Uma excelente análise política do Hudson Carvalho:
FHC é candidato
Esta é forte; mas, considerando-se o artigo (“Um Brasil melhor”) que escreveu recentemente em O Globo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é candidatíssimo a tentar voltar ao Palácio do Planalto, em 2010.
No artigo, em resumo, FHC flerta, sem assumi-lo, com o conhecido conceito que embaralha política e guerra, quando diz que nos embates eleitorais “o ponto de aglutinação da militância e, mais tarde, dos eleitores, depende dos estados-maiores partidários ... para ter objetivos claros e ser capaz de alentar os que lutam pela causa”. E adverte que o ano de 2010 está longe, “mas muito perto do momento que requer um discurso político vigoroso, de unidade, que mantenha o moral do eleitorado oposicionista e apresente a todos alternativas”. E lembra que, na ausência desse discurso, se a economia não estiver mal – como ele admite que não esteja -, o “eleitor comum” tenderá a ficar novamente com o já conhecido e feito.
FHC prescreve ainda a aliança das agremiações oposicionistas, sobretudo daquelas que refletem os anseios dos “setores de vanguarda das classes médias, que querem novos rumos”. E observa que à falta de “definições simples, abrangentes e claras sobre o que os partidos querem, as discussões serão sempre sobre quem, ao invés de ser sobre o quê”, fulanizando previamente o debate e restringindo o processo a apenas aos círculos íntimos dos supostos presidenciáveis. Para ele, isso não é suficiente para mobilizar os recursos humanos necessários para enfrentar os desafios do século XXI.
E, espetando o presidente Lula, useiro e vezeiro em exaltar a natureza inaugural das façanhas do seu governo, Fernando Henrique Cardoso convoca-nos a não nos comparar conosco mesmo, e, sim, com o que acontece com o mundo, para vermos que “os nossos concorrentes avançam a passos largos, enquanto nós voltamos ao ufanismo ingênuo, marcando passos, afogados na irrelevância”. E complementa: “Devemos ser contemporâneos do século XXI e não do passado”.
E prossegue no ataque a Lula: “Se quisermos projetar um futuro que não seja de esmolas para os pobres disfarçadas em bolsas e de concentração de renda ainda maior, temos que assegurar à maioria condições para competir e obter emprego, com melhor educação e mais crescimento econômico. Caso contrário, seguiremos no rumo do apartheid moderno, que transforma o estado em casa de misericórdia e o mercado em apanágio dos bem-educados”.
Por fim, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sentencia, com razão, que “o povo cansou de ouvir os políticos” e que “a oposição não pode se restringir ao Congresso”, apregoando a combinação de mídia com ação direta como elemento relevante da política contemporânea, e clamando por uma participação da sociedade mais afeita aos oráculos da extrema-esquerda.
Fernando Henrique Cardoso tem se dedicado a intentar imprimir mais organicidade, ênfase e eficácia a oposição feita contra o governo presente. Às vezes, em dissonância com o seu próprio partido, hoje sem discurso, sem rumo, dividido quanto à tonalidade oposicionista e, equivocadamente, acomodado a hipotética competitividade de dois governadores de suas hostes. A despeito dos avanços do seu governo, notadamente na esfera econômica, o cotejo com a administração atual não lhe tem sido patentemente favorável. FHC demonstra ressentir muito disso. Freqüentemente insurge-se contra o seu sucessor, aparentemente, instigado por espírito menor e por fígado avinagrado.
As circunstâncias e os humores fermentados de Fernando Henrique Cardoso, no entanto, não desqualificam necessariamente as premissas defendidas no seu artigo. É razoável se admitir que, pelo menos, parte do seu diagnóstico esteja correta. É percebível a olho nu, porém, que, por trás do arrazoado, se apresenta também a pretensão extemporânea de um homem vaidoso e qualificado que não consegue digerir as comparações desfavoráveis com o operário que lhe herdou o trono nem se libertar das tentações dos resorts do poder.
17.5.07
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
cicero,
o artigo é ótimo, muito bem escrito, idéias claras, tudo perfeito. mas, sinceramente, fhc ninguém merece. e não digo isso em prol do lula, porque defendo o lula, porque acho o lula melhor. não; acho, apenas, o lula menos pior.
fhc é um neoliberal escroto, que acabou, ou melhor, ajudou a foder ainda mais o ensino e as pesquisas desenvolvidas nas universidades públicas. flexibilizou as leis trabalhistas, permitindo essa história de contratos temporários - o que tem sido um problema para a minha geração, ingressando na luta por trabalho - e instituiu os bancos de hora no lugar das horas-extras - coisa que não funciona com quase ninguém -. fora a venda das estatais, cujo problema não está na venda, mas na maneira como foi feita - prefiro nem entrar em detalhes; me deixa tão puto...
"sim, a economia no governo fhc ia muito bem. ó, que ótima vantagem..." eu tô me lixando pra economia, com os números que esses empanados políticos se gabam em mostrar nos jornais - "brasil: a oitava economia do mundo". que se dane isso tudo.
o que me adianta ter a oitava economia do mundo se as pessoas morrem de fome a três por quatro?, se pobre é morto SISTEMATICAMENTE pelo estado - através de suas milícias - e por uma elite mesquinha, que não abre mão de continuar a roer os ossos desses mortos?, se a maior parte da população continua analfabeta, sem água, sem comida, esperando alguma ajuda divina?
na boa, cago potes pra economia, em fazer parte dum país com a oitava economia do mundo. economia por economia fico com a dinamarca, que não é a oitava economia, mas cuja população desfruta de um padrão de vida onde a diferença entre o mais rico e o mais pobre é de 2 mil dólares.
e isso não é papo de comunista, socialista, esquerdista, de porra nenhuma. não gosto e não quero classificações para o meu lado. isso é papo de um homem que busca o delicado e que pensa, torce, vibra, sinceramente, numa melhora para todos.
então, fhc, lula (que eu considero menos pior), eu quero mais é que se explodam todos, essa corja suja, imunda.
tão suja, tão imunda essa corja que, para mim, historiador, chega a ser engraçado ouvir alguém falar em "oposição" num país como o nosso. rá, rá, rá, só gargalhando. oposição ao quê? só se for aos pobres, que estão cada vez mais pobres, mais alijados de um estado de direito, ou à classe média - burra, diga-se de passagem -, porém a cada dia mais achatada, encurralada.
a corrupção neste país, na sua política, é endêmica.
acredito em políticos bacanas? acredito. acredito que nem todos sejam corruptos? acredito. mas, infelizmente, não dão conta do recado, porque a uruca contra é forte, muito poderosa, os caciques tipo sarney e acm ainda cantam de galo. o problema é que apesar de muita gente boa no congresso, a corrupção, no brasil, é uma instituição "de respeito" e peso.
não acho que o fhc seja opção de nada. não acredito numa melhora trocando o fhc pelo lula, ou seja, a merda pelo cagalhão.
no mais, fecho em TUDO com a letra que encerra o disco novo do caetano, "o herói" (é do caralho! como o personagem do caetano, nos versos, é lúcido, pai do céu!). e estou de pleno acordo com as entrevistas do chico buarque para a folha de são paulo, concedidas à época da reeleição do lula.
política, comigo, dá pano pra manga. precisaria de mais tempo, gosto de conversar. mas basicamente é isso que sinto.
sou um homem profundamente comprometido com as delicadezas. assistir a tudo que acontece no mundo, com as pessoas, é de doer.
prefiro a alma. deixo a lama de lado.
grande beijo, poeta!
só uma retificação: escrevi, no texto acima, que não acreditava numa melhora trocando o fhc pelo lula. perdão; o correto é trocando o lula pelo fhc.
grande beijo!
Vim aqui com uma fome danada... e o Paulinho já acabou com a minha feijoada! rsrsrs...
Grande abraço!
Postar um comentário