15.4.12

Vinícius de Moraes: "Soneto do Corifeu"




Soneto do Corifeu

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
e que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.



MORAES, Vinícius de. "Soneto do Corifeu". In:_____. Nova antologia poética. Org. por Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

7 comentários:

léo disse...

O QUE ME SOBRA



Dentro de mim, existe o árido.

Ilha de pedra sem ancoradouro.

Saara sem oásis, despenhadeiro.

Eu mesmo, muitas vezes, o desconheço.

Afinal, minha dor, ninguém sabe onde fica.

Minha raiva, ninguém sabe aonde eu finco.

A razão parece sempre estar em falta.

O que me sobra, emaranhado, é o que sinto.

guilherme e. meyer disse...

Sempre que posso dou uma entrada no teu blog...Tenho traduzido alguns dos poemas daquela coleção dos cem melhores do século para o inglês e agora tomei a liberdade de me aventuar na tradução do teu guardar(não sei se já foi traduzido ou não)...Vou postar um esboço inicial no meu blog(www.fundodocopoprofundo.blogspot.com), ficaria muito grato e feliz se tu pudesses dar uma olhada e me dizer o que achas...Um grande e sincero abraço, Guilherme E. Meyer

Pedro Henrique disse...

Cícero, leia que poema!

Agasalhos

Vi-o a sair do hospital
com um casaco de senhora no braço.
Claramente ela não iria precisar de tal coisa.
Os óculos de sol que ele usava não conseguiam
esconder-lhe o rosto molhado, o seu desnorte.

E como uma piada de mau gosto o dia estava limpo
e o ar demasiado suave para dezembro. Mesmo assim
ele correu o fecho do blusão e atou
o capuz debaixo do queixo, preparando-se
para um frio irremediável.

[Jane Kenyon]

Antonio Cicero disse...

Realmente, Pedro Henrique, é um poema incrível.

Abraço

Eleonora disse...

Prezado Antonio Cícero,

O poema Agasalhos me lembrou deste outro do Mia Couto.

Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele encontrará
o único agasalho possível
- um outro coração.

Mia Couto

Caio Graco C de Carvalho disse...

Vinicius é incrível. Ele mudou a minha vida. O primeiro contato direto que tive com a sua poesia (Garota de Ipanema não vale; até uma criança na Sibéria conhece) foi quando ouvi o "Afro Sambas", de 1966. Inclusive, tive a grande oportunidade e o prazer de entrar no camarim do Quarteto Em Cy quando elas vieram à Fortaleza, olhar no fundo dos olhos da Georgiana de Moraes e dizer: "eu amo o seu pai. Eu amo o Afro Sambas". Na verdade, era eu falando isso pra ele. Sei que ele ouviu. E ficou feliz.
P.S. quem sabe um dia eu não consiga um autógrafo seu em uma Nova Antologia Poética?!

Antonio Cicero disse...

Caro Caio Graco,

claro que lhe darei o autógrafo com prazer, quando você quiser.

Abraço