7.8.09

Carlos Pena Filho: "A solidão e sua porta"





A solidão e sua porta


Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
e quando nada mais interessar,
(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando pelo desuso da navalha
a barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida
do mundo que te foi contraditório,
lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída:
entrar no acaso e amar o transitório.



PENA FILHO, Carlos. Livro geral. Olinda: Gráfica Vitória, 1977.

14 comentários:

Antonio Cicero disse...

Caro João Renato,

como você pode ver, basicamente funcionou a sua dica. Muito obrigado.

Abraço

mary disse...

mas eu gostava do ponto.
:)

Unknown disse...

que maravilha, cicero, que poema lindo!

ou seja: desistir da vida, largá-la ao léu? por quê?

deixe que ela acabe assim que tudo, de fato, estiver acabado, a sete palmos da terra.

beijo, meu querido!

paulinho disse...

fui eu quem escrevi a mensagem acima, sobre o poema!

beijo!

Janaina Amado disse...

O pernambucano Carlos Pena Filho é realmente grande poeta, que bom você ter se lembrado dele. Morreu jovem. Trazido do site do releituras, posto aqui, também de Carlos Pena Filho,

Soneto oco

Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado
sendo em fraco metal, agora é preto
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres//
olha pois este jogo de exilado//
e vê se entre as lembranças te descobres.//

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Ótimo soneto!


Abraços,
Adriano Nunes.

Climacus disse...

Cícero, o poeta é principalmente e sobretudo um sujeito generoso?

João Renato disse...

Caro Cícero,
Seu blog é sempre muito bom, e ficou mais bonito sem o ponto.
Abraço,
JR.

Alcione disse...

Perfume

Ah, que sois tão bela
Parece uma aquarela
E na noite do açoite
Vislumbro todo um mundo
Ali sou seu vagabundo
Seu poeta, criador
Seu amor
E mesmo sem poder tê-la
Posso vê-la
Imersa nas nuvens
Que enfeitam o céu
Seus pés, de sereia
O próprio mel
Perfume que estonteia.

Antonio Cicero disse...

Antonio Bento,
só se pode dizer com certeza que o poeta é principalmente e sobretudo um sujeito que faz poemas.
Abraço

ADRIANO NUNES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jefferson Bessa disse...

Nem saída
Nem aceitação
Nem antes
Nem depois

Com tanta negação
estarei sendo este que passa?

Ser o acaso
Atravessar a rua

Nada Resta
Nem Entro
Não Saio
Nem Amo

Os pés andam

(Jefferson)

Um abraço.

O Auscultador do Invisível disse...

Dança

Anônimo disse...

Era criança, lembro-me da comoção que causou no Recife a morte do poeta em um acidente de carro, com pouco mais de 30 anos. O curioso é que uma testemunha disse que logo após a batida com o ônibus que atingiu o carro em que estava, Carlos Pena Filho parecia o mais inteiro, parecia bem. Porém houve uma lesão na coluna cervical que lhe tiraria a vida. Lindo poema, um dos meus preferidos. Recife ama os seus poetas. Seu busto foi erguido em frente ao belíssimo prédio da Faculdade de Direito.Há no youtube um documentário com muitos depoimentos, inclusive do grande artista Francisco Brennand, a quem foi dedicado o poema.