30.9.11
Curso "Fernando Pessoa Relido no Real"
Segunda-feira às 14:00h terá início, no Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, o Curso de Extensão Fernando Pessoa relido no Real, promovido pelo Polo de Pesquisa sobre Relações Luso-Brasileiras (PPRLB).
O período do curso será de 03/10/2011 a 31/10/2011.
As aulas terão lugar às segundas-feiras e às quartas-feiras de outubro, das 14:00h às 15:45h e das 16:00h às 17:45h.
Terei a honra de ministrar a primeira aula.
Maiores informações estão disponíveis no site do Gabinete, no endereço http://www.realgabinete.com.br/portalweb/CentrodeEstudos/Cursos/tabid/59/language/en-US/Default.aspx
29.9.11
Charles Baudelaire: "À une passante" / "A uma passante": trad. de Ivan Junqueira
XCIII
A une passante
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur [majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;
Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Un éclair... puis la nuit! - Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?
Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais
[peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
O toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!
XCIII
A uma passante
A rua em torno era um frenético alarido.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão suntuosa
Erguendo e sacudindo a barra do vestido.
Pernas de estátua, era-lhe a imagem nobre e
[fina.
Qual bizarro basbaque, afoito eu lhe bebia
No olhar, céu lívido onde aflora a ventania,
A doçura que envolve e o prazer que assassina.
Que luz... e a noite após! – Efêmera beldade
Cujos olhos me fazem nascer outra vez,
Não mais hei de te ver senão na eternidade?
Longe daqui! tarde demais! "nunca" talvez!
Pois de ti já me fui, de mim tu já fugiste,
Tu que eu teria amado, ó tu que bem o viste!
BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Edição biligue. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
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Poema
27.9.11
Francisco Alvim: "Acontecimento"
Acontecimento
Ao Roberto
Quando estou distraído no semáforo
e me pedem esmola
me acontece agradecer
ALVIM, Francisco. O metro nenhum. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
Ao Roberto
Quando estou distraído no semáforo
e me pedem esmola
me acontece agradecer
ALVIM, Francisco. O metro nenhum. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
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Poema
24.9.11
Ferreira Gullar: "Inseto"
Inseto
Um inseto é mais complexo que um poema
Não tem autor
Move-o uma obscura energia
Um inseto é mais complexo que uma hidrelétrica
Também mais complexo
que uma hidrelétrica
é um poema
(menos complexo que um inseto)
e pode às vezes
(o poema)
com sua energia
iluminar a avenida
ou quem sabe
uma vida.
FERREIRA GULLAR. Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.
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Poema
20.9.11
Carlos de Oliveira: "Lavoisier"
Lavoisier
Na poesia,
natureza variável
das palavras,
nada se perde
ou cria,
tudo se transforma:
cada poema,
no seu perfil
incerto
e caligráfico,
já sonha
outra forma.
OLIVEIRA, Carlos de. Sobre o lado esquerdo. Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1968.
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Poema
17.9.11
Edoardo Bennato: "La mia città"
Gil Lopes me enviou o link para o seguinte vídeo, cuja beleza me emocionou. Baseia-se numa canção de Edoardo Bennato chamada "La mia città", sobre Nápoles.
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Nápoles
16.9.11
Alexandre O'Neill: "A meu favor"
A meu favor
A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer
A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.
O'NEILL, Alexandre. No Reino da Dinamarca. Lisboa: Guimarães, 1958.
1958 – No Reino da Dinamarca, Lisboa, Guimarães
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Poema
13.9.11
Manuel Bandeira: "Noite morta"
Noite morta
Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.
Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.
No entanto há seguramente por ela uma
procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.
O córrego chora.
A voz da noite…
(Não desta noite, mas de outra maior.)
BANDEIRA, Manuel. "Carnaval". In:_____Estrela da vida inteira Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.
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Poema
10.9.11
Sophia de Mello Bryner Andresen
Biografia
Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar, no vento.
ANDRESEN, Sophia de Mello Bryner. No tempo dividido e mar novo. Lisboa: Salamandra, 1985.
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Sophia de Mello Breyner Andresen
7.9.11
Gonzalo Rojas: "Orquídea en el gentío" / "Orquídea: entre tanta gente": transcriação de Haroldo de Campos
Orquídea: entre tanta gente
Bonita a cor do cabelo desta moça, bonito
o cheiro
de abelha do seu zumbido, bonita a rua,
bonitos os pés de luxo nos dois
sapatos áureos, bonita a maquiagem
das pestanas às unhas, o fluvial
de suas esplêndidas artérias, bonita a physis
e a metaphysis da ondulação, bonito o metro
e setenta da estatura, bonito o pacto
entre osso e pele, bonito o volume
da mãe que a urdiu flexível e a
ninou esses nove meses, bonito o ócio
animal que nela anda.
Orquídea en el gentío
Bonito el color del pelo de esta señorita,
bonito el olor
a abeja de su zumbido, bonita la calle,
bonitos los pies de lujo bajo los dos
zapatos áureos, bonito el maquillaje
de las pestañas a las uñas, lo fluvial
de sus arterias espléndidas, bonita la physis
y la metaphysis de la ondulación, bonito el
metro
setenta de la armazón, bonito el pacto
entre hueso y piel, bonito el volumen
de la madre que la urdió flexible y la
durmió esos nueve meses, bonito el ocio
animal que anda en ella.
ROJAS, Gonzalo. "Orquídea en el gentío". Transcriação de Haroldo de Campos. In: CAMPOS, Haroldo de. "Sympoética latino-americana". In:_____O segundo arco-íris branco. São Paulo: Iluminuras, 2010.
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Haroldo de Campos,
Poema
5.9.11
Casimiro de Brito: "Cuidado. O amor"
Cuidado. O amor
é um pequeno animal
desprevenido, uma teia
que se desfia
pouco a pouco. Guardo
silêncio
para que possam ouvi-lo
desfazer-se.
BRITO, Casimiro de. "Cuidado. O amor". In: PEDROSA, Inês (org.). Poemas de amor. Antologia de poesia portuguesa. Lisboa: Dom Quixote, 2005.
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Inês Pedrosa,
Poema
4.9.11
Jules Renard: do "Diário"
Bastava-lhe, para conceder-se o direito à preguiça, que uma mosca pousasse sobre sua folha de papel branco. Ele não escrevia, com medo de incomodá-la.
RENARD, Jules. Journal. Paris: Gallimard, 1935.
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Preguiça
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