Franzida e obscura flor, como um cravo violeta,
Respira, humildemente anichado na turva
Relva úmida de amor que segue a doce curva
Das nádegas até ao coração da greta.
Filamentos iguais a lágrimas de leite
Choraram sob o vento ingrato que as descarna
E as impele através de coágulos de marna
Para enfim se perder na rampa do deleite.
Meu sonho tanta vez se achegou a essa venta;
Do coito material, minha alma ciumenta
Fez dele um lacrimal e um ninho de gemidos.
É a oliva extasiada e a flauta embaladora,
O tubo pelo qual desce o maná de outrora,
Canaã feminil dos mostos escondidos.
Obscur et froncé comme un œillet violet,
Il respire, humblement tapi parmi la mousse
Humide encor d'amour qui suit la fuite douce
Des fesses blanches jusqu'au cœur de son ourlet.
Des filaments pareils à des larmes de lait
Ont pleuré sous l’autan cruel qui les repousse,
À travers de petits caillots de marne rousse
Pour s'aller perdre où la pente les appelait.
Mon rêve s'aboucha souvent à sa ventouse;
Mon âme, du coït matériel jalouse,
En fit son larmier fauve et son nid de sanglots.
C'est l'olive pâmée, et la flûte câline ;
C'est le tube où descend la céleste praline :
Chanaan féminin dans les moiteurs enclos.
RIMBAUD, Arthur. "Les stupra" / "Os stupra". In: Poesia completa. Edição bilingue. trad.: Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994.
4 comentários:
Cicero,
esse poema de Rimbaud é belo. Queria tirar uma dúvida: Na tradução há duas palavras (assim elas constam no livro) "humimldemente" e "achecgou". Será erro da gráfica ou o autor assim as quis?
Abraço forte,
Adriano Nundes
Correção: *Rimbaud e *Adriano Nunes
Não, Adriano. Os erros foram de digitação. Obrigado por me alertar. Peço desculpas a todos. Já fiz as correções.
Grande abraço
Que bacana encontrar o poema original aqui! Eu conhecia apenas a bonita versão/adaptação feita pelo Zé Celso Martinez Correa /Zé Miguel Wisnik e gravada lindamente pelo último no seu belíssimo primeiro disco.
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