8.9.13

Antonio Carlos Secchin: Cisne






Cisne 

                                                    À memória de Cruz e Souza
                                                                       A Iaponan Soares


Vagueia, ondula, indomado e belo, 
um cisne insone em solitário canto. 
Caminha à margem com a plumagem negra, 
em meio a um bando de pombas atônitas. 

Encontra um outro, de alvacentas plumas, 
um ser sagrado no monte Parnaso, 
e enquanto o branco vai vencendo a bruma 
ele naufraga, bêbado de espaço. 

Em vão indaga, o olhar emparedado 
na vertigem da luz que o sol encerra: 
"Se em torno tudo é treva, tudo é nada, 

como sonhar azul em outra esfera?" 
Negro cisne sangrando em frente a um poço. 
Do alto, um Deus cruel cospe em seu rosto. 




SECCHIN, Antonio Carlos. Todos os ventos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

2 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

que belíssimo poeta do admirável amigo Secchin! Salve! Grato por compartilhá-lo!


Abraço forte,
Adriano Nunes



P.s.: parabéns por estar entre os finalistas do Prêmio Portugal Telecom 2013. Salve "Porventura"!

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

corrigindo: *poema





Abraço forte,
Adriano Nunes