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19.2.20

Anna Akhmatova: "Поет" / "Poeta": trad. por Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev




Poeta


Tal coisa um trabalho, supões tu -
Descuidadosa maneira de viver:
Ouvir algo da música às ocultas
E dá-lo brincando como seu.

Como scherzo divertido de alguém
Em quaisquer versos colocado,
Jurar que um pobre coração
Assim geme entre o brilho das searas.

E depois ouvir o bosque às ocultas,
Os pinheiros com ar de poucas falas,
Por enquanto uma cortina de fumo
Da neblina por todo o lado.

Colho de um lugar ao outro,
E até, sem sentimento de culpa,
Um pouco de vida ardilosa,
E tudo - do silêncio noturno.






Поет


Подумаешь, тоже работа, —
Беспечное это житьё:
Подслушать у музыки что-то
И выдать шутя за своё.

И, чьё-то весёлое скерцо
В какие-то строки вложив,
Поклясться, что бедное сердце
Так стонет средь блещущих нив.

А после подслушать у леса,
У сосен, молчальниц на вид,
Пока дымовая завеса
Тумана повсюду стоит.

Налево беру и направо,
И даже, без чувства вины,
Немного у жизни лукавой,
И всё — у ночной тишины.





AKHMATOVA, Anna. "Поет" / "Poeta". In:_____. Poemas. Trad. por Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev. Lisboa: Relógio D'Água, 2003.

8.3.19

Anna Akhmatova: "Творчество" / "A criação": trad. por Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev




A criação

Acontece deste modo: uma certa languidez;
No ouvido não se calam as pancadas dos relógios;
Ao longe diminui o estrondo do trovão.
E vislumbram-se queixas e gemidos
De aprisionadas vozes que não se reconhecem.
Um certo círculo secreto estreita-se,
Mas nesse abismo de badaladas e murmúrios
Levanta-se um som que tudo venceu.
É tal o silêncio irreparável em seu redor
Que se escuta como no bosque cresce a erva,
Como anda pela terra o mal com um alforge…
Mas as palavras começaram já a ouvir-se
E das rimas leves os tinidos de sinalização,  –
É quando eu começo a compreender,
E de modo simples as linhas ditadas
Deitam-se no caderno branco de neve.





Творчество (1936)

Бывает так: какая-то истома;
В ушах не умолкает бой часов;
Вдали раскат стихающего грома.
Неузнанных и пленных голосов
Мне чудятся и жалобы и стоны,
Сужается какой-то тайный круг,
Но в этой бездне шепотов и звонов
Встает один, все победивший звук.
Так вкруг него непоправимо тихо,
Что слышно, как в лесу растет трава,
Как по земле идет с котомкой лихо...
Но вот уже послышались слова
И легких рифм сигнальные звоночки, -
Тогда я начинаю понимать,
И просто продиктованные строчки
Ложатся в белоснежную тетрадь.





AKHMATOVA, Anna. "Творчество"/"A criação". In:_____. Poemas. Trad. por Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev. Lisboa: Relógio D'Água Editores, 2003.

17.6.17

Anna Akhmatova: "Я пришла к поэту в гости" / "Cheguei de visita ao poeta": trad. de Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev



Cheguei de visita ao poeta

                                          Para Alexandre Blok

Cheguei de visita ao poeta.
Meio-dia em ponto. Domingo.
Silêncio na ampla sala,
Além das janelas frio

E um sol cor de framboesa
Sobre farrapos gris de fumo...
E o dono olha calado
Para mim limpidamente!

São tais os olhos que tem
Que ninguém os deve esquecer,
Para mim é melhor, à cautela,
De modo algum os fitar.

Mas será lembrado o diálogo,
O dia fumoso, o domingo
Na casa alta e cinzenta

Às portas de mar do Neva.



Я пришла к поэту в гости.

                                            Александру Блоку

Я пришла к поэту в гости.
Ровно полдень. Воскресенье.
Тихо в комнате просторной,
А за окнами мороз.

И малиновое солнце
Над лохматым сизым дымом...
Как хозяин молчаливый
Ясно смотрит на меня.

У него глаза такие,
Что запомнить каждый должен,
Мне же лучше, осторожной,
В них и вовсе не глядеть.

Но запомнится беседа,
Дымный полдень, воскресенье,
В доме сером и высоком

У морских ворот Невы.


AKHMATOVA, Anna. "Я пришла к поэту в гости" / "Cheguei de visita ao poeta". Trad.: Joaquim Manuel Magalhães e Vadim Dmitriev. In:_____. Poemas. Lisboa: Relógio d'Água, 2003.