
und zuweilen, wenn
nur das Nichts zwischen uns stand, fanden
wir ganz zueinander.



CELAN, Paul. Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.

24.2.12

Paul Celan: "Auch wir wollen sein" / "Também nós queremos estar": tradução de João Barrento




Também nós queremos estar
onde o tempo diz a palavra-limiar,
o milênio emerge da neve, remoçado,
o olhar errante
descansa no seu próprio espanto
e cabana e estrela
vizinhas se destacam no azul,
como se o caminho já estivesse percorrido.




Auch wir wollen sein,
wo die Zeit das Schwellenwort spricht,
das Tausendjahr jung aus dem Schnee steigt,
das wandernde Aug
ausruht im eignen Erstaunen
und Hütte und Stern
nachbarlich stehn in der Bläue,
als wäre der Weg schon durchmessen.




CELAN, Paul. A morte é uma flor. Poemas do espólio. Edição bilingue. Tradução, posfácio e notas de João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1998.

4.1.11

Paul Celan: "Leuchten" / "Cintilar": trad. de João Barrento




Cintilar

De corpo silencioso
estás junto a mim na areia,
superestrelada.

...............................


Quebrou-se algum raio
para chegar até mim?
Ou foi o bastão
que sobre nós quebraram
que vejo cintilar?




Leuchten

Schweigenden Leibes
liegst du im Sand neben mir,
Übersternte.

................................


Brach sich ein Strahl
herüber zu mir?
Oder war es der Stab,
den man brach über uns,
der so leuchtet?





CELAN, Paul. "Von Schwelle zu Schwelle". Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrent e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.

13.2.10

Paul Celan: "Leb die Leben" / "Vive as vidas": tradução de João Barrento




Leb die Leben, leb sie alle,
halt die Träume auseinander,
sieh, ich steige, sieh, ich falle,
bin ein andrer, bin kein andrer.



Vive as vidas, uma a uma,
sem os sonhos confundir;
eu vou para baixo, para cima,
sou outro, sem outro ser.



CELAN, Paul. A morte é uma flor. Poemas do espólio Edição bilingue. Tradução, posfácio e notas de João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1998.

25.12.08

Paul Celan: "Lob der Ferne" / "Elogio da distância: traduzido por João Barrento e Y.K. Centeno

.



Elogio da distância


Na fonte dos teus olhos
vivem os fios dos pescadores do lago da loucura.
Na fonte dos teus olhos
o mar cumpre a sua promessa.

Aqui, coração
que andou entre os homens, arranco
do corpo as vestes e o brilho de uma jura:

Mais negro no negro, estou mais nu.
Só quando sou falso sou fiel.
Sou tu quando sou eu.

Na fonte dos teus olhos
ando à deriva sonhando o rapto.

Um fio apanhou um fio:
separamo-nos enlaçados.

Na fonte dos teus olhos
um enforcado estrangula o baraço.




Lob der Ferne


Im Quell deiner Augen
leben die Garne der Fischer der Irrsee.
Im Quell deiner Augen
hält das Meer sein Versprechen.

Hier werf ich,
ein Herz, das geweilt unter Menschen,
die Kleider von mir und den Glanz eines Schwures:

Schwärzer im Schwarz, bin ich nackter.
Abtrünnig erst bin ich treu.
Ich bin du, wenn ich ich bin.

Im Quell deiner Augen
treib ich und träume von Raub.

Ein Garn fing ein Garn ein:
wir scheiden umschlungen.

Im Quell deiner Augen
erwürgt ein Gehenkter den Strang.



De: CELAN, Paul. "Mohn und Gedächtnis". In: Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.