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2.11.22

Régis Bonvicino: "Suor"

 



Suor



O mar o mormaço o meio-dia

um cão se delicia

nas ondas do mar

verde, a mata


verde avança

no rochedo

o esqueleto de um peixe 

na areia da praia


a brisa

o que tenho a dizer?

o que ela diz


o rouco marulho das ondas

sim 

e nada além de ser





BONVICINO,  Régis. "Suor". In: Até agora: poemas reunidos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.

21.6.21

Régis Bonvicino: "Suor"

 



Suor

 


O mar o mormaço o meio-dia

um cão se delicia

nas ondas do mar

verde, a mata


verde avança

no rochedo

o esqueleto de um peixe

na areia da praia


a brisa

o que tenho a dizer?

o que ela diz

 

o rouco marulho das ondas

sim

e nada além de ser



                                                                              Trindade,       1/2003       



BONVICINO, Régis. "Suor". In:_____. "Remorso do cosmos (de ter vindo ao sol). In:_____. Até agora: poemas reunidos. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.


8.8.17

Jules Laforgue: "Complainte de la bonne défunte" / "Lamento da boa defunta": trad. de Régis Bonvicino




Lamento da boa defunta

Pela avenida ela fugia,
Iluminada eu a seguia,
Adivinhei! O olho dizia,
Hélas! Eu a reconhecia!

Iluminada eu a seguia,
Boca ingênua, nada via,
Oh! sim eu a reconhecia,
Ou sonhaborto ela seria?

Boca murcha, olho-fantasia;
Branco cravo, azul esvaía;
O sonhaborto amanhecia!
Ela em morta se convertia.

Jaz, cravo, de azul esvaía,
A vida humana prosseguia
Sem ti, defunta em demasia.
– Oh! já em casa, boca vazia!

Claro, eu não a conhecia.




Complainte de la bonne défunte

Elle fuyait par l'avenue,
Je la suivais illuminé,
Ses yeux disaient : " J'ai deviné
Hélas! que tu m'as reconnue ! "

Je la suivis illuminé !
Yeux désolés, bouche ingénue,
Pourquoi l'avais-je reconnue,
Elle, loyal rêve mort-né ?

Yeux trop mûrs, mais bouche ingénue ;
Oeillet blanc, d'azur trop veiné ;
Oh ! oui, rien qu'un rêve mort-né,
Car, défunte elle est devenue.

Gis, oeillet, d'azur trop veiné,
La vie humaine continue
Sans toi, défunte devenue.
- Oh ! je rentrerai sans dîner !

Vrai, je ne l'ai jamais connue.




LAFORGUE, Jules. "Complainte de la bonne défunte" / "Lamento da boa defunda". In:_____. Litanias da lua. Org. e trad. de Régis Bonvicino. São Paulo: Iluminuras, 1989. 

31.7.16

Régis Bonvicino: "Estado crítico"




Estado Crítico


É o sarcófago de uma piranha
É um Tarzan míope
esmiuçando o céu azul
É o nightclub Silêncio

É um pelego: entrega Drummond
como extintor de incêndio
É a tradução de Sá-Carneiro
para o português

É Baudelaire parcelado em doze vezes
É uma babá de baratas
É um Jean Genet tratável
O atravessador passa avestruz

por Rimbaud
É a incrível banheira portátil
do apartamento onde
Maiakóvski se matou



BONVICINO, Régis. "Estado crítico". In:_____.Estado crítico. São Paulo: Hedra, 2013.

27.7.16

Régis Bonvicino: Exposição "A NOVA UTOPIA"



Quem estiver no Rio de Janeiro a partir do próximo fim-de-semana não deve perder a exposição A Nova Utopia, do poeta Régis Bonvicino, que terá sua inauguração às 19h de sábado, dia 30 de julho, no Oi Futuro Ipanema. A curadoria da exposição é de Alberto Saraiva. 

Vejam, por exemplo, a imagem do belo poema-objeto intitulado exatamente A Nova Utopia, resultado da parceria de Régis Bonvicino com o pintor Luciano Figueiredo:



















O Oi-Futuro Ipanema fica na Av. Visconde de Pirajá, 54.

20.2.16

Jules Laforgue: "Locutions des Pierrots XII" / "Locuções do Pierrot XII": trad. de Régis Bonvicino




Locuções do Pierrot XII

Mais outro livro ; ó nostalgias
Longe de todo este gentio,
Do tal dinheiro e do elogio,
Bem longe das fraseologias!

De novo um dos meus pierrots morto;
Daquele crônico orfelismo,
Coração pleno de dandismo
Lunar em um estranho corpo.

Nossos deuses se vão; sem cura,
Os dias, de mal a pior,
Já fiz o meu tempo. É melhor
Sim, entregar-se à Sinecura!



Locutions des Pierrots, XII

Encore un livre ; ô nostalgies
Loin de ces très-goujates gens,
Loin des saluts et des argents,
Loin de nos phraséologies !

Encore un de mes pierrots mort ;
Mort d'un chronique orphelinisme ;
C'était un coeur plein de dandysme
Lunaire, en un drôle de corps.

Les dieux s'en vont ; plus que des hures
Ah ! ça devient tous les jours pis ;
J'ai fait mon temps, je déguerpis
Vers l'Inclusive Sinécure !




LAFORGUE, Jules. "Locutions des Pierrots XII" / "Locuções do Pierrot XII". Trad. Régis Bonvicino. In:_____. Litanias da lua. Org. e trad. de Régis Bonvicino. São Paulo: Iluminuras, 1989.

16.12.13

Jules Laforgue: "Médiocrité" / "Mediocridade": trad. Régis Bonvicino





Mediocridade

No infinito coberto de eternas belezas,
Como átomo perdido, incerto, solitário,
Um planeta chamado Terra, dias contados,
Voa com os seus vermes sobre as profundezas.

Filhos sem cor, febris, ao jugo do trabalho,
Marchando, indiferentes ao grande mistério,
E quando um dos seus é enterrado, já sérios,
Saudam-no. Do torpor não são arrancados.

Viver, morrer, sem desconfiar da história
Do globo, sua miséria em eterna glória,
Sua agonia futura, o sol moribundo.

Vertigens de universo, todo o seu só festa!
Nada, nada, terão visto. Partem do mundo
Sem visitar sequer o seu próprio planeta.



Médiocrité

Dans l'Infini criblé d'éternelles splendeurs,
Perdu comme un atome, inconnu, solitaire,
Pour quelques jours comptés, un bloc appelé Terre
Vole avec sa vermine aux vastes profondeurs.

Ses fils, blêmes, fiévreux, sous le fouet des labeurs,
Marchent, insoucieux de l'immense mystère,
Et quand ils voient passer un des leurs qu'on enterre,
Saluent, et ne sont pas hérissés de stupeurs.

La plupart vit et meurt sans soupçonner l'histoire
Du globe, sa misère en l'éternelle gloire,
Sa future agonie au soleil moribond.

Vertiges d'univers, cieux à jamais en fête!
Rien, ils n'auront rien su. Combien même s'en vont
Sans avoir seulement visité leur planète.



LAFORGUE, Jules. Litanias da lua. Organização e tradução de Régis Bonvicino. São Paulo: Iluminuras, 1989.

23.11.10

Luciano Figueiredo: Entrevista a Régis Bonvicino, na Sibila




O artista plástico Luciano Figueiredo deu uma extraordinária entrevista ao poeta Régis Bonvicino, na Sibila. Endereço: http://www.sibila.com.br/index.php/arterisco/1704-figueiredo-reve-oiticica-torquato-e-a-tropicalia

29.10.10

Entrevista à Sibila

Está no ar a entrevista "A poesia não nasce das regras", que dei aos poetas Luis Dolhnikoff e Régis Bonvicino, da revista Sibila. O endereço é: http://www.sibila.com.br/index.php/critica/1338-a-poesia-nao-nasce-das-regras.

1.4.10

Régis Bonvicino: "Este poema"




Este poema


Este poema
não chama a atenção
é igual a milhares –
sequer por um momento

ilustra, apático, o passado
caça moscas
paga juros
não tem saco aéreo

víboras, ratos,
ladrões desprezam seu túmulo
uivam lobos de pelúcia
não tem futuro

é abelha cega com sua parelha de óculos
sua língua não é uma esponja
suas antenas farejam Drummond
não enxerga no escuro

não cria inimigos
não morre depois do ataque
não tem farpas
tolera o mundo



2009