Morada terrestre
Habito um castelo de cartas,
Uma casa de areia, um edifício no ar,
E passo os minutos esperando
O desmoronamento do muro, a chegada do raio,
O correio celeste com a última notícia,
A sentença que voa numa vespa,
A ordem como um látego de sangue
Dispersando ao vento uma cinza de anjos.
Então perderei minha morada terrestre
E me encontrarei nu novamente.
Os peixes, os astros,
Remontarão o curso de seus céus inversos.
Tudo que é cor, pássaro ou nome,
Volverá a ser apenas um punhado de noite,
E sobre os despojos de cifras e plumas
E o corpo do amor, feito de fruta e música,
Baixará por fim, como o sonho ou a sombra,
O pó sem memória.
ANDRADE, Jorge Carrera. "Morada terrestre". Trad. de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. "Poemas traduzidos". In:_____. Estrela da vida inteira.Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
Morada terrestre
Habito un edificio de naipes,
Una casa de arena, un castillo en el aire
Y paso los minutos esperando
El derrumbe del muro, la llegada del rayo,
El correo celeste con la final noticia,
La sentencia que vuela en una avispa,
La orden como un látigo de sangre
Dispersando en el viento una ceniza de ángeles.
Entonces perderé mi morada terrestre
Y me hallaré desnudo nuevamente.
Los peces, los luceros
Remontarán el curso de sus inversos cielos.
Todo lo que es color, pájaro o nombre
Volverá a ser apenas un puñado de noche,
Y sobre los despojos de cifras y de plumas
Y el cuerpo del amor, hecho de fruta y música,
Descenderá por fin, como el sueño o la sombra,
El polvo sin memoria.
ANDRADE, Jorge Carrera. "Morada terrestre". In:_____. Antologia de la poesia cosmica de Jorge Carrera Andrade. Org. de Fredo Arias de la Canal. México: Frente de Armación Hispanista, 2003.
2 comentários:
Belíssimo poema cósmico. Grato por compartilhar.
Algo que tem ficado bem claro aqui no teu Blog: O grande tradutor que é Manuel Bandeira. Não é fácil traduzir, corre-se sempre o risco de resvalar-se no proverbial "traduttore, traditore", ainda mais quando se trata de traduzir poesia. Bandeira era modernista, mas um exímio sonetista, conhecedor das inumeráveis regras da métrica. O respeito a essas regras sem deixar de tocar o mais profundo do sentimento poético exsurgem em suas traduções. Aqui, em Carrera Andrade e no poema de Elisabeth Barret Browning "How do I love thee?" de um post anterior, Bandeira mostra o seu tamanho: Imensurável.
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