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9.1.22

José Gomes Ferreira: "LXIV: Sim, a morte vazia"

 



LXIV


Sim, a morte vazia,

sem anjos na paisagem,

nem a dor duma estrela

no silêncio medonho.


Só a morte vazia

e esta coragem 

de não querer enchê-la

de sonho.





FERREIRA, José Gomes. “LXIV: Sim, a morte vazia”. In: REIS-SÁ, Jorge; LAGE, Rui. Poemas portugueses: Antologia da poesia portuguesa do Séc. XIII ao Séc XXI. Porto: Porto Editora, 2009.


23.6.19

José Gomes Ferreira: "Menino que vais na rua"




Menino que vais na rua

                   (Serenata cínica para o Bettencourt cantar:)


Menino que vais na rua,
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na Lua
e aprende a pisar a Terra.


Aprende a pisar o Mundo.
Deixa a Lua aos violinos
dos olhos dos vagabundos
e dos poetas caninos.


Aprende a pisar a vida.
Deixa a Lua às costureiras
–  pobre moeda caída
de quem não tem algibeiras.


Aprende a pisar no chão
o silêncio do luar
sem sentir no coração
outras pedras a gritar.


Pisa a Lua sem remorsos,
estatelada no solo...
Não hesites! Quebra os ossos
dessa criança de colo.


Pisa-a, frio, com coragem,
sem olhos de serenata:
que isso que vês na paisagem
não é ouro nem é prata.


Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou, então, salta pra Lua
e mija de lá na Terra.




FERREIRA, José Gomes. "Menino que vais na rua". In:_____. Poesias II. Lisboa: Portugália Editora, 1972.