30.9.13
Paul Celan: "Soviel Gestirne" / "Tantas constelações": Trad. João Barrento
TANTAS CONSTELAÇÕES que
nos são oferecidas. Quando
para ti olhei -- foi quando? – estava
lá fora nesses
outros mundos.
Oh, estes caminhos, galácticos,
Oh, esta hora que nos
trouxe as noites lançando-as
na carga dos nossos nomes. Não
é verdade, bem o sei,
que tenhamos vivido, passou,
cego, apenas um sopro entre
Lá e Não-aqui e Às-vezes,
como um cometa, um olho passava vibrante
em busca de fogos extintos, nos desfiladeiros,
no lugar do lume a apagar-se estava
o tempo num esplendor de tetas,
e por ele acima e abaixo já
crescia e passava o que
é ou foi ou há-de ser –,
eu sei,
eu sei e tu sabes, nós sabíamos,
não sabíamos, nós
afinal estávamos aqui e não lá
e às vezes, quando
entre nós só havia o Nada, o nosso
encontro era perfeito.
SOVIEL GESTIRNE, die
man uns hinhält. Ich war,
als ich dich ansah – wann ? –,
draußen bei
den anderen Welten.
O diese Wege, galaktisch,
o diese Stunde, die uns
die Nächte herüberwog in
die Last unsrer Namen. Es ist,
ich weiß est, nicht wahr,
daß wir lebten, es ging
blind nur ein Atem zwischen
Dort und Nicht-da und Zuweilen,
kometenhaft schwirrte ein Aug
auf Erloschenes zu, in den Schluchten,
da, wo’s verglühte, stand
zitzenprächtig die Zeit,
an der schon empor- und hinab-
und hinwegwuchs, was
ist oder war oder sein wird -,
ich weiß,
ich weiß und du weißt, wir wußten,
wir wußten nicht, wir
waren ja da und nicht dort,
und zuweilen, wenn
nur das Nichts zwischen uns stand, fanden
wir ganz zueinander.
CELAN, Paul. Sete rosas mais tarde. Antologia poética. Seleção, tradução e introdução de João Barrento e Y.K. Centeno. Lisboa: Cotovia, 1996.
Labels:
João Barrento,
Paul Celan,
Poema
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Cicero,
muito obrigado por postar tão belo poema!
Abraço forte,
Adriano Nunes
Outro visão sobre esse nada que surge...
Solidão
A solidão é como a chuva que brota
do mar para o cair da tarde;
da planície distante e remota
para o céu, que sempre a adota.
E só então recai do céu sobre a cidade.
Ela chove, entre as horas, a seu despeito,
quando todos os becos buscam a madrugada
e quando os corpos, que não encontraram nada,
quedam-se juntos, tristes e frios,
e os que se odeiam, rosto contrafeito,
têm de dormir no mesmo leito:
aí a solidão flui como os rios...
Rainer Maria Rilke
Campos, Augusto de. Coisas e anjos de Rilke. 2. ed. - São Paulo : Perspectiva, 2013.
Postar um comentário