9.11.08

Miguel de Cervantes: D. Quixote, sobre a poesia

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Cervantes, Don Quijote II:

A poesia, senhor fidalgo, a meu parecer, é como uma donzela terna e de pouca idade e extremamente formosa, a quem cuidam de enriquecer, polir e adornar outras muitas donzelas, que são todas as outras ciências, e ela há de se servir de todas, e todas hão de se autorizar com ela; porém tal donzela não quer ser manuseada, nem trazida pelas ruas, nem publicada pelas esquinas das praças nem pelos rincões dos palácios. Ela é feita de uma alquimia de tal virtude que quem a souber tratar transforma-la-á em ouro puríssimo de inestimável preço.



La poesía, señor hidalgo, a mi parecer, es como una doncella tierna y de poca edad, y en todo estremo hermosa, a quien tienen cuidado de enriquecer, pulir y adornar otras muchas doncellas, que son todas las otras ciencias, y ella se ha de servir de todas, y todas se han de autorizar con ella; pero esta tal doncella no quiere ser manoseada, ni traída por las calles, ni publicada por las esquinas de las plazas ni por los rincones de los palacios. Ella es hecha de una alquimia de tal virtud, que quien la sabe tratar la volverá en oro purísimo de inestimable precio.



De: CERVANTES, Miguel de. Don Quijote de la Mancha. Madrid: Real Academia Española, 2004, p.666.

10 comentários:

léo disse...

Tem gente que acredita em Deus.

Tem gente que não acredita em nada.

Tem gente que crê no amor.

Tem gente que levanta os braços para o céu.

E temos nós, poetas, que acreditamos na poesia.

Que encontramos Deus na poesia.

Amor na poesia.

Palavra.

ADRIANO NUNES disse...

AMADO POETA,

SEM DÚVIDA, A POESIA TEM ESSA FAÇANHA... BELÍSSIMO TEXTO!






ABRAÇO FORTE!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.

Alcione disse...

Oh, ingrato tempo que tudo destrói
Deixe-me acreditar que há
Para além dos mares tenebrosos
O roçar da chuva que cai
À beira
Da árvore que floreia
Amarelo, azul, lilás
Não deixe que a sombra da lua desvaneça
Ou que o sonho escureça
Ouve o barulho das ruas
Do passeio que distrai
Vê que nada é incerto/certo
Nem mesmo os nosso ais
Que quando te vejo
Em um só instante
Desaparecem o medo e os temporais.

Ele disse...

Fico pensando que tipo de donzela é a poesia de P. Leminski.

Anônimo disse...

'zenzazional', cicero (rs)!

lindo demais! é tudo o que eu gostaria de um dia dizer sobre a poesia. como não sou capaz de, que maravilha a existência de um cervantes!

o leminski, meu xará-mestre, possui umas linhas lindas a respeito, onde, ao final, ele declara que poesia é a liberdade da sua linguagem. ei-las aqui, para a apreciação de todos:

POESIA:

"words set to music"(Dante
via Pound), "uma viagem ao
desconhecido" (Maiakóvski), "cernes e medulas" (Ezra Pound), "a fala do
infalável" (Goethe), "linguagem
voltada para a sua própria
materialidade" (Jakobson),
"permanente hesitação entre som e
sentido" (Paul Valery), "fundação do ser mediante a palavra" (Heidegger), "a religião original da humanidade" (Novalis), "as melhores palavras na melhor ordem" (Coleridge), "emoção relembrada na tranqüilidade"(Wordsworth), "ciência e paixão"(Alfred de Vigny), "se faz com palavras, não com idéias" (Mallarmé), "música que se faz com idéias" (Ricardo Reis/Fernando Pessoa), "um fingimento deveras" (Fernando Pessoa), "criticismo of life" (Mathew Arnold), "palavra-coisa" (Sartre), "linguagem em estado de pureza selvagem" (Octavio Paz), "poetry is to inspire" (Bob Dylan), "design de linguagem" (Décio Pignatari), "lo impossible hecho possible" (Garcia Lorca), "aquilo que se perde na
tradução (Robert Frost), "a liberdade da minha linguagem" (Paulo Leminski)...

(Paulo Leminski)
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é isso: a poesia se serve de todos e de todas, com a maior das liberdades, e está, sempre, descompromissada. libertária, sempre de mãos dadas com o não enquadramento, com a possibilidade de ser 'tudo', quando, ao fundo, 'nada' quer representar,
d(o)ando-se, apenas, à libertinagem, matéria de coisa que se faz des-regrada.

enfim: beleza pura!

sempre muito bacana passar por aqui.

beijo são, rica criatura!

ADRIANO NUNES disse...

POETA AMADO,


TENHA UM MARAVILHOSO DIA!


"ESTRANHO"



O PORVIR VEIO
TÃO VIOLENTO
QUE NADA TEVE
AQUELE TEMPO
DE DESPERTAR.
CINZA NASCEU
ESTA MANHÃ.


A TEMPESTADE
DE ACASOS SÚBITOS
REMOVEU NÃO
SÓ A RODA-VIVA
COMO TAMBÉM
O VÉU DA MORTE.
SENTI PERDER
TODA ESPERANÇA.


ABRAÇO FORTE!
ADRIANO NUNES, MACEIÓ/AL.

Patrícia Velloso disse...

A poesia me dá esperança quando não acredito no amor. É por isso que escrevo prosa, acho a poesia tão perfeita que não me julgo capaz de esculpi-la.

Fred Matos disse...

Poeta,

ouvi dizer que havia
na cidade de Alhures
um homem que fazia
à luz de vaga-lumes
um livro de poesias.

mas que todavia
quando amanhecia
nada havia escrito
porque ele não sabia
como expressar seu grito.

“não há som que se iguale
não há verbo que o exprima
não há sequer metáfora
que dele se aproxime.”


assim se lamentava
de outra noite insone.

à luz do sol perseguia
em tudo que o rodeava
qualquer coisa que pudesse
ser indício do que sabe

mas dizê-lo desconhece
por ser coisa sem imagem.

ouvi dizer que há
na cidade de Alhures
um homem que insiste
à luz de vaga-lumes
encontrar um som que fale
coisa que a nada equivale.

Grande abraço

Lucinha disse...

descobri seu blog sem querer na rede. procurava algo sobre uma palavra ... que palavra mesmo seria? não lembro mais. Não importa mais. Só sei que lendo seu blog, fiquei literalmente... sem palavras.
Ave, poeta!

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Lucinha. Seja bem-vinda!

Abraço