25.10.09
Rainer Maria Rilke: "Das Lied des Bettlers" / "A canção do mendigo": trad. de Augusto de Campos
A canção do mendigo
Vou indo de porta em porta,
ao sol e à chuva, não importa;
de repente descanso o meu ouvido
direito em minha mão direita:
minha voz me soa imperfeita,
como se nunca a tivesse ouvido.
E já nem sei quem clama em meus ais,
eu ou outra pessoa.
Eu clamo por qualquer coisa à toa.
Os poetas clamam por mais.
Com os olhos eu fecho o meu rosto
e minha mão lhe serve de encosto
de modo que ele pareça
descansar. Para que não se esqueça
que eu também tenho um posto
para pousar a cabeça.
Das Lied des Bettlers
Ich gehe immer von Tor zu Tor,
verregnet und verbrannt;
auf einmal leg ich mein rechtes Ohr
in meine rechte Hand.
Dann kommt mir meine Stimme vor
als hätt ich sie nie gekannt.
Dann weiß ich nicht sicher wer da schreit,
ich oder irgendwer.
Ich schreie um eine Kleinigkeit.
Die Dichter schrein um mehr.
Und endlich mach ich noch mein Gesicht
mit beiden Augen zu;
wie's dann in der Hand liegt mit seinem Gewicht
sieht es fast aus wie Ruh.
Damit sie nicht meinen ich hätte nicht,
wohin ich mein Haupt tu.
RILKE, Rainer Maria. In: CAMPOS, Augusto de. Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007.
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Rainer Maria Rilke
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15 comentários:
Bom dia, Cicero! Que boa traduçao do poema de Rilke. Abraço,
nunca entendi: por que Zeus Xénios, como Odisseu ao retornar do Hades, aparece como um mendigo estrangeiro?
observador,
ah... não posso deixar de suspirar... você nos trouxe Rilke! meu deus, um dos maiores de todos os tempos!
e a tradução sensível de augusto de campos não deixa dúvidas quanto a genialidade do poeta alemão.
bravos!
grande abraço!
Obrigado, Cicero!
Sentimos sua falta lá no CA Helio Oiticica. O Encontro foi fabuloso.
Grande Abraço!
cICERO,
Rilke é tudo de bom! Ótimo poema e ótima tradução! valeu!
Grato,
Adriano Nunes.
Que pérola!
Avante, Cícero!!!
a força de cantar qualquer coisa à toa. Muito linda A canção do mendigo!
Abraços.
Um poema que escrevi:
deslizo a nudez de muitos corpos
desenrolo olhares na audição do traço braçal
e ando por muitas pernas
delineando todas as partes com o dedo - como quando se pinta cores
me agarro em muitas mãos e as passaria no corpo
como as águas descem
como um escultor por mil vezes sentindo a pedra
se esqueça de mim sem pose
quem vê é o corpo do meu olho rolando como pedras
submersas soltas
neste rio
(Jefferson Bessa)
Agradeço os comentários de Luiz, Betina, Robson, Adriano e Edson, e o belo poema de Jefferson.
Flora, Zeus Xenios pode vir como mendigo porque é isso que garante que os estranhos (xenioi), mesmo os mais modestos, serão bem recebidos. Assim, na Odisseia, quando Antinous jogou um banco em Odisseu, que estava disfarçado de mendigo, e o ameaçou, foi advertido, por um dos pretendentes à mão de Penélope, de que esse mendigo podia ser um deus. Também Nausicaa diz que “De Zeus vêm todos os estranhos e mendigos”.
A poesia fecha suas portas,
enquanto o poeta lança suas chamas.
Minha mão desenha estrelas e meus olhos veem.
Cada poeta é uma língua e o universo é inventado.
O infinito é onde ele mora.
Eu e ela estávamos ali, sem dizer palavra.
O segundo vazio passou
Entre panos mágicos
Agora, lá fora
Os sinos nostálgicos
Batem
Insistem nos ventos
Flutuando na velocidade
De um astronauta
Pelos rios
Atravessando montanhas
Meus nervos, pele
E não trago
Nada a não ser
Quando naufrago
A razão do meu viver
Todos mentem
Assim toda mentira dura
O tempo que o tempo perdura
Talvez uma cura
Para o meu entristecer.
obrigado pela resposta, mas, penso, por um lado, trata-se de preservar a lei da hospitalidade, por outro, trata-se de aproximar o clamor do poeta ao clamor do mendigo, não? Que resposta o mendigo pode dar?
´Du bist der Erbe
Söhne sind die Erben
denn Vater sterben
Söhne stehn und blühn
Du bist der Erbe´
Traição por Wilson Luques Costa
Implicação Material - Recurso na tradução à lógica.
´Tu és o herdeiro
Filhos são os herdeiros
Pai então dinheiro
Filhos aparecem e brotam
Tu és o herdeiro´
Podemos desfrutar o amor sobre os lençóis lavados,
os corpos suados, o delicioso cheiro da paixão,
as lembranças táteis, olfativas,
a saudade inebriante, eu e você, pequenos paraísos,
pela casa, na cozinha, no chuveiro,
e onde ninguém pode supor, já estivemos.
Obrigado pela leitura, Cicero! Uma honra. Abraços.
Jefferson
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