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31.8.21

Friedrich Hölderlin: "Sokrates und Alcibiades" / "Sócrates e Alcibíades": trad. de Antonio Cicero

 



Sócrates e Alcibíades



Por que honras, divino Sócrates,

   Sempre esse mesmo jovem? Não conheces nada maior?

       Por que o apreendem com amor, 

   Como aos deuses, os teus olhos?


Quem pensa o mais profundo, ama o mais vivaz

    Quem entende o nobre jovem é quem bem captou o mundo

          E, no fim das contas, o sábio

        Se curva bastante ao belo.





Sokrates und Alcibiades



»Warum huldigest du, heiliger Sokrates,

     Diesem Jünglinge stets? kennest du Größers nicht?

Warum siehet mit Liebe,

     Wie auf Götter, dein Aug' auf ihn?«


Wer das Tiefste gedacht, liebt das Lebendigste,

     Hohe Jugend versteht, wer in die Welt geblickt,

 Und es neigen die Weisen

      Oft am Ende zu Schönem sich.





HÖLDERLIN, Friedrich. "Sokrates und Alcibiades" / "Sócrates e Alcibíades". In:_____ Sämtliche Gedichte. Frankfurt am Main: Deutscher Klassiker Verlag, 2005.





26.3.21

Friedrich Hölderlin: "Buonaparte": trad. Antonio Cicero

 



Buonaparte


Vasos sagrados são os poetas,

Onde o vinho da vida, o espírito

Dos heróis se conserva;


O espírito desse jovem, porém,

Tão rápido, como não quebraria

Se o quisesse prender, o vaso?


Que o poeta o deixe intacto como o espírito da natureza,

Em tal matéria torna-se aprendiz o mestre.


No poema ele não pode viver e ficar:

Ele vive e fica no mundo.





Buonaparte


Heilige Gefäße sind die Dichter,

Worin des Lebens Wein, der Geist

Der Helden, sich aufbewahrt,


Aber der Geist dieses Jünglings,

Der schnelle, müßt er es nicht zersprengen,

Wo es ihn fassen wollte, das Gefäß?


Der Dichter laß ihn unberührt wie den Geist der Natur,

An solchem Stoffe wird zum Knaben der Meister.


Er kann im Gedichte nicht leben und bleiben,

Er lebt und bleibt in der Welt.





HÖLDERLIN, Friedrich „Buonaparte“. In:_____. Sämtliche Werke und Briefe.Vol.1. München: Carl Hanser Verlag, 1970,.

11.7.20

Friedrich Hölderlin: "Die scheinheiligen Dichter" / "Os poetas hipócritas": trad. de Paulo Quintela




Os poetas hipócritas


Frios hipócritas, não faleis dos deuses!
Vós sois tão razoáveis! não acreditais em Hélios,
Nem no Tonante e no Deus do Mar;
A Terra está morta, quem quer agradecer-lhe? ─

Confiança, Deuses! pois ornais a canção,
Inda que dos vossos nomes a alma já se foi,
E quando é precisa uma grande palavra,
Mãe Natureza! é em ti que se pensa.






Die scheinheiligen Dichter


Ihr kalten Heuchler, sprecht von den Göttern nicht!
Ihr habt Verstand! ihr glaubt nicht an Helios,
Noch an den Donnerer und Meergott;
Todt ist die Erde, wer mag ihr danken? –


Getrost ihr Götter! zieret ihr doch das Lied,
Wenn schon aus euren Nahmen die Seele schwand,
Und ist ein großes Wort vonnöthen,
Mutter Natur! so gedenkt man deiner.







HÖLDERLIN, Friedrich. "Die schein heiligen Dichter" / "Os poetas hipócritas". In:_____. Hölderlin: Poemas. Org. e trad. de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959.

4.12.19

Friedrich Hölderlin: "Die Liebenden" / "Os amantes": trad. de Paulo Quintela




Os amantes



     Queríamos separar-nos, tínhamos isso por bom e sensato;

          Quando o fizemos, por que nos assustou, como homicídio,
                                                                                          [a ação?

               Ai! Pouco nos conhecemos,

                    Pois em nós reina um Deus.








Die Liebenden



     Trennen wollten wir uns, wähnten es gut und klug;

          Da wir's taten, warum schröckt' uns wie Mord die Tat?

               Ach! Wir kennen uns wenig,

                    Denn es waltet ein Gott in uns.







HÖLDERLIN, Friedrich. "Die Liebenden" / "Os amantes". In:_____. Poemas. Org. e trad. de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959.

30.9.17

Marcelo Rondinelli: "Hölderlin (re)traduzido no Brasil: constelações poético-tradutórias, acontecimentos"


O poeta André Vallias acaba de me chamar atenção para um belo ensaio do Professor Marcelo Rondinelli, intitulado "Hölderlin (re)traduzido no Brasil: constelações poético-tradutórias, acontecimentos". Nesse texto são consideradas, entre outras coisas, algumas das traduções que fiz de poemas do grande poeta alemão. O ensaio foi originalmente publicado no vol.18, nº2, 2016 da Revista Graphos -- que é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Letras da Univesidade Federal da Paraíba -- e pode ser lido aqui: http://periodicos.ufpb.br/index.php/graphos/article/viewFile/32163/16707.

9.7.17

Hölderlin: "Da ich ein Knabe war..." / "Quando era menino": trad. de Paulo Quintela


Quando era menino...

   Quando era menino,
      Salvou-me um deus muita vez
        Da gritaria e dos açoites dos homens,
           E então brincava seguro e bem
             Com as flores do bosque,
                E as brisas do céu
                  Brincavam comigo.

E assim como alegras
O coração das plantas,
Quando elas te estendem
Os braços tenros,

Assim me alegraste o coração,
Pai Hélios! e, como Endymion,
Era eu o teu amado,
Lua sagrada!

Ó vós todos, fiéis,
Amigos deuses!
Se vós soubésseis
Como a minha alma vos amou!

É verdade que então vos não chamava
Ainda pelos nomes, e vós também
Nunca me nomeáveis, como os homens se nomeiam,
Como se se conhecessem.

Mas conhecia-vos melhor
Do que jamais conheci os homens;
Entendia o silêncio do Éter;
Palavras dos homens nunca as entendi.

A mim criou-me a harmonia
Do bosque sussurrante
E aprendi a amar
Entre as flores.
Foi nos braços dos deuses que eu cresci.



Da ich ein Knabe war...

    Da ich ein Knabe war,
      Rettet' ein Gott mich oft
        Vom Geschrei und der Rute der Menschen,
          Da spielt ich sicher und gut
            Mit den Blumen des Hains,
              Und die Lüftchen des Himmels
                Spielten mit mir.

    Und wie du das Herz
    Der Pflanzen erfreust,
    Wenn sie entgegen dir
    Die zarten Arme strecken,

    So hast du mein Herz erfreut,
    Vater Helios! und, wie Endymion,
    War ich dein Liebling,
    Heilige Luna!

    O all ihr treuen
    Freundlichen Götter!
    Daß ihr wüßtet,
    Wie euch meine Seele geliebt!

    Zwar damals rief ich noch nicht
Euch mit Namen, auch ihr
    Nanntet mich nie, wie die Menschen sich nennen,
    Als kennten sie sich.

    Doch kannt ich euch besser,
    Als ich je die Menschen gekannt,
    Ich verstand die Stille des Aethers,
    Der Menschen Worte verstand ich nie.

    Mich erzog der Wohllaut
    Des säuselnden Hains
    Und lieben lernt ich
    Unter den Blumen.

    Im Arme der Götter wuchs ich groß.


HÖLDERLIN, Friedrich. "Da ich ein Knabe war..." / "Quando era menino...". In_____. Hölderlin: poemas. Org. e trad. de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959. 



5.3.17

Friedrich Hölderlin: "An unsre großen Dichter" / "Aos nossos grandes poetas": trad. de Paulo Quintela




Aos nossos grandes poetas

As margens do Ganges ouviram do deus da alegria
   O triunfo, quando do Indo conquistando tudo
      Vinha o jovem Baco, com vinho
         Sagrado acordando os povos do sono.

Oh acordai-os, Poetas! Acordai-os do sono também,
   Os que inda dormem, dai-nos as leis, dai-nos
      A vida, triunfai, Heróis! Só vós
         Tendes direito de conquista, como Baco.





An unsre großen Dichter

Des Ganges Ufer hörten des Freudengotts
   Triumph, als allerobernd vom Indus her
      Der junge Bacchus kam, mit heiligem
         Weine vom Schlafe die Völker weckend.

O weckt, ihr Dichter! weckt sie vom Schlummer auch,
   Die jetzt noch schlafen, gebt die Gesetze, gebt
      Uns Leben, siegt, Heroën! ihr nur
          Habt der Eroberung Recht, wie Bacchus.



HÖLDERLIN, Friedrich. "An unsre großen Dichter" / "Aos nossos grandes poetas". In:_____. Hölderlin: poemas. Org. e trad. de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959.  

2.12.16

Friedrich Hölderlin: "An die jungen Dichter" / "Aos poetas jovens": trad. Paulo Quintela




Aos poetas jovens

Queridos Irmãos! talvez a nossa arte amadureça,
Pois, como o jovem, há muito ela fermenta já,
Em breve em beleza serena;
Sede então devotos, como o Grego o foi.

Amai os deuses e pensai nos mortais com amizade!
Odiai a ebriedade como o gelo! Não ensineis nem descrevais!
Se o mestre vos assusta,
Pedi conselho à grande Natureza!




An die jungen Dichter

Lieben Brüder! es reift unsere Kunst vielleicht,
Da, dem Jünglinge gleich, lange sie schon gegärt,
Bald zur Stille der Schönheit;
Seid nur fromm, wie der Grieche war!

Liebt die Götter und denkt freundlich der Sterblichen!
Haßt den Rausch, wie den Frost! lehrt, und beschreibet nicht!
Wenn der Meister euch ängstigt,
Fragt die große Natur um Rat.



HÖLDERLIN, Friedrich. "An die jungen Dichter" / "Aos poetas jovens". In:_____. Poemas. Seleção e tradução de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântica, 1959.

30.5.16

Friedrich Hölderlin: "Abbite" / "Perdão!": Paulo Quintela




Perdão!

Santa criatura! Tantas vezes em ti perturbei
A dourada paz dos deuses, e das mais secretas,
Das mais fundas dores da vida
Muitas de mim aprendeste.

Oh esquece e perdoa! Como aquelas nuvens
Passam ante a Lua pacífica, eu passarei, e tu
Repousas depois e brilhas de novo
Na tua beleza, ó luz suave!




Abbitte

Heilig Wesen! gestört hab’ ich die goldene
Götterruhe dir oft und der geheimeren
Tiefern Schmerzen des Lebens
Hast du manche gelernt von mir.

O vergiß es, vergieb! gleich dem Gewölke dort
Vor dem friedlichen Mond, geh’ ich dahin und du
Ruhst und glänzest in deiner
Schöne wieder, du süßes Licht!




HÖLDERLIN, Friedrich. "Abbite" / "Perdão!". In:_____. Poemas. Org. e trad. de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959.

16.12.15

Friedrich Hölderlin: "Das Unverzehliche" / "O imperdoável": trad. Paulo Quintela




O imperdoável

     Se vós, amigos, esqueceis, se escarneceis o artista,
     E entendeis de modo mesquinho e vulgar o espírito mais fundo,
     Deus perdoa-vo-lo; mas não perturbeis
     Nunca a paz dos que se amam.




Das Unverzeihliche

Wenn ihr Freunde vergeßt, wenn ihr den Künstler höhnt,
Und den tieferen Geist klein und gemein versteht,
Gott vergibt es, doch stört nur
Nie den Frieden der Liebenden.



HÖLDERLIN, Friedrich. "Das Unverzeihliche"/"O imperdoável". In: QUINTELA, Paulo (org. e trad.). Hölderlin: poemas. Coimbra: Atlântida, 1959.

2.5.15

Friedrich Hölderlin: "A árvore" / "Der Baum": trad. por Paulo Quintela




A árvore



Quando menino, tímido te plantei


     Bela planta! quão diferentes nos vemos
Magnífica estás                              e
   

     como um menino.
     







Der Baum



Da ich ein Kind, zag pflanzt ich dich

     Schöne Pflanze! wie sehn wir nun verändert uns

Herrlich stehest                           und

         wie ein Kind vor.




HÖLDERLIN, Friedrich. "A árvore" / "Der Baum". In: QUINTELA, Paulo (org. e trad.). Hölderlin: Poemas. Coimbra: Atlândida, 1959. 

27.2.15

Friedrich Hölderlin: "Diotima": trad. Antonio Medina Rodrigures




Diotima

Vem, dulçor da musa etérea — e para mim aplaca
   O caos do tempo, ó tu, que outrora os elementos irmanaste,
Em tons de paz do céu me suaviza a fera luta,
   Até que aos seios dos mortais se amaine a intriga,
Até que a suave, a ingente, a velha natureza dos humanos
   Brote enfim do fermentar do tempo alegre e forte.
E que à viva forma voltes, da gente aos corações sedentos!
   Voltes à mesa hospitaleira, e ao santuário voltes!
Pois que, do Espírito colmada, como em neve as flores finas,
   Vive ainda e a remirar o sol está Diotima.
Mas foi-se deste mundo o sol do Espírito, o mais belo,  
   E em caliginosa treva raivam agora tão somente os furacões.




Diotima

Komm und besänftige mir, die du einst Elemente versöhntest,
   Wonne der himmlischen Muse, das Chaos der Zeit,
Ordne den tobenden Kampf mit Friedenstönen des Himmels,
   Bis in der sterblichen Brust sich das Entzweite vereint,
Bis der Menschen alte Natur, die ruhige, große,
   Aus der gärenden Zeit mächtig und heiter sich hebt.
Kehr’ in die dürftigen Herzen des Volks, lebendige Schönheit!
   Kehr’ an den gastlichen Tisch, kehr’ in den Tempel zurück!
Denn Diotima lebt, wie die zarten Blüten im Winter,
   Reich an eigenem Geist, sucht sie die Sonne doch auch.
Aber die Sonne des Geists, die schönere Welt, ist hinunter
   Und in frostiger Nacht zanken Orkane sich nur.



HÖLDERLIN, Friedrich. "Diotima". Trad. Antonio Medina Rodrigues. In:_____. Canto do destino e outros cantos. Org. e trad. e ensaio por Antonio Medina Rodrigues. São Paulo: Ilulminuras, 1994.  



6.1.15

Friedrich Hölderlin: "Lebenslauf" / "Curso da vida": trad. Paulo Quintela




Curso da Vida

Coisas maiores querias tu também, mas o amor
A todos vence, a dor curva ainda mais,
E não é em vão que o nosso círculo
Volta ao ponto donde veio!

Para cima ou para baixo! Não sopra em noite sagrada,
Onde a Natureza muda medita dias futuros,
Não domina no Orco mais torto
Um direito, uma justiça também?

Foi isso que aprendi. Pois nunca, como os mestres mortais,
Vós, ó celestiais, ó deuses que tudo mantendes,
Que eu saiba, nunca com cuidado
Me guiastes por caminho plano.

Tudo experimente o homem, dizem os deuses,
Que ele, alimentado com forte mantença, aprenda a ser grato por
                                                                                   [tudo,    
E compreenda a liberdade
De partir para onde queira.




Lebenslauf

Größers wolltest auch du, aber die Liebe zwingt
All uns nieder, das Leid beuget gewaltiger,
Doch es kehret umsonst nicht
Unser Bogen, woher er kommt.

Aufwärts oder hinab! herrschet in heilger Nacht,
Wo die stumme Natur werdende Tage sinnt,
Herrscht im schiefesten Orkus
Nicht ein Grades, ein Recht noch auch ?

Dies erfuhr ich. Denn nie, sterblichen Meistern gleich,
Habt ihr Himmlischen, ihr Alleserhaltenden,
Daß ich wüßte, mit Vorsicht
Mich des ebenen Pfades geführt.

Alles prüfe der Mensch, sagen die Himmlischen,
Daß er, kräftig genährt, danken für Alles lern,
Und verstehe die Freiheit,
Aufzubrechen, wohin er will.




HÖLDERLIN, Friedrich. "Lebenslauf" / "Curso da vida". In:_____. Poemas. Seleção e tradução de Paulo Quintela. Coimbra: Atlândida, 1959. 

10.7.14

Friedrich Hölderlin: "Menschenbeifall" / "O aplauso dos homens": trad. Manuel Bandeira




Menschenbeifall

 Ist nicht heilig mein Herz, schöneren Lebens voll,
Seit ich liebe? Warum achtet ihr mich mehr,
Da ich stolzer und wilder,
Wortereicher und leerer war?

Ach! der Menge gefällt, was auf den Marktplatz taugt,
Und es ehret der Knecht nur den Gewaltsamen;
An das Göttliche glauben
Die allein, die es selber sind.



HÖLDERLIN, Friedrich. "Gedichte". In:_____. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser, 1970.



O aplauso dos homens

Não trago o coração mais puro e belo e vivo
Desde que amo? Por que me afeiçoáveis mais
Quando era altivo e rude,
Palavroso e vazio?

Ah! só agrada à turba o tumulto das feiras;
Dobra-se humilde o servo ao áspero e violento.
Só creem no divino
Os que o trazem em si.



HÖLDERLIN, Friedrich. "O aplauso dos homens". Trad. Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.M

24.7.13

Friedrich Hölderlin: "Empedokles" / "Empédocles": trad. de Paulo Quintela





Empédocles

Buscas a vida, buscas, e eis te brota e brilha
Um fogo divino do fundo da terra,
E tu, em ânsia horrífica, lanças-te
Lá para baixo, pra as chamas do Etna.

Assim dissolveu pérolas no vinho a insolência
Da rainha; e que o fizesse! Não tivesses tu,
Ó Poeta, imolado a tua riqueza
No cálice refervente!

Mas pra mim és sagrado, como a força da terra
Que te arrebatou, ó vítima ousada!
E seguiria para as profundezas,
Se o amor me não detivesse, o herói.



Empedokles

Das Leben suchst du, suchst, und es quillt und glänzt
Ein göttlich Feuer tief aus der Erde dir,
Und du in schauderndem Verlangen
Wirfst dich hinab, in des Ätna Flammen.

So schmelzt' im Weine Perlen der Übermut
Der Königin; und mochte sie doch! hättest du
Nur deinen Reichtum nicht, o Dichter,
Hin in den gärenden Kelch geopfert!

Doch heilig bist du mir, wie der Erde Macht,
Die dich hinwegnahm, kühner Getöteter!
Und folgen möcht ich in die Tiefe,
Hielte die Liebe mich nicht, dem Helden.




HÖLDERLIN, Friedrich. Poemas. Selecção e tradução de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959.





28.11.10

O construtivismo brasileiro



O seguinte artigo foi publicado na minha coluna da "Ilustrada", da Folha de São Paulo, no sábado, 27 de novembro.




O construtivismo brasileiro

HÁ POUCOS dias li, não me lembro mais onde, que na verdade De Gaulle (1890-1970) jamais declarou que o Brasil não era um país sério. Por outro lado, parece confirmado que seu compatriota Lévi-Strauss (1908-2009) chegou mesmo a dizer que "o Brasil é um país surrealista". Frequentemente ouço brasileiros afirmarem o mesmo que o antropólogo francês. Talvez tenham razão; mas quiçá seja exatamente por isso que, em comparação com o que ocorreu em Portugal, na Espanha ou na França, por exemplo, o surrealismo tenha vingado relativamente pouco nas artes brasileiras.

É que, como observa o poeta alemão Friedrich Hölderlin (1770-1843), nada aprendemos com maior dificuldade do que a usar livremente o que nos é natural. Afinal, não é a arte precisamente o oposto da natureza, como o artificial, do natural?

Tendo isso em mente, lembremo-nos também de que certo clichê bem representado, por exemplo, em filmes de Hollywood de algumas décadas atrás, faz do homem tropical um mero escravo da natureza circundante, dos vícios ou das paixões que ela lhe impõe, reduzindo-o à indolência e à passividade. Se Hölderlin tem razão, não será exatamente por isso – CONTRA tal pretenso destino – que Hélio Oiticica (1937-1980), por exemplo, dizia sentir no âmago da alma brasileira uma "vontade construtiva geral"?

Se eu estiver certo, o sentido mais profundo do uso da palavra "tropicália" feito por Oiticica e, em seguida, pelo movimento musical liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil terá sido o de promover a reversão e/ou ironizar tal concepção estereotipada dos trópicos. De todo modo, é claro que o construtivismo brasileiro não poderia deixar de se opor tanto à submissão à natureza quanto ao surrealismo.

Com efeito, a arte brasileira e moderna canônica, em particular a partir da segunda metade do século 20 – desde a epopeia glauberiana do cinema novo à decantação joão-gilbertiana do samba e da bossa nova; desde o plano piloto dos arquitetos da visão e loucura de Brasília ao plano piloto dos poetas concretistas dos campos e espaços de São Paulo; desde a psicologia da composição de João Cabral aos relevos espaciais de Oiticica; desde os bichos geométricos de Lygia Clark ao filme "O Cinema Falado" (1986), de Caetano Veloso etc. –, tudo parece confirmar a "vontade construtiva geral".

O artista brasileiro moderno tende a desconfiar do dado imediato, isto é, do lugar da natureza, da cultura, da história em que os outros querem situá-lo no mundo. Entende-se: o dado, aquilo que é constituído pelo passado natural e cultural, é no Brasil tomado principalmente como o tempo do subdesenvolvimento, da dependência cultural, política e econômica, e da escravatura. É da reação contra essa situação que surge a tendência construtiva de quase toda a nossa melhor arte. Nesse processo, não é o Brasil do passado que determina o Brasil moderno. Ao contrário: é o Brasil moderno que reinventa o Brasil do passado. Também nesse sentido tinha razão o crítico Mário Pedrosa (1900-1981), ligado a artistas de vanguarda como Ferreira Gullar, Lygia Clark e Hélio Oiticica, quando sentenciou que "o Brasil é um país condenado ao moderno".

Para o artista brasileiro, pensar sobre o Brasil – pensar o Brasil – não pode deixar de ser reinventá-lo. E creio que grande parte dos artistas modernos, os vários modernismos desde 22, o concretismo, o neoconcretismo, a bossa nova, o tropicalismo e os artistas contemporâneos sempre se encontraram nessa mesma situação ante a tarefa da inventio Brasilis: da descoberta-invenção do Brasil.

18.3.10

Friedrich Hölderlin: "Hälfte des Lebens" / "Metade da vida": trad. de Manuel Bandeira




Metade da vida


Peras amarelas
E rosas silvestres
Da paisagem sobre a
Lagoa.

Ó cisnes graciosos,
Bêbedos de beijos,
Enfiando a cabeça
Na água santa e sóbria!

Ai de mim, aonde, se
É inverno agora, achar as
Flores? E aonde
O calor do sol
E a sombra da terra?
Os muros avultam
Mudos e frios; à fria nortada
Rangem os cata-ventos.



Hälfte des Lebens


Mit gelben Birnen hänget
Und voll mit wilden Rosen
Das Land in den See,
Ihr holden Schwäne,
Und trunken von Küssen
Tunkt ihr das Haupt
Ins heilignüchterne Wasser.

Weh mir, wo nehm ich, wenn
Es Winter ist, die Blumen, und wo
Den Sonnenschein,
Und Schatten der Erde?
Die Mauern stehn
Sprachlos und kalt, im Winde
Klirren die Fahnen.



HÖLDERLIN, Friedrich. Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser
Verlag, 1970.

Tradução:
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.

23.1.10

Friedrich Hölderlin: "Sonnenuntergang" / "Pôr de sol": tradução de Manuel Bandeira




Pôr de Sol

Onde estás? A alma anoitece-me bêbeda
De todas as tuas delícias; um momento
Escutei o sol, amorável adolescente,
Tirar da lira celeste as notas de ouro do seu [canto da noite.

Ecoavam ao redor os bosques e as colinas;
Ele no entanto já ia longe, levando a luz
A gentes mais devotas
Que o honram ainda.


Sonnenuntergang

Wo bist du? trunken dämmert die Seele mir
Von aller deiner Wonne; denn eben ist's,
Dass ich gelauscht, wie, goldner Tone
Voll, der entzückende Sonnenjüngling

Sein Abendlied af himmlischer Leier spielt’;
Es tönten rings die Wälder und Hügel nach.
Doch fern ist er zu frommen Völkern,
Die ihn noch ehren, hinweggegangen.


HÖLDERLIN, Friedrich. "Gedichte 1796-1799". Sämtliche Werke und Briefe. München: Carl Hanser, 1970.

Tradução:
BANDEIRA, Manuel. "Poemas traduzidos". Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.

2.4.08

Hölderlin: "An die Parzen"

Um poema de Hölderlin, seguido da sua tradução por Manuel Bandeira:



AN DIE PARZEN

Nur Einen Sommer gönnt, ihr Gewaltigen!
Und einen Herbst zu reifem Gesange mir,
Daß williger mein Herz, vom süßen
Spiele gesättiget, dann mir sterbe.


Die Seele, der im Leben ihr göttlich Recht
Nicht ward, sie ruht auch drunten im Orkus nicht;
Doch ist mir einst das Heilige, das am
Herzen mir liegt, das Gedicht, gelungen,


Willkommen dann, o Stille der Schattenwelt!
Zufrieden bin ich, wenn auch mein Saitenspiel
Mich nicht hinabgeleitet; Einmal
Lebt ich, wie Götter, und mehr bedarfs nicht.



ÀS PARCAS

Mais um verão, mais um outono, ó Parcas,
Para amadurecimento do meu canto
Peço me concedais. Então, saciado
Do doce jogo, o coração me morra.

Não sossegará no Orco a alma que em vida
Não teve a sua parte de divino.
Mas se em meu coração acontecesse
O sagrado, o que importa, o poema, um dia:

Teu silêncio entrarei, mundo das sombras,
Contente, ainda que as notas do meu canto
Não me acompanhem, que uma vez ao menos
Como os deuses vivi, nem mais desejo.