13.4.12

Blaise Cendrars: "Os três estados da escritura"




Os três estados da escritura:
Primeiro, um estado de pensamento. Viso o horizonte, agarro os pensamentos a voar, engaiolo-os inteiramente vivos, a esmo, rapidamente e aos montes, estenografia. Segundo, um estado de estilo. Separo meus pensamentos, escolho-os, endireito-os, eles correm empenachados nas frases, caligrafia. Terceiro, um estado de palavra. Correção, preocupação com o detalhe novo, o termo justo, exato, a estalar como uma chicotada e que faz que o pensamento empine, tipografia.



CENDRARS, Blaise. "Les trois états de l'écriture". In: CENDRARS, Miriam. Blaise Cendrars: L'or d'un poète. Paris: Gallimard, 1996.

4 comentários:

João Renato disse...

Cícero,
Quando eu comecei a ler poesia, achava que poetas eram pessoas que viviam mais intensamente a vida do que os outros.
Depois, passei a achar que poetas eram pessoas com vidas iguais a todos, só que escreviam sobre ela.
Depois que comecei a escrever, fui descobrindo que poeta é quem tem compromisso só com "a sua escrita", mas que - antes - precisa descobrir qual é ela, criá-la.
JR.

Ruy Lozano disse...

"A suprema ventura do escritor é o pensamento capaz de tornar-se por inteiro sentimento, o sentimento capaz de tornar-se por inteiro pensamento."

Thomas Mann, Morte em Veneza.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

um poema para Adriana:


"Placebo" - Para Adriana Calcanhotto



Projéteis profanam o céu de Gaza
Permanecemos em casa
Prostitutas transitam assustadas
Permanecemos sem fala
Por que aquele homem pede a si perdão?
Permanecemos na estrada
Ponte e prédios desfeitos na enxurrada
Permanecemos sem mágoa
Peruana é presa em belém por tráfico
Permanecemos sem graça
Prorrogaram as provas, protestaram
Permanecemos e... nada
Prometeram pagar hoje o salário
Permanecemos? Que calha?
Pesquisarão sobre a origem do mal
Permanecemos sob tralhas
Plantas, pássaros, peixes, povos passam
Permanecemos e... basta?
Parece que o poeta quer calar
Pereceremos sem mágica.



Abraço forte,
Adriano Nunes

André disse...

Gostei da postagem. Expressa bem uma coisa difícil, inacessível à maioria dos próprios escritores. Existe algo de escultor em um poeta, ao trabalhar as idéias na língua. Ao vermos a escultura pronta, parece tão natural... (Moisés já estava dentro do mármore...) Mas a arte é a perfeita medida da ação, e não há aperfeiçoamento sem um árduo trabalho.