Mostrando postagens com marcador Carlos Cardoso. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Carlos Cardoso. Mostrar todas as postagens

28.3.21

Carlos Cardoso: "Espanto"

 



 Espanto



Releio os meus versos

e me aterrorizo com o que faço.


Como pude escrevê-los?


Como me deixei expor

como um quadro na parede

em diferentes formas de estar ali

no plano

e sublinhado por tudo que é subjetivo?


Vontade de voltar a ser criança

e brincar de pique-esconde e lambuzar-me

de mariola e rapadura derretida,


por baixo da cama

jogar as folhas de papel,

doar minha lapiseira

a uma entidade filantrópica

e guardar tudo que sou,


deixar os meus rastros contados, 

fotografados e mostrados 

somente para minha memória,


e no espanto me desintegrar.





CARDOSO, Carlos. "Espanto". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.

17.10.20

Carlos Cardoso: "Cavalos marinhos"

 



Cavalos-marinhos



Há na palma de minha mão

um cavalo-marinho.


No fundo do que sou

mergulho

em raras profundezas.


Talvez assim entenda

que viver

não é acordar após dormir

e que não há maior beleza

que a solidão

e o fechar os olhos e partir.


Vejo que são rasas as pessoas

pelas partículas que vejo.


Se assim creio, assim crio

nesse mar selvagem

e apenas sumo

entre os redemoinhos

e os cavalos-marinhos


entre ondas

que abrigam e afogam

para dentro me jogam

me deixando lá.





CARDOSO, Carlos. "Cavalos marinhos". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.

24.5.20

Carlos Cardoso: "Folhas secas"




Folhas secas


Folhas desabam de seus galhos
lentas e suaves tocam o chão,

folhas secas tão próprias
que paro e observo a mudança
do tom e do tempo a serem tomados
por sua beleza.

Certeza, nenhuma.

Estilhaços de suposições,
vários.

Essa é a rua que habito
lindas árvores
mar batendo nas pedras
folhas e silêncio a me intrigarem
decifram a beleza
em sua possível morte.

Mar batendo
nas pedras ao norte.





CARDOSO, Carlos. "Folhas secas". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.

29.10.19

Lançamento de "Melancolia", de Carlos Cardoso


Hoje é o lançamento em São Paulo do belo livro de poemas de Carlos Cardoso, Melancolia. Às 19h, Carlos Cardoso, Antonio Carlos Secchin e eu apresentaremos Melancolia, na Livraria da Vila.



17.9.19

Carlos Cardoso: "O passado"




O passado

Passadas as horas ficou o passado
e o vago que é a lagoa Rodrigo de Freitas
e seus peixes mortos a boiarem.

É nele que me fixo.

O passado é fonte de riqueza
é nele que busco o saber
é nele que encontro o que busco,

o passado é mais hoje que o presente
que quando ausente
é no passado que eu volto.

O futuro que vejo é refém do passado que eu sei,

como uma couve que brota do seu broto
como uma árvore que um dia foi semente,

o passado é melancolia,
e de repente

isso é tudo o que eu queria.





CARDOSO, Carlos."O passado". In:_____. Melancolia. Rio de Janeiro: Record, 2019.

30.11.17

Carlos Cardoso: "O bonde do silêncio"



O bonde do silêncio


Já é noite e o bonde do silêncio
permanece intacto.

Nas ruas as pessoas observam os
pássaros a sobrevoarem as
correntezas.

E tudo permanece intacto.

Os amantes, os Deuses, as estátuas.

Só a poesia perambula.

Acaso os versos caminham ágeis e
desapercebidos.

E tudo permanece intacto.



CARDOSO, Carlos. "O bonde do silêncio". In:_____. Na pureza do sacrilégio. Cotia: Atelier, 2017.