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29.5.19

Bocage: "Soneto XLVIII"




Soneto XLVIII

Já por bárbaros climas entranhado,
Já por mares inóspitos vagante,
Vítima triste da fortuna errante,
Té dos mais desprezíveis desprezado:

Da fagueira esperança abandonado,
Lassas as forças, pálido o semblante,
Sinto rasgar meu peito a cada instante
A mágoa de morrer expatriado.

Mas, ah! Quem bem maior, se contra a sorte
Lá do sepulcro no sagrado hospício
Refúgio me promete a amiga Morte!

Vem, pois, ó nume aos míseros propício,
Vem livrar-me da mão pesada e forte,
Que de rastos me leva ao precipício!




BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. "Soneto XLVIII. In:_____. Sonetos de Bocage. São Paulo: Edições Saraiva, 1956, tomo II.

7.2.18

Bocage: "Enquanto o sábio arreiga o pensamento"



Enquanto o sábio arreiga o pensamento
Nos fenómenos teus, ó Natureza,
Ou solta árduo problema, ou sobre a mesa
Volve o subtil, geométrico instrumento;

Enquanto, alçando a mais o entendimento,
Estuda os vastos céus, e com certeza
Reconhece dos astros a grandeza,
A distância, o lugar e o movimento;

Enquanto o sábio, enfim, mais sabiamente
Se remonta nas asas do sentido
A corte do Senhor omnipotente,

Eu louco, eu cego, eu mísero, eu perdido,
De ti só trago cheia, oh Jónia, a mente;
Do mais e de mim mesmo ando esquecido.




BOCAGE, Manuel Maria l'Hedoux de Barbosa du. Obra completa. Edição de Daniel Pires. Porto: Caixotim, 2004.

27.11.14

Manuel Maria Barbosa du Bocage: "Nascemos para amar"




Nascemos para amar; a humanidade
Vai cedo ou tarde aos laços da ternura
Tu és doce atractivo, ó formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão n’alma se apura
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abismou nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na idéia acesas:

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.



BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. "Nascemos para amar". In: PEDROSA, Inês. Poemas de amor. Antologia de poesia portuguesa. Lisboa: Dom Quixote, 2005.

9.4.13

Manuel Maria Barbosa du Bocage: "Incultas produções da mocidade"






Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores.

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração de seus favores;

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.




BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. Sonetos de Bocage. Org. de Fernando Mendes de Almeida. São Paulo: Saraiva, 1956.