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7.12.21

Jacques Prévert: "Le temps perdu" / "O tempo perdido". trad. por Silviano Santiago

 



O tempo perdido


Diante do portão da fábrica

o operário de repente para

o dia lindo agarrou-o pelo paletó

e como ele se volta

e olha o sol

vermelhinho redondinho

sorrindo no céu de chumbo

pisca-lhe o olho

familiarmente

Pois é camarada Sol

você não acha

que é babaquice

dar um dia destes 

para um patrão?





Le temps perdu



Devant la porte de l'usine

le travailleur soudain s'arrête

le beau temps l'a tiré par la veste

et comme il se retourne

et regarde le soleil

tout rouge tout rond

souriant dans son ciel de plomb

il cligne de l'œil

familièrement

Dis donc camarade Soleil

tu ne trouves pas

que c'est plutôt con

de donner une journée pareille

à un patron ?








PRÉVERT, Jacques. "Le temps perdu" / "O tempo perdido". In: PRÉVERT,  Jacques. Poemas.. Org. e trad. por Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.


7.10.21

Jacques Prévert: "La brouette ou les grandes inventions" / "O carrinho de mão ou as grandes invenções": trad. por Silviano Santiago

 



O carrinho de mão ou as grndes invenções


O pavão abre o leque

o acaso faz o resto

Deus toma assento

e o homem empurra.






La brouette ou les grandes inventions


Le paon fait la roue

le hasard fait le reste

Dieu s'assoit dedans

et l'homme le pousse.





PRÉVERT, Jacques. "La brouette ou les grandes inventions" / "O carrinho de mão ou as grandes invenções". In:_____ Poemas. Org. e trad. por Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

16.11.19

Jacques Prévert: "Le grand homme" / "O grande homem": trad. de Silviano Santiago




O grande homem


No ateliê do talhador de pedra

onde o encontrei

lhe tiravam medidas

para a posteridade.






Le grand homme


Chez un tailleur de pierre

où je l’ai rencontré

il faisait prendre ses mesures

pour la postérité






PRÉVERT, Jacques. "Le grand homme" / "O grande homem". In:_____. Poemas. Trad. de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

7.9.19

Jacques Prévert: "Le discours sur la paix" / "Discurso sobre a paz": trad. de Silviano Santiago




Discurso sobre a paz

Já no final de um discurso extremamente importante
o grande homem de Estado engasgando
com uma bela frase oca
escorrega
e desamparado com a boca escancarada
sem fôlego
mostra os dentes
e a cárie dentária dos seus pacíficos raciocínios
deixa exposto o nervo da guerra:
a delicada questão do dinheiro.






Le discours sur la paix

Vers la fin d'un discours extrêmement important
le grand homme d'Etat trébuchant
sur une belle phrase creuse
tombe dedans
et désemparé la bouche grande ouverte
haletant
montre les dents
et la carie dentaire de ses pacifiques raisonnements
met à vif le nerf de la guerre
la délicate question d'argent.




PRÉVERT, Jacques. "Le discours sur la paix" / "Discurso sobre a paz". In:_____. Poemas. Seleção e tradução por Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

21.9.18

Jacques Prévert: "Le bonheur des uns" / "A felicidade de uns": trad. de Silviano Santiago





A felicidade de uns

Peixes amigos amados
Amantes dos que foram pescados em tamanha quantidade
Vocês assistiram a essa calamidade
A esta coisa horrível
A esta coisa terrível
A este tremor de terra
A pesca milagrosa
Peixes amigos amados
Amantes dos que foram pescados em tamanha quantidade
Dos que foram pescados cozidos comidos
Peixes... peixes... peixes...
Como vocês devem ter rido
No dia da crucificação.




Le bonheur des uns

Poissons amis aimés
Amants de ceux qui furent pêches en si grande quantité
Vous avez assisté à cette calamité
A cette chose horrible
A cette chose affreuse
A ce tremblement de terre
La pêche miraculeuse
Poissons amis aimés
Amants de ceux qui furent pêches en si grande quantité
De ceux qui furent péchés ébouillantés mangés
Poissons... poissons... poissons...
Comme vous avez dû rire
Le jour de la crucifixion.




PRÉVERT, Jacques. Poemas. Seleção e tradução de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

1.5.18

Jacques Prévert: "Quand..." / "Quando...": trad. de Silviano Santiago



Quando...

Quando o leãozinho almoça
a leoa rejuvenesce
Quando o fogo exige a sua parte
a terra enrubesce
Quando a morte lhe fala do amor
a vida estremece
Quando a vida lhe fala da morte
o amor sorri.




Quand...

Quand le lionceau déjeune
la lionne rajeunit
Quand le feu réclame sa part
la terre rougit
Quand la mort lui parle de l’amour
la vie frémit
Quand la vie lui parle de la mort
l’amour sourit.





PRÉVERT, Jacques. "Quand..."/"Quando". In:_____. Poemas. Seleção e trad. de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

12.4.17

Jacques Prévert: "Le cancre" / "Juquinha": trad. de Silviano Santiago


Le cancre

Il dit non avec la tête
mais il dit oui avec le cœur
il dit oui à ce qu’il aime
il dit non au professeur
il est debout
on le questionne
et tous les problèmes sont posés
soudain le fou rire le prend
et il efface tout
les chiffres et les mots
les dates et les noms
les phrases et les pièges
et malgré les menaces du maître
sous les huées des enfants prodiges
avec des craies de toutes les couleurs
sur le tableau noir du malheur
il dessine le visage du bonheur.



Juquinha

Diz não com a cabeça
diz sim com o coração
diz sim ao que ama
diz não ao professor
está de pé
sendo arguído
e todas as perguntas lhe são feitas
de repente morre de rir
e apaga tudo
os números e as palavras
as datas e os nomes
as frases e as armadilhas
e apesar das ameaças do professor
debaixo da vaia dos meninos prodígios
no quadro- negro da desgraça
com giz de todas as cores
desenha o rosto da felicidade.




PRÉVERT, Jacques. "Le cancre" / "Juquinha". Poemas. Seleção e tradução de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

1.11.16

Jacques Prévert: "Le météore" / "O meteoro": trad. de Silviano Santiago




Le météore

Entre les barreaux des locaux disciplinaires
une orange
passe comme un éclair
et tombe dans la tinette
comme une pierre
Et le prisonnier
tout éclaboussé de merde
resplendit
tout illuminé de joie
Elle ne m'a pas oublié
Elle pense toujours à moi.



O meteoro

Por entre as grades do edifício penitenciário
uma laranja
passa como um raio
e vai cair no vaso
como uma pedra
E o prisioneiro
todo sujo de merda
resplandece
todo iluminado de alegria
Ela não me esqueceu
Continua pensando em mim.



PRÉVERT, Jacques. "Le météore" / "O meteoro". In:_____. Poemas. Seleção e tradução de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

4.3.16

Jacques Prévert: "Le tendre et dangereux visage de l'amour" / "O terno e perigoso rosto do amor": trad. de Silviano Santiago




O terno e perigoso rosto do amor

O terno e perigoso
rosto do amor
me apareceu numa noite
depois de um dia muito comprido
Talvez fosse um arqueiro
com seu arco
ou ainda um músico
com sua harpa
Não me lembro mais
Nada mais sei
Tudo o que sei
é que ele me feriu
talvez com uma flecha
talvez com uma canção
Tudo o que sei
é que me feriu
feriu aqui no coração
e para sempre
Ardente muito ardente
ferida do amor.




Le tendre et dangereux visage de l’amour

Le tendre et dangereux 
visage de l'amour 
m'est apparu un soir 
après un trop long jour 
C'était peut-être un archer 
avec son arc 
ou bien un musicien 
avec sa harpe 
Je ne sais plus 
Je ne sais rien 
Tout ce que je sais 
c'est qu'il m'a blessée 
peut-être avec une flèche 
peut-être avec une chanson 
Tout ce que je sais 
c'est qu'il m'a blessée 
blessée au coeur 
et pour toujours 
Brûlante trop brûlante 
blessure de l'amour.




PRÉVERT, Jacques. "Le tendre et dangereux visage de l'amour"/"O terno e perigoso rosto do amor". In:_____. Poemas. Seleção, organização e tradução por Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

20.10.10

Jacques Prévert: "Tant de forêts..." / "Tantas florestas": tradução de Silviano Santiago




Tantas florestas...

Tantas florestas arrancadas da terra
e massacradas
arrasadas
rotativadas

Tantas florestas sacrificadas para virar pasta
                                        de papel
milhares de jornais chamando anualmente a atenção dos leitores para os perigos do desmatamento dos bosques e das florestas.


Tant de forêts...

Tant de forêts arrachées à la terre
Et massacrées
Achevées
Rotativées

Tant de forêts sacrifiées pour la pâte à papier
des milliards de journaux attirant annuellement l´attention des lecteurs sur les dangers du déboisement des bois et des forêts


PRÉVERT, Jacques. Poemas. Introdução, seleção e tradução dos poemas por SANTIAGO, Silviano. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.