24.10.10
Manuel Bandeira: "Tema e voltas"
Tema e voltas
Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se nos céus há o lento
Deslizar da noite?
Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se lá fora o vento
É um canto na noite?
Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se agora, ao relento,
Cheira a flor da noite?
Mas para quê
Tanto sofrimento,
Se o meu pensamento
É livre na noite?
BANDEIRA, Manuel. "Belo belo". Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1967.
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Manuel Bandeira,
Poema
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18 comentários:
Interrogações que se respondem a si mesmas. Belo poema. Se pode falar muito pouco depois de lê-lo. Um abraço. Jefferson.
Não sei mesmo para quê, mas é assim... Salve Bandeira!
Meus mais sinceros agradecimentos por nos proporciar tanta informação é cultura em teu espaço, Antônio Cicero. Muito bom passar por aqui!
Abraço!
Cicero,
belo belo belo! Salve Bandeira, mestre!
Abração,
A. Nunes.
Cicero,
um novo poema:
"amanhã, às três e quinze."
meu bem,
não pare não.
não desista
do desejo, não
troque o desejo
pelo desejo
de ficar
na solidão.
no centro
da pista
de dança,
há o vão.
ninguém
precisa entender
o que
as coisas são.
não basta
ter em mente
o que
é ter razão.
siga em frente,
adiante-se,
ponha os pés
acima
do chão.
quem sabe,
no futuro,
quem sabe lá,
no fim
do túnel,
encontre-se
intacta
a escuridão.
meu bem,
não sonhe
não.
esqueça a cabeça,
desça do olimpo
dessa frágil contemplação,
chute o barraco,
grite,
gaste
o nervo vago,
corra,
não morra
na contracultura
da contramão.
não sofra,
é tudo vão,
é tudo tão
produto
bruto
interno
tipo íntimo
exportação.
fecha
a fresta
quando for
fugir!
Abração,
A. Nunes.
reina soberana a bandeira do bandeira soberano
Ah, BANDEIRA !!!!
Sempre BANDEIRA !!!
BELO BELO !!!
Fantástico, revelador, curioso e
extremamente poético !!!
Sempre bom !!!!
JORGE SALOMÃO RIO 2010
simples e bonito. boa escolha!
1- Por favor, nem precisa publicar. Mas veja que beleza (vc já conhece, obviamente).
Poema do alegre desespero
António Gedeão
Compreende-se que lá para o ano três mil e tal
ninguém se lembre de certo Fernão barbudo
que plantava couves em Oliveira do Hospital,
ou da minha virtuosa tia-avó Maria das Dores
que tirou um retrato toda vestida de veludo
sentada num canapé junto de um vaso com flores.
Compreende-se.
E até mesmo que já ninguém se lembre que houve três impérios no Egipto
o Alto Império, o Médio Império e o Baixo Império
com muitos faraós, todos a caminharem de lado e a fazerem tudo de perfil,
e o Estrabão, o Artaxerpes, e o Xenofonte, e o Heraclito,
e o desfiladeiro das Termópilas, e a mulher do Péricles, e a retirada dos dez mil,
e os reis de barbas encaracoladas que eram senhores de muitas terras,
que conquistavam o Lácio e perdiam o Épiro, e conquistavam o Épiro e perdiam o Lácio,
2- e passavam a vida inteira a fazer guerras,
e quando batiam com o pé no chão faziam tremer todo o palácio,
e o resto tudo por aí fora,
e a Guerra dos Cem Anos,
e a Invencível Armada,
e as campanhas de Napoleão,
e a bomba de hidrogénio,
e os poemas de António Gedeão.
Compreende-se.
Mais império menos império,
mais faraó menos faraó,
será tudo um vastíssimo cemitério,
cacos, cinzas e pó.
Compreende-se.
Lá para o ano três mil e tal.
E o nosso sofrimento para que serviu afinal?
Não
Das sombras
Os silvos
Mandam salvas de
Canhões
Somos salvos
Somos embriões
Do amanhecer
Que está a crescer
Em meio à podridão
Bendito seja o coração
E seu não.
Mel para quem sofre...
Cicero,
Um soneto:
"Dentro do impossível" - Para meu amado amigo Mariano.
Entre o som e o signo,
Sigo só. Divirto-me
Com o que é sem nome.
O sonho designo
Porque é o que sobra
Dentro do impossível.
Tudo é acessível
De uma vez: Manobra
Delicada, dita
De insólito porto.
Nesse tempo torto,
Nunca se cogita
Se a vida é finita,
Absoluto absorto.
Abração,
Adriano Nunes.
Maravilha ler esse poema nesta noite chuvosa no Rio de Janeiro...
Obrigada!
Bandeira é um mestre!
"lento vento
relento pensamento... sofrimento?!" divagações poéticas preciosas e viva Bandeira.
Um beijo.
Cicero,
um pequeno poema:
"o cárcere"
em casa,
as quatro
paredes
abrigam
as asas
do ser
que só
eu pude
não ser.
em casa,
é dédalo
ou nada.
Abração,
A. Nunes.
Muito legal a poesia
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