13.10.10

Thomas Hardy: "Afterwards" / "Depois": tradução de Ângela Melim

Afterwards


When the Present has latched its postern
                    behind my tremulous stay,
And the May month flaps its glad green leaves
                    like wings,
Delicate-filmed as new-spun silk, will the
                    neighbours say,
“He was a man who used to notice such
                    things”?

Quando o presente tiver trancado a sua porta
                    após a minha trêmula estadia,
E o mês de maio abanar suas alegres folhas
                    verdes como asas,
Névoa delicada feito seda acabada de fiar, irão
                    os vizinhos dizer:
“Ele era um homem que costumava notar tais
                    coisas”?

If it be in the dusk when, like an eyelid’s
                    soundless blink,
The dewfall-hawk comes crossing the shades
                    to alight
Upon the wind-warped upland thorn, a gazer
                    may think,
“To him this must have been a familiar sight.”

Se for na penumbra quando, com um piscar
                    sem som de uma pálpebra
O falcão da queda do orvalho vier cruzando
                    as sombras para iluminar
O espinheiro do planalto torcido de vento, um
                    observador pode pensar:
“Para ele essa deve ter sido uma visão
                    familiar”.

If I pass during some nocturnal blackness,
                    mothy and warm,
When the hedgehog travels furtively over the
                    lawn,
One may say, “He strove that such innocent
                    creatures should come to no
                    harm,
But he could do little for them; and now he
                    is gone.”

Se eu passar durante algum negrume noturno,
                    cheio de mariposas e morno,
quando o ouriço-cacheiro viaja furtivamente
                    pelo gramado,
Podem dizer: “Ele lutou para que a essas
                    inocentes criaturas não
                    sobreviesse nenhum mal,
Mas pouco pôde fazer por elas, e agora foi-se”.

If, when hearing that I have been stilled at
                    last, they stand at the door,
Watching the full-starred heavens that winter
                    sees,
Will this thought rise on those who will meet
                    my face no more,
“He was one who had an eye for such
                    mysteries”?

Se, ao saber que aquietei-me afinal, eles
                    estiverem de pé à porta,
Acompanhando os céus inteirametne estrelados
                    que o inverno vê,
Irá esse pensamento despertar naqueles que
                    não mais encontrarão meu rosto:
“Ele foi alguém que tinha olhos para tais
                    mistérios.”?

And will any say when my bell of quittance is
                    heard in the gloom,
And a crossing breeze cuts a pause in its
                    outrollings,
Till they rise again, as they were a new
                    bell's boom,
"He hears it not now, but used to notice such
                    things?”

E irá alguém dizer quando o sino da minha
                    despedida for ouvido ao
                    escurecer,
E a brisa que passa cortar uma pausa em seus
                    desenrolares
Enquanto não tornam a levantar-se como se
                    fossem um novo repicar de sino:
“Ele já não ouve mas costumava notar tais
                    coisas”?



HARDY, Thomas. "Afterwards". In: AUDEN, W.H. Fazer, saber, julgar. Tradução de Ângela Melim. Ilha de Santa Catarina: Noa Noa, 1981.

5 comentários:

Alcione disse...

Antes

O barulho da marola
Por nada é interrompido
Na areia
Um singular
Pedaço, escasso
De mar
Segue ao meu olvido
Ouço à revelia
A rebeldia das
Cores, traços
Das flores e dos botões
Cheios de vida, começos
Cheios de mágoa, me enterneço
Mas nada é como a nossa ilha
Lembranças de quando crianças
Corríamos atrás de corredeiras
Formadas entre as calçadas...
... as árvores e florestas cantando
E à beira do lago, teu sorriso
É mais do que eu preciso.

Nobile José disse...

cicero,

sei q não é o tema do post, mas fico impressionado com o debate sobre o aborto no brasil, em pleno século XXI.
de todos os que escreveram sobre o assunto (todos os que li, frize-se), até agora nenhum me convenceu.
mas de tanto pensar, acho q não conseguiremos alcaçar uma resposta universal sobre o tema, ainda que paradoxalmente seja ele da ordem do "ser". quando surge o ser para a filosofia moderna?
ainda aguardo um texto do calligaris que ele prometeu na semana retrasada, pra um melhor pensar.
agora, o q não é impressionante, mas lamentável, é o nível de pré-modernismo alcaçado pela campanha pra presidente.
seja do lado de quem se apropriou do discurso "carola" pra atacar o outro lado; seja do lado que se submeteu ao discurso "carola", pra se "salvar".
o fato é que sinto falta de uma visão moderna sobre agora.
abrç.

Roberto Bozzetti disse...

Comoção. É o efeito deste poema neste humilde leitor. Obrigado, Cícero

Sebastião Ribeiro disse...

Como poeta me sinto especialmente tocado neste texto, claro. Sigo este blog há um bom tempo porque é de fato como eu o chamo, "mamadeira". Obrigado por nos trazer esperança com textos tão belos!

Eleonora Marino Duarte disse...

observador,

sensibilíssimo!


obrigada por mostrar.

beijo.