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15.11.21

Dante Milano: "Ao tempo"

 



Ao tempo



Tempo, vais para trás ou para diante?

O passado carrega a minha vida

Para trás e eu de mim fiquei distante,


Ou existir é uma contínua ida

E eu me persigo nunca me alcançando?

A hora da despedida é a da partida


A um tempo aproximando e distanciando...

Sem saber de onde vens e aonde irás,

Andando andando andando andando andando


Tempo, vais para diante ou para trás?






MILANO, Dante. "Ao tempo". In:Os melhores poemas de Dante Milano. Org. por Ivan Junqueira. São Paulo: Global, 1998.

5.9.21

Dante Milano: "Saudade do tempo"

 



Saudade do tempo



Saudade do tempo

Do tempo passado,

O tempo feliz

Que não volta mais.


Deus queira que um dia

Eu encontre ainda

Aquela inocência

Feliz sem saber.


Mas hoje que eu sei

De toda a verdade

Já não acredito

Na felicidade,


E quando eu morrer

Então outra vez

Pode ser que eu seja

Feliz sem saber.






MILANO, Dante. "Saudade do tempo". In: BANDEIRA, Manuel. Apresentação da poesia brasileira: seguida de uma antologia. São Paulo: Cosac Naify, 2009.

11.10.15

Dante Milano: "Descobrimento da poesia"




Descobrimento da poesia

Quero escrever sem pensar.
Que um verso consolador
Venha vindo impressentido
Como o princípio do amor.

Quero escrever sem saber,
Sem saber o que dizer,
Quero escrever urna coisa
Que não se possa entender,

Mas que tenha um ar de graça,
De pureza, de inocência,
De doçura na desgraça,
De descanso na inconsciência.

Sinto que a arte já me cansa
E só me resta a esperança
De me esquecer do que sou
E tornar a ser criança.



MILANO, Dante. "Descobrimento da poesia". In:_____. "Algumas canções". In:_____. Poesias. Rio de Janeiro: Editora Sabiá / Instituto Nacional do Livro - MEC, 1971.

9.1.12

Dante Milano: "Sentir aceso dentro da cabeça"




Sentir aceso dentro da cabeça

Sentir aceso dentro da cabeça
Um pensamento quase que divino,
Como raio de luz frágil e fino
Que num cárcere escuro resplandeça.
Seguir-lhe o rastro branco em noite espessa,
Ter de uma inútil glória o vão destino,
Ser de si mesmo vítima e assassino,
Tentar o máximo, ainda que enlouqueça.
Provar palavras de sabor impuro
Que a boca morde e cospe porque é suja
A água que bebe e o pão que come é duro,
E deixar sobre a página da vida
Um verso — essa terrível garatuja
Que parece um bilhete de suicida.



MILANO, Dante. "Sonetos e fragmentos". In: MARTAGÃO, Sérgio (org.)._____. Obra reunida. Apresentação de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2004.

25.8.10

Dante Milano: "O beco"




O beco


No beco escuro e noturno
Vem um gato rente ao muro.
Os passos são de gatuno.
Os olhos são de assassino.

Esgueirando-se, soturno,
Ele me fita no escuro.
Seus passos são de gatuno.
Seus olhos são de assassino.

Afasta-se, taciturno.
Espanta-o o meu vulto obscuro.
Meus passos são de gatuno.
Meus olhos são de assassino.



MILANO, Dante. Poesias. Rio de Janeiro: Sabiá, 1971.