9.7.17

Hölderlin: "Da ich ein Knabe war..." / "Quando era menino": trad. de Paulo Quintela


Quando era menino...

   Quando era menino,
      Salvou-me um deus muita vez
        Da gritaria e dos açoites dos homens,
           E então brincava seguro e bem
             Com as flores do bosque,
                E as brisas do céu
                  Brincavam comigo.

E assim como alegras
O coração das plantas,
Quando elas te estendem
Os braços tenros,

Assim me alegraste o coração,
Pai Hélios! e, como Endymion,
Era eu o teu amado,
Lua sagrada!

Ó vós todos, fiéis,
Amigos deuses!
Se vós soubésseis
Como a minha alma vos amou!

É verdade que então vos não chamava
Ainda pelos nomes, e vós também
Nunca me nomeáveis, como os homens se nomeiam,
Como se se conhecessem.

Mas conhecia-vos melhor
Do que jamais conheci os homens;
Entendia o silêncio do Éter;
Palavras dos homens nunca as entendi.

A mim criou-me a harmonia
Do bosque sussurrante
E aprendi a amar
Entre as flores.
Foi nos braços dos deuses que eu cresci.



Da ich ein Knabe war...

    Da ich ein Knabe war,
      Rettet' ein Gott mich oft
        Vom Geschrei und der Rute der Menschen,
          Da spielt ich sicher und gut
            Mit den Blumen des Hains,
              Und die Lüftchen des Himmels
                Spielten mit mir.

    Und wie du das Herz
    Der Pflanzen erfreust,
    Wenn sie entgegen dir
    Die zarten Arme strecken,

    So hast du mein Herz erfreut,
    Vater Helios! und, wie Endymion,
    War ich dein Liebling,
    Heilige Luna!

    O all ihr treuen
    Freundlichen Götter!
    Daß ihr wüßtet,
    Wie euch meine Seele geliebt!

    Zwar damals rief ich noch nicht
Euch mit Namen, auch ihr
    Nanntet mich nie, wie die Menschen sich nennen,
    Als kennten sie sich.

    Doch kannt ich euch besser,
    Als ich je die Menschen gekannt,
    Ich verstand die Stille des Aethers,
    Der Menschen Worte verstand ich nie.

    Mich erzog der Wohllaut
    Des säuselnden Hains
    Und lieben lernt ich
    Unter den Blumen.

    Im Arme der Götter wuchs ich groß.


HÖLDERLIN, Friedrich. "Da ich ein Knabe war..." / "Quando era menino...". In_____. Hölderlin: poemas. Org. e trad. de Paulo Quintela. Coimbra: Atlântida, 1959. 



2 comentários:

Unknown disse...

Que belo poema. Muito obrigado por essa pérola, como sempre, Antônio Cícero.

A propósito, li hoje um artigo na Folha sobre seu livro de ensaios, recém publicado pela Companhia das Letras. Bom saber que o Hölderlin encontra-se entre os poetas/artistas estudados, já que desconheço completamenmente sua obra poética, salvo uma ou outra alusão nos livros do Nietzche e nos estudos sobre o romantismo feitos pelo Isaiah Berlin.

Se me permite a pergunta, por acaso você leu o ensaio "Ódio à poesia", publicado na última edição da revista serrote? Estou curioso para lê-lo. Quero me nutrir cada vez mais de poesia - e seu site foi uma das grandes descobertas que fiz recentemente na internet.

Um abraço afetuoso.

Ramon Rossi.

Antonio Cicero disse...

Caro Ramon,

Que bom que você gostou do poema do Hölderlin!

Não, não li o ensaio "Ódio à poesia". Vou procurá-lo.

Abraço