12.6.09

Constatinos Cavafis: "Οταν διεγείρονται" / "Quando despertam": tradução de Ísis Borges da Fonseca

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Quando despertam

Esforça-te em guardá-las, poeta,
por menos numerosas que sejam as que se detêm.
As visões de teu erotismo.
Põe-nas, meio ocultas, em tuas frases.
Esforça-te em guardá-las, poeta,
quando despertam em teu cérebro,
na noite ou no fulgor do meio-dia.



Οταν διεγείρονται

Προσπάθησε να τα φυλάξεις, ποιητή,
όσο κι αν είναι λίγα αυτά που σταματιούνται.
Του ερωτισμού σου τα οράματα.
Βαλ'τα, μισοκρυμένα, μες τες φράσεις σου.
Προσπάθησε να τα κρατήσεις, ποιητή,
όταν διεγείρονται μες το μυαλό σου
την νύχτα ή μες την λάμψι του μεσημεριού.



DE: KAVÁFIS, K. Poemas de K. Kaváfis. Tradução de Ísis Borges da Fonseca. São Paulo: Odysseus, 2006.

13 comentários:

Amélia disse...

Posso deixar a tradução deste belo poema feita por Eugénio de Andrade? Gosto de confrontar versões - E. Andrade definia o traduzir á maneira de Antonio Machado, como «trocar de rosa»...
É assim: a sua tradução:

Procura guardá-las, Poeta,
por poucas que sejam de guardar,
do teu amar as visões;
Coloca-as ocultas nas tuas frases.
Procura detê-las, Poeta,
quando em tua cabeça elas despertam,
de noite ou na luz crua do meio-dia.

Um abraço grato por tudo o que vem postando no seu blogue.

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Amélia.
Não conhecia a bela tradução do Eugénio de Andrade.

Janaina Amado disse...

Gosto tanto do Kaváfis, fiquei tão contente de econtrá-lo hoje aqui (e também a outra tradução do mesmo poema, postada pela Amélia), que peço licença, Antônio Cícero, para copiar aqui outro poema do mesmo autor, desta vez em tradução de José Paulo Paes (os // indicam o final de cada verso):

Muros

Sem cuidado nenhum, sem respeito nem pesar,//
ergueram à minha volta altos muros de pedra.//

E agora aqui estou, em desespero, sem pensar//
noutra coisa: o infortúnio a mente me depreda.//

E eu que tinha tanta coisa por fazer lá fora!//
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.//

Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fora.//
Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse.//
Kontantino Kaváfis
Trad.: José Paulo Paes

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Lindo!

Um soneto meu:

"O SONETO DO ESQUECIMENTO" (PARA MEU AMIGO MARIANO, DO BLOG POEIRA DE SEBO)


Acordo. Violentamente,
A vida me lança aos desvãos
Vazios do meu coração.
Abro os olhos e sigo em frente.


Tudo dorme em redor de mim,
Tudo se torna esquecimento,
Silêncio, sombra. Nada aguento.
Dentro desse coma sem fim,


Meus sonhos são sobras de dor.
Ou são vestígios de algum verso
Que li, que meu mundo mudou?


Volto ao poema e me disperso
Em seus sentidos, em seus vôos.
Assim, percebo estar desperto.


Abraço forte!
Adriano Nunes.

Arthur Nogueira disse...

Querido Cicero,

que belo post, adorei as duas traduções. No entanto, o uso do adjetivo "fulgor" na versão de Ísis é irresistível.

Um parênteses: lembrei de já ter lido Antonio Miranda classificando você como "um Kaváfis redivivo, atualizado, a um tempo cerebral e carnal, clássico e pós-moderno, despojado e ousado. Sem retórica".

Beijo.

Jefferson Bessa disse...

Constante vigília que se volta para o Amor que desperta!
Constatinos sempre nos eleva, caro Cícero!

Um abraço.
Jefferson.

Francisco Saldanha disse...

Que bela tradução.É sempre maravilhoso entra neste blog e encontrar poemas tão irresistíveis.

Cicero tenho lido muito suas poesias -nesses dias de esquecimento-,principalmente do livro "cidade e os livros".

Grande abraço.

João Renato disse...

Prezado Cícero,

Acho Kavafis um poeta singular em tudo. Gostaria de postar essa tradução do José Paulo Paes do poema "O Deus abandona Antônio".
Desconheço outra forma escrita que seja tão precisa sobre a dignidade da perda.

O Deus abandona Antonio

"Quando, à meia-noite, de súbito escutares
um tiaso invisível a passar
com músicas esplêndidas, com vozes -
a tua Fortuna que se rende, as tuas obras
que malograram, os planos da tua vida
que se mostraram mentirosos, não os chores em vão.
Como se pronto há muito tempo, corajoso,
diz adeus à Alexandria que de ti se afasta.
E sobretudo não te iludas, alegando
que tudo foi um sonho, que teu ouvido te enganou.
Como se pronto há muito tempo, corajoso,
como cumpre a quem mereceu uma cidade assim,
acerca-te com firmeza da janela, e ouve com emoção, mas ouve sem
as lamentações ou as súplicas dos fracos,
num derradeiro prazer, os sons que passam,
os raros instrumentos do místico tiaso,
e diz adeus à Alexandria que agora perdes.


* Thiasus eram procissões alegres, típicas do culto a Dioniso. Consta que Marco Antônio (que cultuava Dionísio), na madrugada que antecedeu à derrota da sua frota pelas forças de Otávio Augusto, foi despertado no meio da noite pelo som de um Thiasus invisível, que lentamente se afastava dele. Ele interpretou a alucinação como um sinal de mal agouro, e após perder a batalha por Alexandria, suicidou-se.

Desculpe o tamanho do comentário.
Abraço,
João Renato

Antonio Cicero disse...

Agradeço a Janaina, Adriano, Arthur, Jefferson, Saldanha (bom tê-lo por aqui!) e João Renato pelas palavras gentis e pelos poemas

Abraços

Domingos da Mota disse...

Caro poeta e filósofo António Cícero,

Obrigado pela publicação deste belo poema de Konstandinos Kavafis.
Permita-me que do mesmo autor, e na tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis, aqui deixe o poema

FUI


Não me manietei. Dei-me totalmente
e fui./ Aos deleites, que metade reais,/ metade volteantes dentro da minha cabeça estavam,/ fui para dentro da noite iluminada./ E bebi dos vinhos fortes, tal/ como bebem os denodados do prazer.


in POEMAS E PROSAS, Relógio d'Água Editores, Lisboa, 1994

Antonio Cicero disse...

Domingos, obrigado!
Belíssima lembrança!

Abraço

Anônimo disse...

Caro Cicero,

Achei isto no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=ZyBBe6GjCKA).
Talvez te interesse.

Abraço,
Carlos Eduardo

Antonio Cicero disse...

Carlos Eduardo,

Obrigado. Adorei.

Abraço,
ACicero