17.4.12

Adolfo Casais Monteiro: "Aurora"




Aurora

A poesia não é voz — é uma inflexão.
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho de cada um, expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:

voo sem pássaro dentro.




MONTEIRO, Adolfo Casais. "Vôo sem pássaro dentro" In:_____. Poesias completas. Lisboa: Casa da Moeda, 1993.

7 comentários:

A VIDA NUMA GOA disse...

Que lindo isso.

Ruy Lozano disse...

"[A literatura] me faz descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas experiências e permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la assim. Mais densa e mais eloqüente que a vida cotidiana, (...) a literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo." (TODOROV,T. A literatura em perigo. Rio de Janeiro, Difel, 2009, pp. 23-24).

Alcione disse...

um dia eu
amei umas
pessoas
agora esqueci
amo agora
tão somente um
pequeno bem-te-vi
no céu aberto
sem questão
canta o coração
ser fragmentado
em múltiplas faces
agora um desenlace.

Nobile José disse...

o último verso lembra mto manoel de barros...

Anônimo disse...

É esta a assência da poesia. O que ainda falta ser dito e o que não foi descoberto. É um estado de autoconhecimento.

Albino M. disse...

Para 'Nobile José':
- Tirante que M.Barros é vivo (2012-é, não é?), e Adolfo C.M. morreu há 5o anos (1972)...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Adolfo_Casais_Monteiro

Nobile José disse...

poisé albino, esse é um dos lances da poesia q curto montão.