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30.4.22

Abel Silva: "A coisa mutante"

 



A coisa mutante

 

O tempo

é coisa mutante

e o seu emissário

o Vento

lembra sempre

a todo instante

que este “sempre”

é inconstante

e o que é, já foi

ou seria

e o que vai ser

se anuncia

num passado ancestral,

que não garante alforria

do presente ou do futuro

fruto de vez ou maduro

mas ai de quem imagina

que O domina

e na ilusão,

perde o tempo da existência

por não entender a valia

do tempo

do dia a dia.





SILVA, Abel. "A coisa mutante". In_____ O caderno vermelho das manhãs. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2001.

14.11.18

Abel Silva: "O poço"



O poço

A moeda do Acaso
cai tão fundo
no Poço dos Destinos
que vivemos descolados
do viver do outro,
como num contrato de comportamento.
O milagre do viver nos entorpece.
Então a notícia da doença de um amigo,
o convite para a missa de um outro,
um susto, um alarme, uma suspeita
nos vareja no rosto uma aragem de morte.
Às vezes choramos,
ficamos desorientados
mas abrimos os olhos,
levantamos os ombros e seguimos em frente.
A gente é assim.
Como não guardo a esperança
de um encontro feliz
ao final das eras,
valorizo o tempo do aconchego,
abraço, beijo, conforto, aceito, sirvo.
Armo como posso a teia do afeto,
enquanto estamos perto
enquanto estamos vivos.





SILVA, Abel. "O poço". In:_____. Fôlego. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2018.

16.5.17

Abel Silva: "O pássaro da poesia"



O pássaro da poesia
O pássaro da poesia
soma de tanta asa
tanta pena
tanta amplidão,
é animal de grande potência
e autonomia,
os poetas, não.

Gotas de sangue eles são
nas veias do Pássaro-Mãe
e têm de cuidar de si
e do ávido bico materno
que se alimenta
dos filhos que gera.

Voa a Poesia
as grandes asas sombreando os caminhos.
O poeta vai a pé
sob olhares e zumbidos
junto a invisíveis muradas.

Sente frio
sob o sol
sente febre
e solidão.
Por onde vai os dedos apontam o vagabundo,
ele prossegue, entretanto.
É seu destino.
E ele não o troca
por nada deste mundo.



SILVA, Abel. "O pássaro da poesia" In:_____. PoemAteu. São Paulo: 7 Letras, 2011.


3.11.15

Abel Silva: "Relógio de pulso"




Relógio de pulso

O tempo me expõe suas teias
mas não num relógio de pulso
o tempo me pulsa nas veias.



SILVA, Abel. "Relógio de pulso". In:_____. O gosto dos dias. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014.

3.3.15

Abel Silva: "O mercado da fé"




O mercado da fé

Então
é isso
o que quer
a animada manada
dos sem neurônios:

um único deus
e zilhões
de demônios?



SILVA, Abel. "O mercado da fé". In:_____. O gosto dos dias. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2014.