30.11.17

Carlos Cardoso: "O bonde do silêncio"



O bonde do silêncio


Já é noite e o bonde do silêncio
permanece intacto.

Nas ruas as pessoas observam os
pássaros a sobrevoarem as
correntezas.

E tudo permanece intacto.

Os amantes, os Deuses, as estátuas.

Só a poesia perambula.

Acaso os versos caminham ágeis e
desapercebidos.

E tudo permanece intacto.



CARDOSO, Carlos. "O bonde do silêncio". In:_____. Na pureza do sacrilégio. Cotia: Atelier, 2017.


28.11.17

Wallace Stevens: "Man carrying thing" / "Homem carregando coisa": trad. de Paulo Henriques Britto



Homem carregando coisa

O poema tem que resistir à inteligência
Até quase conseguir. Exemplo:

Vulto pardo em tarde de inverno resiste
À identidade. O que ele carrega resiste

Ao sentido mais premente. Aceite-os, pois,
Como secundários (partes semipercebidas

Do todo óbvio, partículas incertas
Do sólido certo, primário indubitável,

Coisas a flutuar como os cem primeiros flocos
Da nevasca que há que suportar a noite inteira,

De uma tormenta de coisas secundárias),
Horror de pensamentos súbito reais.

Temos que suportá-los a noite inteira, até
Que o claro óbvio se mostre, imóvel, no frio.




Man carrying thing

The poem must resist the intelligence
Almost successfully. Illustration:

A brune figure in winter evening resists
Identity. The thing he carries resists

The most necessitous sense. Accept them, then,
As secondary (parts not quite perceived

Of the obvious whole, uncertain particles
Of the certain solid, the primary free from doubt,

Things floating like the first hundred flakes of snow
Out of a storm we must endure all night,

Out of a storm of secondary things),
A horror of thoughts that suddenly are real.

We must endure our thoughts all night, until
The bright obvious stands motionless in cold.




STEVENS, Wallace. "Man carrying thing" / "Homem carregando coisa". In:_____. O imperador do sorvete e outros poemas. Trad. de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

26.11.17

Paul Valéry: "Quem escreve em versos..."



Quem escreve em versos...

Quem escreve em versos dança sobre a corda. Anda, sorri, saúda e isso nada tem de extraordinário, até o momento em que se percebe que esse homem tão simples e à vontade faz todas essas coisas sobre um fio da grossura do dedo.



VALÉRY, Paul. “Poésie”. In:_____. Ego scriptor et Petits poèmes abstraits. Présentation et choix de Judith Robinson-Valéry. Paris: Gallimard, 1992.

25.11.17

Domício Proença Filho: "O lugar"



O lugar

Ventre liso e livre
a Serra da Barriga
emprenhada a sangue
e sal
suor de negro
ferro
no pescoço
e na alma
argola
couro de rebenque
a pele
arrebatada
a vinagre e pimenta
a carne viva
a voz emparedada:
sêmen
da cidade do sonho
negro.




PROENÇA FILHO, Domício. "O lugar". In:_____. Dionísio esfacelado (Quilombo dos Palmares). Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

24.11.17

Paul Celan: "Ein Drönen" / "Um estrondo": Trad. de Celso Fraga Fonseca



Agradeço ao meu amigo, o poeta Adriano Nunes. por me ter chamado a atenção tanto para o fato de que ontem foi o aniversári de Paul Celan, quanto para a excelente tradução, por Celso Fraga da Fonseca, do seguinte, belíssimo poema desse poeta:


Um estrondo

Um estrondo: a
própria verdade
surgiu entre
os homens
em pleno
turbilhão de metáforas




Ein Drönen

Ein Dröhnen: es ist
die Wahrheit selbst
unter die Menschen
getreten,
mitten ins
Metapherngestöber



CELAN, Paul. "Ein Drönen" / "Um estrondo". In: "Poemas de Paul Celan". Trad. de Celso Fraga Fonseca. In: Cadernos de Literatura em tradução nº 4, p.17.

21.11.17

Emily Dickinson: "Our share of night to bear" / "Nossa porção de noite": Trad. de Augusto de Campos



Nossa porção de noite —
Nossa porção de aurora —
Nossa ausência de amor —
Nossa ausência de agrura —

Uma estrela, outra estrela
Que se extravia!
Uma névoa, outra névoa,
Depois – o Dia!




Our share of night to bear –
Our share of morning –
Our blank in bliss to fill
Our blank in scorning –
 
Here a star, and there a star,      
Some lose their way!
Here a mist, and there a mist,
Afterwards – day!




DICKINSON, Emily. "Our share of night to bear" / "Nossa porção de noite". In:_____. não sou ninguém. Traduções de Augusto de Campos. Campinas: Unicamp, 2015. 



Ouçam "Nossa porção de noite" musicada pelo Cid Campos e interpretada por ele e pela Adriana Calcanhotto:




18.11.17

Leoni e Mauro Santa Cecília: "Ode a Waly"



Ode a Waly

adentramos a neblina
deixemos de lado
a fumacinha photoshop
essa minha ilha de edição
vamos para outra coisa
arame farpado, por exemplo
é útil para espantar inconveniências
é uma facada quando
vem em sinais do seu amor
mas pode ser algo mais leve
como a fatalidade de um empurrão
um corte superficial antecipado
um aumento de aluguel
ou uma curva em s
no meio da neblina




LEONI e SANTA CECÍLIA, Mauro. "Ode a Waly". In:_____. Baião de 2. Rio de Janeiro, 7 Letras, 2017.

16.11.17

A.C. Grayling: trecho de "As religiões não merecem tratamento especial"



Dado que hoje – 16 de novembro – é reconhecido pela UNESCO como o Dia Mundial da Filosofia, resolvi postar a tradução de um pequeno trecho de um artigo do filósofo inglês A.C. Grayling. O texto, que me parece muito oportuno no momento atual, intitula-se “As religiões não merecem tratamento especial”.

            Já no século XVII, o filósofo Descartes dizia, no seu Discurso do método, que, “a pluralidade de vozes não é uma prova que valha nada para as verdades um pouco difíceis de descobrir, porque é bem mais provável que um homem as tenha encontrado do que todo um povo”. Ou seja, ele sabia que nenhuma crença – nenhuma crença religiosa, por exemplo – merece intrinsecamente mais respeito do que qualquer convicção individual.

Mas passemos às palavras de A.C. Grayling:



Está na hora de inverter o senso comum de que o comprometimento religioso intrinsecamente mereça respeito e deva ser tratado com luvas de pelica e protegido pelo costume e, em alguns casos, por leis que proíbem que ele seja criticado ou ridicularizado.

Está na hora de nos recusarmos a andar na ponta dos pés em torno de pessoas que exigem respeito, consideração, tratamento especial ou qualquer outro tipo de imunidade simplesmente porque têm uma fé religiosa, como se ter fé fosse uma virtude merecedora de privilégios, e como se fosse nobre acreditar em afirmações sem base e em superstições antigas. Nada disso: a fé é o comprometimento com uma crença contrária à evidência e à razão.

            Ora, acreditar em algo contra a evidência e contra a razão – acreditar em algo por fé – é ignóbil, irresponsável e ignorante, e merece o oposto do respeito. Está na hora de dizer a verdade.

            Está na hora de exigir dos crentes que mantenham na esfera privada suas escolhas e preferências pessoais nesses assuntos irracionais e frequentemente perigosos. Qualquer um tem a liberdade de acreditar no que quiser, desde que não incomode (ou intimide ou mate) os outros; mas ninguém tem o direito de exigir privilégios meramente na base de ser devoto desta ou daquela das muitas religiões do mundo.

            E, como essa última observação implica, está na hora de exigirmos – nós, que não somos religiosos – o direito de não sofrer interferência por parte de pessoas e organizações religiosas. Ninguém tem o direito de impor suas próprias práticas e escolhas morais às pessoas que não compartilham do seu ponto de vista.




GRAYLING, A.C. Trecho de “Religions don’t desserve special treatment”. In: The Guardian, 19 de outubro de 2006.

15.11.17

Gregório Duvivier: "Alguns lugares pertencem a tempos'"



alguns lugares pertencem a tempos

alguns lugares pertencem a tempos
específicos e jazem enclausurados
numa data como certos becos
de copacabana que moram em 1993
eternamente e de onde se pode ligar
de orelhões com fichas e comprar
revistinhas do cascão por cinco mil cruzeiros.



DUVIVIER, Gregório. "alguns lugares pertencem a tempos". In:_____. Ligue os pontos: poemas de amor e big bang. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

12.11.17

CURSO "LITERATURA E CONFLITOS"






DESCRIÇÃO
[curso Literatura e conflitos]
Organização: Eucanaã Ferraz
De 22 a 30 de novembro, o IMS Rio dá lugar ao curso Literatura e conflitos: uma série de encontros voltados para obras literárias que apresentam eixos temáticos relacionados a embates e lutas armadas. Clássicos da literatura universal e brasileira serão abordados por grandes especialistas em seis aulas. O curso se realiza no âmbito da exposição Conflito: fotografia e violência política no Brasil 1889-1964, que apresenta um panorama da fotografia de guerras civis e outros conflitos armados envolvendo o Estado brasileiro, desde a Proclamação da República à instituição do AI-5 após o golpe de 1964.

[22.11, quarta-feira] Ilíada (Homero) | Por Antonio Cicero
Primeiro livro da literatura ocidental, a Ilíada parece se tratar, pelo título, apenas de um breve incidente ocorrido no cerco dos gregos à cidade troiana de Ílion, a crônica de aproximadamente cinquenta dias de uma guerra que durou dez anos. No entanto, graças à maestria de seu autor, essa janela no tempo se abre para paisagens vastíssimas, repletas de personagens e eventos que ficariam marcados para sempre no imaginário ocidental. É nesse épico homérico que surgem figuras como Páris, Helena, Heitor, Ulisses, Aquiles e Agamêmnon, e em seus versos somos transportados diretamente para a intimidade dos deuses, com suas relações familiares complexas e às vezes cômicas.
Mas, acima de tudo, a Ilíada é a narrativa da tragédia de Aquiles. Irritado com Agamêmnon, líder da coalizão grega, por seus mandos na guerra, o célebre semideus se retira da batalha, e os troianos passam a impor grandes derrotas aos gregos. Inconformado com a reviravolta, seu escudeiro Pátroclo volta ao combate e acaba morto por Heitor. Cegado pelo ódio, Aquiles retorna à carga sedento por vingança, apesar de todas as previsões sinistras dos oráculos. (www.companhiadasletras.com.br)
Sobre Antonio Cicero
Membro da Academia Brasileira de Letras e estudioso da literatura clássica, Antonio Cicero publicou ensaios sobre Homero e a cultura grega. É autor de livros sobre filosofia, literatura e artes, dentre os quais A poesia e a crítica(2017),Poesia e filosofia (2012) e Finalidades sem fim (2005). Poeta publicou, entre outros, Porventura (2012), ganhador do Prêmio ABL de Poesia. É também um dos mais reconhecidos letristas da música popular brasileira.
[23.11, quinta-feira] Os sertões (Euclides da Cunha) | Por Walnice Nogueira Galvão
Os Sertões – marco fundamental nos estudos sobre a formação brasileira, ao lado de Casa-grande e senzala e Raízes do Brasil – foi escrito a partir de um trabalho jornalístico sobre a rebelião de Canudos, liderada por Antonio Conselheiro e duramente reprimida pelo governo. Baseada em teorias deterministas em voga na época, a obra aborda cientificamente a influência do meio sobre o homem, como mostra a própria estrutura dos capítulos: ‘A terra’, ‘O homem’, ‘A luta’. (http://www.martinsfontespaulista.com.br)
Sobre Walnice Nogueira Galvão
Escritora e ensaísta paulista, é professora emérita de teoria literária e literatura comparada da Universidade de São Paulo. Dedica-se à crítica literária e cultural e ao estudo da obra de Guimarães Rosa e de Euclides da Cunha. Suas pesquisas desenvolvidas por décadas em torno do autor deOs sertões culminaram nos volumes Euclidiana (Prêmio Academia Brasileira de Letras, 2009) e Diário de uma exposição (2000), reunião de reportagens realizadas por Euclides da CunhaÉ obra sua a edição crítica de Os sertões, tarefa que levou oito anos, agora em 4ª edição.
[24.11, sexta-feira] O tempo e o vento (Erico Verissimo) |Por Regina Zilberman
A saga O tempo e o vento, de Erico Verissimo, conta uma das histórias mais espetaculares da literatura nacional e resgatam o Brasil sulista do começo do século XX. A trilogia — formada por O ContinenteO retrato e O arquipélago — percorre um século e meio da história do Rio Grande do Sul e do Brasil, acompanhando a formação da família Terra Cambará. Num constante ir e vir entre o passado — as Missões, a fundação do povoado de Santa Fé — e o tempo do Sobrado sitiado pelas forças federalistas, em 1895, desfilam personagens fascinantes, eternamente vivos na imaginação dos leitores de Erico Verissimo: o enigmático Pedro Missioneiro, a corajosa Ana Terra, o intrépido e sedutor Capitão Rodrigo, a tenaz Bibiana.(www.companhiadasletras.com.br)
Sobre Regina Zilberman
Professora do Instituto de Letras, da UFRGS, atua principalmente nos temas de história literária, literatura gaúcha e formação do leitor, é autora de diversos textos e livros, dentre os quais o ensaio “Mulheres: entre o mito e a história”, que consta do Cadernos de Literatura Brasileiradedicado a Erico Verissimo publicado pelo Instituto Moreira Salles em 2003. É autora ainda de A literatura no Rio Grande do Sul (1992), Brás Cubas autor Machado de Assis leitor (2012) e Estética da recepção e história da literatura(2015).

[28.11, terça-feira] A guerra não tem rosto de mulher(Svetlana Alexievitch) | Por Paulo Roberto Pires
A história das guerras costuma ser contada sob o ponto de vista masculino: soldados e generais, algozes e libertadores. Trata-se, porém, de um equívoco e de uma injustiça. Se em muitos conflitos as mulheres ficaram na retaguarda, em outros estiveram na linha de frente.
É esse capítulo de bravura feminina que Svetlana Aleksiévitch reconstrói neste livro absolutamente apaixonante e forte. Quase um milhão de mulheres lutaram no Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas a sua história nunca foi contada. Svetlana Aleksiévitch deixa que as vozes dessas mulheres ressoem de forma angustiante e arrebatadora, em memórias que evocam frio, fome, violência sexual e a sombra onipresente da morte. (www.companhiadasletras.com.br)
Sobre Paulo Roberto Pires
Jornalista e professor da Escola de Comunicação da UFRJ, atuou como crítico literário no Jornal do Brasil, n’O Globo e na revista Época. É autor das biografias A marca do Z – A vida e os tempos do editor Jorge Zahar (2017) e Hélio Pellegrino – A paixão indignada (1998). Publicou também os romances Se um de nós morrer (2011) e Do amor ausente (2000). Organizou a obra poética e jornalística de Torquato Neto nos dois volumes da Torquatália (2004). É editor da Serrote, revista de ensaios do Instituto Moreira Salles. Em 2016, durante a Flip, mediou o encontro com a escritora Svetlana Alexievitch.
[29.11, quarta-feira] A poesia brasileira e a Segunda Guerra Mundial (Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Cecília Meireles e Murilo Mendes) | Por Murilo Marcondes de Moura
Elaborado ao longo de muitos anos, num processo de múltiplas leituras e interrogações, O mundo sitiado: a poesia brasileira e a Segunda Guerra Mundial é um livro raro no panorama atual. Em primeiro lugar, pela amplitude de sua aposta crítica - flagrar a resposta dos poetas brasileiros ao acontecimento mais traumático do século XX - e, na sequência, pela fineza e eficácia com que Murilo Marcondes de Moura, professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo, encadeia seus argumentos.
Após um capítulo inicial dedicado aos nexos entre a poesia de vanguarda e a Primeira Guerra Mundial, em que brilham as leituras de poemas de Guillaume Apollinaire, Wilfred Owen e Giuseppe Ungaretti escritos nas trincheiras, o autor passa a examinar as marcas do conflito de 1939-1945 na poesia de Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Cecília Meireles e Murilo Mendes. Nessa mudança de foco, a investigação crítica age como um poderoso prisma: parte do movimento intrínseco de suas respectivas obras para em seguida, ao situá-las diante do acontecimento histórico de escala mundial, acompanhar as refrações da guerra nos temas e na voz de cada escritor.
Livro que parece conter muitos livros dentro de si, O mundo sitiado, ao confrontar guerra e poesia, abre um campo praticamente inexplorado em nossos estudos literários - e ilumina de forma aguda e original as relações entre linguagem, história, mito e participação política num momento central do modernismo brasileiro. (www.editora34.com.br).
Sobre Murilo Marcondes de Moura
Professor na Universidade de São Paulo e dedica-se sobretudo à literatura brasileira do século xx. Como ensaísta, colaborou em diversos volumes de crítica literária. Organizou a Antologia poética de Murilo Mendes (2014) e O mundo sitiado – A poesia brasileira e a Segunda Guerra Mundial (2016), obra na qual examina as marcas do grande conflito nas poesias de Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Cecília Meireles e Murilo Mendes.

[30.11, quinta-feira] Guerra e paz (Tolstói) | Por Rubens Figueiredo
Guerra e paz descreve a campanha de Napoleão Bonaparte na Rússia ao mesmo tempo em que acompanha os amores e aventuras de Natacha, Andrei, Pierre, Nikolai, Sônia e centenas de coadjuvantes, não menos marcantes. (www.companhiadasletras.com.br)
Sobre Rubens Figueiredo
Formado em português-russo pela ufrj, é professor de tradução literária e duas vezes ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura com o livro de contos As palavras secretas(1998) e o romance Barco a seco (2002). Traduziu, de Tolstói,Guerra e paz e Anna Kariênina, além de Contos completos, Ressurreição e Uma confissão. Também cabe destacar suas traduções de Oblómov, de Ivan Gontcharóv, ePais e filhos, de Ivan Turguêniev.


[Perguntas frequentes]
Quais são minhas opções de transporte/estacionamento para chegar ao evento?
Linhas de ônibus: TRONCAL 5 (Alto Gávea - Central – Via Praia de Botafogo), 112 (Rodoviária - Alto Gávea), 538 (Rocinha - Botafogo), 539 (Rocinha - Leme), ônibus executivo (frescão) Praça Mauá – Gávea.
Metrô: Integração Gávea
Estacionamento e bicicletário gratuitos, a saída é mediante entrega de ticket carimbado pela recepção.
Como posso entrar em contato com o organizador se tiver perguntas? Pelo telefone 55 21 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br
Qual é a política de reembolso? É permitido solicitar o reembolso integral até 7 dias antes da data de início do evento.
Preciso levar meu ingresso impresso para o evento? Não é necessário levar o ingresso impresso, apenas um comprovante de identidade e é preciso fazer o check in na recepção do IMS.
Posso atualizar as informações da minha inscrição? A atualização de informações pode ser feita até 1 dia antes do início do curso.
Minha taxa de inscrição ou o ingresso podem ser transferidos? A transferência da matrícula pode ser feita até 1 dia antes do início do curso. Após o início do mesmo, não é possível fazer a transferência.
O nome no meu ingresso ou na minha inscrição não coincide com o nome do participante. Há algum problema?Sim, é preciso que o nome da matrícula seja o mesmo de quem irá frequentar o curso. Caso tenha comprado o curso para outra pessoa, é possível fazer a transferência do mesmo até 1 dia antes do início do curso.
Quem tem direito a meia-entrada? Estudantes, professores e maiores de 60 anos têm 50% de desconto em todos os cursos, mediante apresentação de documento comprobatório no dia do evento.


11.11.17

Arthur Rimbaud: "Antique" / "Alta antiguidade": trad. de Maria Gabriela Llansol



Alta antiguidade

Gracioso filho de Pã! Em torno de tua fronte coroada de pequenas flores e bagas, teus olhos, esferas preciosas, irrequietos movem-se. Maculadas de borras castanhas, cavam-se as tuas faces. Teus dentes carnívoros brilham. Teu peito assemelha-se a uma cítara, campainhas sonoras correm-te pelos braços louros. O coração bate-te nesse ventre onde dorme o sexo macho e fêmea. Passeia-te à noite balançando docemente essa coxa, essa segunda coxa e essa perna esquerda.



Antique

Gracieux fils de Pan ! Autour de ton front couronné de fleurettes et de baies tes yeux, des boules précieuses, remuent. Tachées de lies brunes, tes joues se creusent. Tes crocs luisent. Ta poitrine ressemble à une cithare, des tintements circulent dans tes bras blonds. Ton cœur bat dans ce ventre où dort le double sexe. Promène-toi, la nuit, en mouvant doucement cette cuisse, cette seconde cuisse et cette jambe de gauche.




RIMBAUD, Arthur. "Antique" / "Alta antiguidade". In:_____: "Illuminations" / "Iluminações". In:_____. O rapaz raro. Iluminações e poemas. Trad. de Maria Gabriela Llansol. Lisboa: Relógio D'Água, 1998.

8.11.17

Fernando Pessoa / Ricardo Reis: "Vivem em nós inúmeros"



Vivem em nós inúmeros

Vivem em nós inúmeros;
Se penso ou sinto, ignoro
Quem é que pensa ou sente.
Sou somente o lugar
Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.
Há mais eus do que eu mesmo.
Existo todavia
Indiferente a todos.
Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados
Do que sinto ou não sinto
Disputam em quem sou.
Ignoro-os. Nada ditam
A quem me sei: eu escrevo.



PESSOA, Fernando. "Vivem em nós inúmeros". In:_____. "Ficções do interlúdio / Odes de Ricardo Reis". In:_____. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

5.11.17

Dênis Rubra: "pén"

 

   pén

   no tumulto
   dos carros
   e no tumul
   to da cidade

   no tumulto da rua
   da cidade
   com o barulho
   da buzina
   – pén –
   e o barulho do baralho me
   em
bara
   lhando

  eu
   desfaço
o po
   ema




RUBRA, Dênis. "pén". In:_____. é muito cedo pra pensar. Rio de Janeiro: rubra editora, 2017.

4.11.17

Humberto Finol: "Una nueva franja social"



Recebi do meu amigo Paulo Lima um interessante artigo, assinado por Humberto Finol, que não conheço. Está escrito em castelhano. Infelizmente, não tenho, no momento, tempo para traduzi-lo. Contudo, como creio que praticamente todos os que são capazes de ler em português são, em princípio, também capazes de ler em castelhano, resolvi publicá-lo na versão original. Ei-lo:


Una nueva franja social

Si miramos con cuidado podemos detectar la aparición de una franja social que antes no existía: la gente que hoy tiene entre cincuenta y setenta años

A este grupo pertenece una generación que ha echado fuera del idioma la palabra “envejecer”, porque sencillamente no tiene entre sus planes actuales la posibilidad de hacerlo.

Se trata de una verdadera novedad demográfica parecida a la aparición en su momento, de la “adolescencia”, que también fue una franja social nueva que surgió a mediados del S. XX para dar identidad a una masa de niños desbordados, en cuerpos creciditos, que no sabían hasta entonces dónde meterse, ni cómo vestirse.

Este nuevo grupo humano que hoy ronda los cincuenta, sesenta o setenta, ha llevado una vida razonablemente satisfactoria.

Son hombres y mujeres independientes que trabajan desde hace mucho tiempo y han logrado cambiar el significado tétrico que tanta literatura latinoamericana le dio durante décadas al concepto del trabajo. 

Lejos de las tristes oficinas, muchos de ellos buscaron y encontraron hace mucho la actividad que más le gustaba y se ganan la vida con eso. 

Supuestamente debe ser por esto que se sienten plenos; algunos ni sueñan con jubilarse. 

Los que ya se han jubilado disfrutan con plenitud de cada uno de sus días sin temores al ocio o a la soledad, crecen desde adentro. Disfrutan el ocio, porque después de años de trabajo, crianza de hijos, carencias, desvelos y sucesos fortuitos bien vale mirar el mar con la mente .

Pero algunas cosas ya pueden darse por sabidas, por ejemplo que no son personas detenidas en el tiempo; la gente de “cincuenta, sesenta o setenta”, hombres y mujeres, maneja la computadora como si lo hubiera hecho toda la vida. Se escriben, y se ven, con los hijos que están lejos y hasta se olvidan del viejo teléfono para contactar a sus amigos y les escriben un e-mail o un whatsapp.

Hoy la gente de 50 60 o 70, como es su costumbre, está estrenando una edad que todavía NO TIENE NOMBRE, antes los de esa edad eran viejos y hoy ya no lo son, hoy están plenos física e intelectualmente, recuerdan la juventud, pero sin nostalgias, porque la juventud también está llena de caídas y nostalgias y ellos lo saben. La gente de 50, 60 y 70 de hoy celebra el Sol cada mañana y sonríe para sí misma muy a menudo… hacen planes con su propia vida, no con la de los demás. Quizás por alguna razón secreta que sólo saben y sabrán los del siglo XXI.


Humberto Finol

1.11.17

Poetas-Santos de Xiva: "Acalanto do céu": Trad. de Décio Pignatari



Acalanto do céu
O vento dorme

O infinito dá de mamar
O espaço cochila

O céu silencia
A cantiga se acaba

O Senhor é
como se não fosse.



Poetas-Santos de Xiva. “Acalanto do céu”. In:_____. Pignatari, Décio (org. e tradutor). 31 poetas 214 poemas: do Rigveda e Safo a Apollinaire. Campinas, 2007.