11.9.09

Helder Macedo: "Não é bastante"




Não é bastante
que eu reconheça a minha solidão
e a queira como início dum caminho.
Não é bastante
ser livremente tudo quanto sei
e estar aberto a tudo o que serei.
Tudo o que fui e o que sou e o que serei
já são iguais
no tempo do meu todo ignorado.
Quero abrir o que as palavras não descrevem
para já não responder ao sim e ao não
do meu espelho conhecível.
Já não me basta apenas dar um nome
à morte que me cabe enquanto vivo
porque morrer é ter perdido a morte
para sempre
tornando sem sentido o sim e o não
com que me circundei e defini-me.
Conheço-me as fronteiras.
Quero o resto.



MACEDO, Helder. “Orfeu”. Viagem de inverno e outros poemas. Rio de Janeiro: Record, 2000.

8 comentários:

Jonathan disse...

Nossa, q poema maravilhoso!!!! É um grito de liberdade!!!!
AMEI AMEI AMEI!!!!

BAR DO BARDO disse...

Muito perfeito - o bastante...

Climacus disse...

só desconhecendo, aorizo, indeterminado, sem horizonte, desgrama de Pandora, não é? Sei não, parece-me muita dor...

Climacus disse...

"cada um é outro com relação aos dois que restam, e o mesmo que ele próprio" (Platão, Sofista, 254e).

Robson Ribeiro disse...

A minha impressão sobre o poema foi a mesma do Jonathan, que o poema é a tradução de um grito, que busca ampliar os limites que nos limitam.

Grande abraço a todos.

Angela disse...

Gostei tanto!Quero ler tudo deste autor..
Obrigada sempre
Angela

Fernando Campanella disse...

Maravilha, este poema de Helder Macedo.
'Não quero faca, nem queijo. Quero a fome.'
Adélia Prado

Grande abraço.

paulinho (paulo sabino) disse...

LINDÍSSIMO, cicero, este poema!

e vai de encontro, o poema, com um tema que tem ocupado este espaço aqui, vai de encontro com as linhas de borges e ivan junqueira.

maravilha, poeta!

como sempre, botando pra quebrar!

beijo bom e carinhoso!