7.9.09

Ivan Junqueira: "Vai tudo em mim"




Vai tudo em mim

Vai tudo em mim, enfim, se despedindo
neste pomar sem ramos ou maçãs,
sem sol, sem hera ou relva, sem manhãs
que me recordem o que foi e é findo.
Tudo se faz sombrio, e as sombras vãs
do que eu não fui agora vão cobrindo
os ermos epitáfios, indo e vindo
entre as hermas e as lápides mais chãs.
Tudo se esvai num remoinho infindo
de atávicas moléculas malsãs:
essas do avô, do pai e das irmãs
que o sangue foi à alma transmitindo.
Tudo o que eu fui em mim de mim fugindo
em meu encalço vem me perseguindo.



JUNQUEIRA, Ivan. O outro lado. Rio de Janeiro: Record, 2007.

11 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


que soneto lindo! Salve Ivan! Valeu Cicero!


Abs,
A. Nunes.

Climacus disse...

O inverso disso:

"Se só me faltassem os outros, vá, um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo" {Bentinho, Dom Casmurro (graça muda)}.

Janaina Amado disse...

Maravilhoso, Cícero. Vou tentar adquirir o livro.

BAR DO BARDO disse...

Ivan é muito... e dignifica qualquer advérbio de valor positivo.

Anônimo disse...

Sensacional. Maravilhoso. Luminoso.

Jefferson Bessa disse...

Vai tudo em mim quando leio um poema como esse, Cicero! Lindo d+.

Um abraço.
Jefferson

paulinho (paulo sabino) disse...

lindíssima poesia!

ivan junqueira é um luxo, sou apaixonado!

este poema me lembrou os versos do pessoa que seguem: "Recordo outro ouvir-te,/ Não sei se te ouvi/ Nessa minha infância/ Que me lembra em ti.// Com que ânsia tão raiva/ Quero aquele outrora!/ E eu era feliz? Não sei:/ Fui-o outrora agora."

(e enquanto escrevia os versos acima ocorreram-me umas linhas do extraordinário waly salomão, linhas que dizem: "Serena e sem catástrofe./ Não é difícil aprender a arte de perder.")

lindas as imagens e as palavras utilizadas por ivan: "maçã / malsã/ manhã", além de sensacional a idéia de que nos persegue aquilo que nos foge, de que nos chega aquilo que nos larga; o que significa pensar que: de um jeito ou de outro, queira ou não queira, vai tudo em mim.

maravilha, poeta!

beijo, fofura!

NDORETTO disse...

Uma graça seu blog,viu?


Eu Gosto da
PoESiA RáPiDA

http://sinceridadebrutal.blogspot.com

http:/poemacurta-metragem.blogspot.com

karina rabinovitz disse...

não ha mais o que dizer depois de ler este.
é muito grande.

obrigada sempre.
por tanto aqui.

ADRIANO NUNES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jonathan disse...

Muito bom esse poema!!!
Mt interessante como ele produz um jogo sonoro com nasais, q dão uma ideia, de algum modo, de algo interior, interno!!!!

Bom msm!!!!

Abraços