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3.2.16

André Luiz Pinto: "Prazer, esse sou eu"




Prazer, esse sou eu
filho de doméstica
numa época em que
patrões cismavam
em chamar de filhas
as mucamas. Eu
criado numa mansão
da Barra, obrigado a amar
patrões como avós
sem direito de herança.
Uma coisa aprendi:
a ler livros e a me irritar
com facilidade – lá, onde
o sinal está vermelho
e sempre acabo errando
a baliza – onde ninguém
divide nada, quando
até quem te chamou de sobrinho
diz um dia: a casa é nossa
deves partir. Tá bom, disse.
Só me dá duas semanas”



PINTO, André Luiz. "Prazer, esse sou eu". In:_____. Mas valia. Rio de Janeiro: Megamini, 2016.

21.6.13

André Luiz Pinto: "sem título"






sem título


Sem sonho
e sem castigo
chora chora crocodilo

no sofá de madrugada.
Ontem não foi feliz.
O dia sangrava

contra o sol.
Provou que é só garganta.
E não há o que fazer

senão assistir
se está fora
de perigo

se
à promessa
de leite

e mel
vou beber
de canudinho.

Essa é a ausência
que guardo
nas mãos.

Essas são
as esporas.
Ninguém lhe trará rosas.

Você está
a um passo
do paraíso

e o melhor é dar as costas
ante o que há
de fogo

e combustão
a cada sentença
de manhã.




PINTO, André Luiz. terno novo. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2012.

29.6.07

André Luiz Pinto: A cidade comove

Eis o primeiro e belo poema do novo livro de André Luiz Pinto, Ao léu:


I

A cidade comove, risível quanto
o mar qual o sentido da
palavra risível onde as casas
se amotinam sob a grossa poeira?

Onde minha mãe nascera
minha avó morrera
o subúrbio não se cansa de dizer
mais esquecido que o nordeste.

Escrever é proibido, artistas vivem
de pagode, bate aqui no peito
a ruína de quem cedo
aprendeu a ler e eu não devia.

Tudo isso contado junto
enquanto os vagões
desandam por entre os bairros
poderia ser Nova Iorque.

Madureira, matadouro de homens,
dos secos e molhados
nas praças e nos
congados, de nossas vítimas.



PINTO, André Luiz. Ao léu. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2007