25.6.09

Sarkozy e a burca




Ontem Penetralia deixou um comentário sobre meu artigo “O clássico e o contemporâneo”, dizendo que estava tudo bem com as minhas posições, desde que eu não defendesse a “proibição imbecil do Sarkozy da burca em nome da laicidade e da razão”. Respondi que não via relação entre o artigo citado e a questão da burca. Hoje Marcelo Pereira, confundindo a burca com o chador, que é um lenço no cabelo, e que já havia sido proibido nas escolas francesas antes do governo Sarkozy, defendeu essa proibição.

A burca, porém, é algo muito mais grave do que o chador. Como se pode ver pela foto acima, ela cobre toda a cabeça, inclusive o rosto de quem a usa. Anteontem o Sarkozy falou em proibir a burca. Essa proibição não se basearia simplesmente na defesa da laicidade e da razão, como afirma Penetralia, mas na convicção de que se trata de algo opressivo à mulher. “Em nosso país”, disse Sarkozy, “não podemos aceitar que mulheres sejam prisioneiras atrás de uma tela, privadas de toda vida social, desprovidas de toda identidade”. Sarkozy observou também que “a burca não é um sinal religioso, é um sinal de subserviência, de rebaixamento”.

Mesmo embora eu não simpatize muito com o Sarkozy, acho que ele está certo, sim. Entre as correntes mais conservadoras do Islã, as mulheres – jamais os homens – são obrigadas a usar a burca. Haverá sem dúvida mulheres que gostam de usar a burca, pois, como diz Sartre, há quem prefira ser coisa do que ser gente, mas penso que a proibição é o único caminho para permitir que as muitas mulheres que se sintam humilhadas por essa vestimenta-prisão livrem-se dela. Sem a proibição, é certo que muitas mulheres que não gostam da burca sejam obrigadas a usá-la pelos maridos que, no Islã, têm o direito de bater nas esposas.

51 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Um tiro de fuzil na hipocrisia e na intolerância! Lindo texto! A BURCA QUE SE CUBRA!


Abraço forte!
Adriano Nunes.

Marcelo Pereira disse...

Antonio Cicero,

Não sabia desta fala do Sarkozy sobre proibir a burca, daí eu ter falado sobre a lei contra uso ostensivo de símbolos religiosos de 2004. Não a confundi com o chador, portanto.

Minha posição neste caso é a mesma que a sua: Sarko não me desperta grandes simpatias, mas neste caso concordo com ele.

Um abraço e mais uma vez parabéns pelo blog.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Fiz esse poema agora em apoio ao seu texto:

"A BURCA"


A BURCA QUE SE CUBRA,
QUE SE DOBRE E SE GUARDE,
QUE SE RASGUE E SE QUEIME,
QUE SE LIVRE DE SI,
QUE SE JOGUE NO FOGO,
QUE SE DANE E SE VÁ.


A BURCA QUE SE GASTE,
QUE ENVELHEÇA, DESFIE,
QUE SE DEFINHE SÓ,
QUE SE ENROQUE NA TREVA,
QUE DESBOTE, APODREÇA,
QUE SUMA DAS CABEÇAS!



BEIJÃO,
ADRIANO NUNES.

fred girauta disse...

Cícero,

não lhe parece que seria mais adequado, em vez de proibir a burca, proibir a obrigatoriedade de seu uso por motivos religiosos?
Como vc mesmo diz, deve haver mulheres que gostam de usá-la. A proibiçao pura e simples tem algo de autoritário, ditatorial; cerceia um direito individual.
Em Sampa, algo semelhante está próximo de acontecer com o cigarro. Do jeito que a coisa vai, um cigarrinho só dentro de casa...

abraço!

Antonio Cicero disse...

Fred,

não se pode proibir as motivações, intenções ou pensamentos de uma pessoa. Há, de fato um conflito de direitos aqui. Mas a verdade é que, espontaneamente, quase ninguém anda, por vontade própria, coberto da cabeça aos pés. Por isso, a meu ver, o direito de fazê-lo não é tão fundamental quanto o das mulheres muçulmanas de não andarem cobertas da cabeça aos pés. A burca as impede de se relacionarem normalmente com qualquer um fora do seu círculo familiar. Assim, elas ficam sendo efetivamente monopolizadas pelas suas famílias e, em particular, pelos seus maridos. Isso infringe os seus direitos humanos.

Marcelo Pereira disse...

Antonio Cicero, concordo com você. É remotíssima a chance de uma pessoa usar por livre e espontânea vontade uma coisa daquelas, que é o símbolo máximo da opressão feminina e da submissão, a anulação da pessoa. Restringe o movimento a tal ponto de que, ao dirigir o olhar para algum ponto, a mulher tem que mover o corpo todo, sendo assim notada em sua intenção.

Proibições assim sempre têm uma carga polêmica grande, mas nesse caso o respeito à dignidade humana fundamental está acima da liberdade religiosa. É o mesmo caso da extirpação do clitóris, que mesmo sendo um costume consagrado em algumas culturas, é intolerável numa sociedade como a francesa, italiana ou brasileira. Não há multiculturalismo que justifique.

Marcelo Pereira disse...

Fred,

No caso do cerceamento ao tabagismo, estou de acordo com você. E olha que eu nem fumo!

Acho que está havendo um certo exagero. Concordo em que não se fume em locais de trabalho, repartições, metrô, ônibus etc. São locais em que forçosamente fumantes e não-fumantes têm que conviver, sem que o primeiro não prejudique o segundo. Cria-se um fumódromo local e tudo bem.

Mas proibir completamente em restaurantes e boates? Ora, vai-se a lugares assim por livre e espontânea vontade. Para mim seria mais adulto, mais civilizado e menos paternalista que os restaurantes avisassem se ali se permite ou não fumar e se há áreas para fumantes. É um caso típico que o "mercado" regularia. Com o crescimento da consciência de gente que rejeita o cigarro, naturalmente haveria uma demanda grande por ambientes livres de fumaça.

Me parece que essa quase histeria em torno do tema é uma importação do puritanismo norte-americano, pois o cigarro não tem função outra que dar prazer a quem fuma. Há um texto sobre o assunto muito interessante, que talvez os amigos deste blog gostem: http://cidadeealma.blogspot.com/2009/05/da-psicologia-do-tabaco.html

Abraços.

paulinho disse...

cicero, meu amor,

adorei TUDO o que você escreveu.

de fato, o uso OBRIGATÓRIO da burca é uma demonstração de autoridade e poder dos homens. temos que entender que, numa sociedade, valores culturais vêm acompanhados, diversas vezes, do exercício do poder e da força de um determinado grupo sobre o outro.

o uso obrigatório da burca é tão absurdo quanto a retirada forçada do clitóris de mulheres pertencentes a um grupo social na áfrica. na tal sociedade africana, nenhum homem é capado, nenhum homem tem a sua bolsa escrotal extirpada, assim como nenhum homem pertencente ao islã tem a obrigatoriedade de uma veste que lhe tape todo corpo e nenhuma mulher é autorizada a bater nos seus maridos.

é ÓBVIO (pelo menos para mim) que, por trás dessa "questão cultural", por trás desses "valores de costumes", há o exercício da força, do poder, o exercício promulgado entre quem manda e quem é obrigado, coagido, a obedecer.

eu não simpatizo NADA com o sarkozy (um homem com esse sobrenome não deveria apoiar as políticas xenófobas que apóia), mas, nesse ponto, tenho que concordar com ele.

agora, "haverá sem dúvida mulheres que gostam de usar a burca, como há mulheres que gostam de apanhar", isso não me desceu bem, não.

porque, neste caso, o buraco é beeeem mais embaixo. ninguém gosta de apanhar. dói, machuca, é uma agressão ao corpo. não é bacana. o que acontece, e muito, são mecanismos que o cérebro cria, de dependência emocional, de infantilização psíquica, que faz com que determinadas mulheres não consigam se livrar dos companheiros que costumam agredi-las, chegando a responder, se questionadas sobre a razão de viver com os seus agressores, que "não ligam para as agressões", que "já se habituaram às pancadas". escrevo sobre isso com alguma propriedade porque já li um bocado a respeito sobre violência contra mulher, produzindo, inclusive, um programa para um canal da tv aberta, sobre esse tema.

caetano veloso, num trabalho seu intitulado "noites do norte ao vivo", ao final da canção "dom de iludir", insere um funk carioca, cuja letra diz que "um tapinha não dói". repetindo este verso seguidas vezes, ao pronunciá-lo pela última vez, genialmente ele o muda, sentenciando: "um tapinha dói". e ele, caetano, está certo. um tapinha machuca deveras.

no mais, tudo bonito, tudo lindo, tudo no lugar.

tudo como você, meu poeta porreta!, tudo divino-maravilhoso!

beijo grande, riqueza!

Unknown disse...

Antônio Cícero,

Acho problemático falar em espontaneidade. Seria espontâneo usar roupas num calor de 30 graus?
Não seria espontâneo para os tupinambás, é espontâneo para o Ocidente.

Não quero dizer com isto que sou contra a proibição. Diante de uma questão tão complexa, prefiro a posição pirrônica.

O relativismo cultural é um valor importante. Não é o único, claro.
A dignidade dessas mulheres é um valor mais importante.

Não se pode esquecer, no entanto, que há a crença dessas mulheres. A simples proibição significa tratar essa crença como falsa.
Porque suponhamos que o Islã e seus dogmas e escritos sejam, de fato, a Verdade Revelada por Alá.
E aí?
A proibição só existe e é apoiada porque tratamos essa crença com desrespeito.

Não acho que haja relativismo possível quando a questão é o apedrejamento das adulteras, por exemplo.

Mas acho razoável imaginar que em pessoas inseridas em um sistema de valores diferente do nosso, é esperado que haja outros tipos de sociabilidade.
Nesse sentido não tenho certeza se é ultrajante para uma mulher muçulmana o uso da burca.
Sei que seria para uma mulher ocidental.

Não sei se há em alguma escritura sagrada do Islã em que há a prescrição do seu uso. Se houver a questão se complica muito.

Minha "fala" não tem final nem unidade justamente porque não tenho posição definida a respeito. Tendo a concordar com a proibição porque a questão dos gêneros me sensibiliza muito. Mas gostaria de ser plenamente convencido.

Bom, queria dizer que seu poema “Guardar” é das coisas mais bonitas que já li.

Abraço.

Mateus.

Antonio Cicero disse...

Paulinho,

de fato, reconheço que a afirmação de que "haverá sem dúvida mulheres que gostam de usar a burca, como há mulheres que gostam de apanhar" é um tanto grosseira. Mas o que eu quis dizer é que o argumento de que há mulheres muçulmanas que defendem o uso da burca não é válido. Há todo tipo de gente e todo tipo de gosto. Há gente que prefere ser oprimida a ser livre. Há também mulheres muçulmanas que defendem a clitorectomia. Mas é importante defender o direito daquelas que não querem ser oprimidas ou mutiladas.

paulinho disse...

meu amor,

como sempre, você ARREBENTOU!

neste aspecto, concordo inteiramente! ainda que existam os oprimidos que digam que gostam de viver a opressão, há aqueles que desejam não vivê-la, não experimentá-la, e é por essas pessoas que devemos acabar com as obrigatoriedades que castram.

maravilha, meu bem!

você é o MÁXIMO, sabia (rs)?

beijo bom!

Antonio Cicero disse...

Mateus,

Você diz "Acho problemático falar em espontaneidade. Seria espontâneo usar roupas num calor de 30 graus? Não seria espontâneo para os tupinambás, é espontâneo para o Ocidente".

Acontece que, numa sociedade moderna, praticamente todos os trajes são permitidos. Ninguém é obrigado a usar isto ou aquilo. Só não se pode mesmo é andar nu. Ora, por livre e espontânea vontade, não conheço ninguém que prefira andar coberto da cabeça aos pés, seja qual for o calor: exceto, é claro, no carnaval.

Há algo de monstruoso em não permitir que o rosto de uma pessoa jamais seja visto por ninguém fora da sua família nuclear. É claro que é possível que haja quem queira ter uma vida assim: foi o que eu quis dizer quando mencionei (reconheço que de modo grosseiro, nelson-rodrigueano) que há até quem goste de apanhar. Mas é preciso proteger as pessoas que, não querendo usar a burca, são obrigadas a isso pela comunidade: em geral, por motivos religiosos.

Ora, a proibição da burca, além de proteger a liberdade daquelas que não querem usá-la, dão uma boa desculpa para a auto-liberação daquelas que se sentem obrigadas a fazê-lo por motivos religiosos.

Abraço

Anônimo disse...

Cicero,

e os aspectos práticos?

quem é que vai para a prisão (ou paga a multa) da burka em frança? a mulher? ou o marido dela ou o pai (ou ambos)?

a polícia pára a mulher, tira-lhe a burka e depois dá-lhe protecção quando ela chega a casa? e no dia seguinte está à porta para ter a certeza que ela não volta sair de burka e nem tem um olho negro?

proibir é fácil - mas e o resto?

e depois: será que uma tal proibição resulta?

pergunto-me até quantas gerações as filhas de emigrantes usam burka - e os filhos de emigrantes querem que as suas mulheres usem burka:
- se tiver que adivinhar diria que nem a primeira geração de filhos de emigrantes usa burka/obriga ao seu uso; e que grande parte dos recém-chegados desistem da burka logo no seu primeiro ano em frança (ou na holanda, onde for)...

não sei, estou a adivinhar, mas seria interessante saber, de facto, como é que as coisas se passam.

proibir é o mais fácil, claro - mas também duvido que seja realmente o mais eficaz.

a frança (e a holanda e portugal...) deveria(m), sim, oferecer protecção e condições às mulheres, emigrantes ou não, que querem deixar os seus maridos que as obrigam a usar burka ou que, de qualquer outra forma, as maltratam;

sarkozy deveria preocupar-se com a integração e bem estar dos emigrantes em frança, claro, mas também com a sua protecção - presentemente em risco dado o assustador crescimento do partido nacionalista.

acho que talvez haja formas mais eficazes de proteger as mulheres com burka (e sem ela) e de promover o abandono dessa prática horrível.

eu entendo que proibir a burka serve aqui mais como um gesto louvável, como um sinal - porque realmente, na prática, não me parece que possa vir a tornar-se mais que isso sem criar problemas adicionais - mas mesmo como simples gesto, penso que haverá outros provavelmente mais eficazes (embora menos populistas).

abraço,
F.

Marcelo Pereira disse...

Esta questão do conflitos de direitos, típicas de um mundo cada vez mais globalizado, me interessa muito.

Há um livro que li recentemente e gostei bastante chamado "Cosmopolitanism: ethics in a world of strangers", de Kwame Anthony Appiah, professor de filosofia em Princeton, nascido em Gana. Você conhece, Cicero?

Aetano disse...

Cicero,

Diante dessa reflexão, a primeira coisa que me veio à cabeça foi um aparente impasse: qual a liberdade que vale mais, a da mulher que não quer usar a burca, mas é obrigada, ou a da mulher que quer usá-la, mas é proibida?

Acredito que uma possível resposta surja quando constatamos que a OBRIGAÇÃO de usar aquela vestimenta esconde uma concepção de mundo que afonta a dignidade da mulher, enquanto que por trás da PROIBIÇÃO existe uma tentativa de libertá-la dessa ofensa. Sim, é claro que a aludida OBRIGAÇÃO pode significar - para alguma mulher em especial - o cumprimento de um dever que lhe traz felicidade (por mais estranho que isso nos possa parecer). Nesse caso, a referida PROIBIÇÃO seria sentida como uma indevida interferência do Estado na esfera da liberdade individual.
Ocorre que a dignidade - e não alguma específica liberdade, como a de crença, por exemplo - é o valor supremo e nenhuma norma (legal, moral ou religiosa) deve ser obedecida se consistir num ataque àquele supra-valor.
Portanto, alio-me aos que defendem a PROIBIÇÃO.

Um forte abraço.

Aeta

Antonio Cicero disse...

A questão concreta, levantada por F. (é a Filipa?)é realmente complexa. Não tenho respostas. E a proibição de alguma coisa é sempre um problema. Mas que fazer?

Marcelo, conheço o Appiah, que é interessante sim. Quem melhor pensa sobre esse assunto, para mim, é o Amartya Sen, que já citei várias vezes aqui.

Abraços

Anita disse...

Muitos pontos interessantes foram levantados aqui, em especial o de F. Afinal, a lei está aí para proteger a mulher ou para punir duplamente?
Vi o post hj de manhã e passei o dia pensando sobre o assunto. Não concordo com tudo o que foi colocado e fico feliz em ver que não sou a única. Mas acho que de um modo geral a questão ainda está sendo vista por um olhar muito ocidental.
Por mais que achemos absurdo acreditar que alguém possa querer usar uma burka (ou burca?), concordo com o Mateus quando ele diz que "não se pode esquecer, no entanto, que há a crença dessas mulheres. A simples proibição significa tratar essa crença como falsa." E acompanho também a sua posição pirrônica...
Acho que a questão é delicada demais pra ser tratada simplesmente como certa ou errada. Já a comparação com a proibição do cigarro, creio que não seja das melhores. Não fumo, mas adoro o cheiro de cigarro. Sou fumante passiva por opção, apesar da intolerância do meu organismo à fumaça. Neste exato momento estou passando por uma crise de sinusite daquelas por ficar forçando a barra (e isso reforça a tese de que tem doido pra tudo nesse mundo). Também não concordo com a limitação que está sendo feita, mas tem que se ver que fumar ou não é uma questão de escolha, com exceção dos chineses, ninguém é obrigado a fumar, muito menos por questões religiosas...
E por falar em cigarro e França, que dizer sobre a proibição dos cartazes de Coco Chanel? Os franceses estão pegando um tanto pesado nessa história de proibição. Cadê a liberdade????

Anita disse...

Bem, o fato, é que independente do lugar do planeta e da religião na qual a mulher tenha nascido, somos alvos constantes de castrações dos mais variados tipos.

Abaixo coloco a música "Mulher navio negreiro", do Tom Zé. (Estudando o Pagode na Opereta do Segregamulher)

O macho pela vida
Se valida
A molestar a mulher
Se diverte.

Apavorada,
Ela, que se péla,
Pouco pára de pé,
E padece.

Quando ele pia, pia, pia,
Pra inibir na mulher o animal,
Talvez eu ria, ria, ria,
Vendo ele transar uma boneca de pau,
Com seu incubado,
Calado, colado, pirado pavor
Do segredo sagrado.

Por isto existe no mundo
Um escravo chamado


Mulher – Divino Luxo – Navio Negreiro
Graal – Puro Cristal – Desespero
Rosa-robô – Cachorrinho – Tesouro,
Ninguém suspeita dor neste ideal,
A dor ninguém suspeita imperial.

Eucaristia – Ascensão – Desgraça,
Filé-mignon – Púbis, Traseiro – Alcatra,
Banca de Revista – Açougue Informal – Plena Praça,
Ninguém suspeita dor neste ideal,
A dor ninguém suspeita imperial.

Anônimo disse...

Antonio,

Excelente texto e comentários engrandecedores!

Um poema:

***EPITÁFIO***

Descansem meus desassossegos,
Sobre essas palavras de pedra;
Adormeça assim minha dor,
Bem dentro de mim, entre livros,
No coma profundo das horas,
Nessa cova feita de versos,
Pois meu corpo não voltará
Ao barro e tudo voltará
Para os braços da Poesia,
Como fôra desde o Princípio,
Quando criamos Luz e Treva.


Beijos,
Cecile.

Marcelo Pereira disse...

Hummm, Amartya Sen...

Fui lá nos marcadores e vi os dois ótimos textos tendo ele como referência, um sobre as sandices do Zizek e outro sobre as identidades múltiplas. Já fui na Amazon atrás do livro Identity and Violence e - veja só - é da mesma editora do Kwame Anthony Appiah.

Obrigado, Antonio Cicero!

Marcelo Pereira disse...

Anita disse:

"Mas acho que de um modo geral a questão ainda está sendo vista por um olhar muito ocidental."

Evidente. A França é um país ocidental, laico e berço do Iluminismo. A burca é a negação de tudo isso.

Anita também disse:

"Por mais que achemos absurdo acreditar que alguém possa querer usar uma burka (ou burca?), concordo com o Mateus quando ele diz que "não se pode esquecer, no entanto, que há a crença dessas mulheres. A simples proibição significa tratar essa crença como falsa." E acompanho também a sua posição pirrônica..."

Você realmente acredita que a imensa maioria dessas mulheres (se não todas) usa burca por crença religiosa? Na França? Não há rcomendação do uso de burcas no Corão. Isso é uma herança de culturas tribais ultra patriarcais, não necessariamente islâmicas. O mesmo se dá com a extirpação do clitóris. Num país moderno, laico e ocidental, são uma aberração.

Anita também disse:

"Não fumo, mas adoro o cheiro de cigarro. Sou fumante passiva por opção,..."

Exato. Você tem opção. Essas mulheres de burca provavelmente não.


Anita também disse:

"E por falar em cigarro e França, que dizer sobre a proibição dos cartazes de Coco Chanel? Os franceses estão pegando um tanto pesado nessa história de proibição. Cadê a liberdade????"

Embora "liberdade" não seja um valor absoluto (em sociedade não se pode ser totalmente livre), concordo com você quanto ao absurdo da censura aos cartazes da Coco Chanel e (acrescento) ao Monsieur Hulot fumando (substituíram o cachimbo por cataventos). O argumento é a apologia ao fumo, mas acho que há razões mais profundas.

fabrício disse...

quer dizer que agora o sarkozy leu sartre e resolveu condenar todo mundo a ser livre? a gente podia também rasgar as roupas de pingüim das freiras por aqui e mandá-las pra praia, então. não seria mais razoável dotar o Estado de meios pra proteger as mulheres que são oprimidas pelos maridos do que proibir a liberdade de escolha, que é justamente o que se quer resguardar? não dá pra saber a priori quantas mulheres concordam com a burca, cícero. como pressupor isso? pelo fato de ser manipulação ideológica? então a gente deve começar por aqui proibindo a propaganda e a demagogia, além de levar a sério a ideologia e o fetichismo da mercadoria.
abraço.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Entre as discussões, um poema: rsrsrs! adoro tudo isso!

"SÚPLICA"


Retirem-me deste corpo.
Não necessito de cofre,
De prisão, de dentro estar
De nada, não mais preciso
De nervos, músculos, ossos,
Resgatem-me disto logo,
Não me larguem nos grilhões


Da matéria, nessa treva.
Formem-me sem uma forma
Fixa, sem arquitetura
Ferida de pedra ou ferro,
Façam-me viver de versos,
Cravem-me em outras palavras,
Entre as frases, as metáforas.


Projetem-me feito espectro,
Protejam-me dessa esfera
Forjada no fogo, à força,
Frívola, dessa figura
De linguagem, desse lixo
Esdrúxulo, desse estado
Epilético do ritmo.


Libertem deste espírito,
Devolvam-me o alívio, a vida,
Deixem-me virar um peixe,
Uma ave exótica, uma víbora,
Uma libélula alegre,
Um tigre dente-de sabre,
Em um poema, em um quadro.



Abraços,
Adriano Nunes.

Anônimo disse...

peço desculpa de não ter assinado - sou a Filipa, sim. (esqueço-me sempre que não estou a mandar um email e por isso uso o F.)
concordo com o Adriano Nunes - a discussão está óptima... e a poesia também!

bj,
F.

Antonio Cicero disse...

Caros Mateus, Anita e Fabrício,

Desculpem a demora a responder. É que estou ocupadíssimo, escrevendo um texto que, para variar, já está atrasado.

Lendo os comentários de vocês, parece-me que vivemos em mundos diferentes. Vocês viram o que é a burca? Que é uma espécie de caixa feita de tecido, com que se encaixa uma mulher? Vocês já viram como é, na rua, um casal, em que a mulher usa uma burca? O homem andando com a roupa que lhe aprouver – ocidental, oriental, eclética, o que for – com o caráter, a personalidade, o estado de espírito, a expressão, sincera ou não, estampada no seu rosto, e a mulher a segui-lo, sem nada disso: um embrulho ambulante? Não lhes ocorre que essa despersonalização da figura pública da mulher seja o cúmulo do machismo, feita apenas para torná-la um objeto totalmente doméstico, totalmente dependente, no espaço público, do seu marido, reduzida a mera propriedade dele? E vocês acham que uma mulher tão oprimida que é obrigada a se esconder numa burca teria coragem de dizer à polícia que é oprimida, ou que é obrigada a usar a burca? E acaso interessa se é por motivos religiosos que ela usa a burca? Se a religião autoriza o marido a surrar a mulher, e a mulher aceita isso por motivos religiosos, devemos também nós aceitá-lo? Se a religião diz que a mulher é inferior ao homem, e a mulher concorda, por motivos religiosos, devemos dizer amém? Se a religião diz que se deve extirpar o clitóris da mulher e, por motivos religiosos, ela aceita isso, devemos aprovar a clitorectomia? Se a resposta a essas perguntas é “não!”, como tem que ser, então por que aceitar que a mulher seja privada de mostrar o seu rosto em público – pois é disso que se trata –, simplesmente para não ofender a “honra” do seu marido, ainda que ela aceite essa violência, por ser prescrita pela religião?

Kant, com toda razão, chamava a modernidade de “época da crítica”. A capacidade de criticar os costumes, as tradições, as crenças herdadas representa, segundo ele, a maioridade do ser humano. Trata-se, em cada um, do exercício da capacidade de governar a si próprio. A cultura que impõe a burca a uma mulher quer conservá-la eternamente na menoridade, como doméstica, como dependente do marido, como coisa. Isso é degradante, logo, inaceitável.

Antonio Cicero disse...

Mick, um amigo meu inglês (só podia ser) sugere que a melhor forma de lidar com o problema da burca é obrigar os maridos das burqueiras (ou burcaneiras?) a também usarem burcas...

Antonio Cicero disse...

Paulinho,

Graças ao seu comentário, tirei a frase sobre "mulheres que gostam de apanhar". Você tem razão.

Beijo

Clara disse...

Excelentes os argumentos a favor da proibição a burka, com os quais compartiho.

Li essa semana um artigo no Le Monde contando sobre um casal muçulmano se queixando do Sarkozy por motivo muito parecido(o niqab). Dizem eles que-morando na França- têm de aturar(o termo é meu) coisas que são chocantes para eles:o homossexualismo assumido abertamente, os casais hetero que não se casam, mulheres que andam meio nuas pela rua.

Mas escuta, aqui(no Brasil) ou ali(na França) é o ocidente com seus valores. A França, como país laico que fez a revolução de 1789, me parece, faz o que se espera dela. Há coerência.

A idéia da burka é de uma concepção medieval, equivalente ao cinto de castidade no ocidente. E existe alguma mulher com nostalgia ou que ache que o cinto de castidade fosse alguma outra coisa que não o dsprezo, a humilhação e a submissào numa sociedade totalmente machista e sádica?

Existem mulheres que simplesmente não sabem viver sem isso. Não há opção, apenas obrigação, muitos castigos e polícia religiosa e de costumes nos paíse de onde são originárias suas famílias.

E elas, como reféns na síndrome de Estocolmo, se identificam com o opressor. A liberdade é difícil tantas vezes!

Unknown disse...

Cícero

Concordo com a proibição -- na França. E concordo tb que, na prática, a teoria é outra... Implementar uma medida dessas dá um trabalhão danado. Mas é uma causa pela qual vale a pena lutar, pelos argumentos que vc expôs muito bem.

Agora, no Afeganistão, por exemplo, a história é outra. Se eles quiserem continuar com a Burka, é assunto que diz respeito a eles (e elas, obviamente.)

Abraço,

Antonio Engelke

fabrício disse...

Mas a maioridade é uma condição atingida pelo sujeito pelo esforço dele próprio, Cícero. Ela não pode ser imposta. E é por isso que essa proibição não mudaria a situação dessas mulheres, sobretudo se elas concordarem com os valores que geram essa opressão: elas continuariam oprimidas, quero dizer. Eu também acho que a sociedade tem um papel em garantir as condições para que tal sujeito possa exercer sua maioridade: é só pensar em como seria impossível a uma mulher discordar dessa situação na Afeganistão sob o Talibã. Mas na França a coisa é diferente. Você pergunta se uma mulher oprimida a tal ponto teria coragem para contar à polícia sobre as imposições do marido. Mas eu pergunto se, com a burca ou sem ela, resta alternativa a essa mulher a não ser não estar com esse marido. Ela ficaria isolada, sem amparo do grupo social alicerçado nos mesmos valores caso recusasse o casamento? É verdade. Mas é a mesma situação que, por exemplo, diversos homossexuais já tiveram que enfrentar para poder viver de acordo consigo mesmos. Por isso acho que a sociedade, senão o próprio Estado, deveria garantir condições para que essa pessoa, optando em romper com essa situação, possa se reinserir no mundo, caso realmente essa sociedade vele pela liberdade e a razão. Mas, para tanto, é necessário que a própria pessoa esteja de acordo com essa ruptura. E não dá pra supor que as pessoas queiram estar libertas da opressão, da superstição e do preconceito, até porque alguém nesse caso acredita estar de posse da verdade.
Daí entramos em dois problemas: o primeiro é o da determinação do conteúdo da verdade, e se há uma verdade, universalmente falando. O segundo, acho que mais modesto, é se essa verdade pode ser imposta ao sujeito à revelia dele mesmo. Ficando só no segundo, eu pergunto se uma tal razão que se impõe ao sujeito em questões de foro íntimo não seria tão ou mais opressora que aquela da república que Platão projetou. Acho que o Estado pode fornecer educação para que as pessoas possam ter maior discernimento para fazer suas escolhas, mas daí a escolher por elas há uma distância enorme.
Quanto ao primeiro problema, acho que a identificação do homem com a razão hoje é mais problemática que na época de Kant. Não sei se a razão ou a emancipação são o destino do homem. Mas se o Sarkozy acredita que sim, acho que ele deveria radicalizar essa sua duvidosa vocação crítica e revisar as condições que permitem a opressão do homem pelo homem, na França. Mas que político hoje encararia essa tarefa? Quem levaria a crítica tão a fundo a ponto de questionar condições materiais?

Anita disse...

Marcelo,


quando eu disse que e a questão estava sendo vista por um ponto de vista muito ocidental, me referia ao que estava sendo dito aqui no blog, e não à proibição francesa.


Não, eu não acredito que a imensa maioria dessas mulheres use a burca por querer. Mas acredito que estamos falando de pessoas, indivíduos com particularidades e direito a essas particularidades. Acredito que uma mulher que use uma burca não está agredindo a ninguém além de si mesma. O que não ocorre, por exemplo, quando uma mãe obriga a filha a usar. Neste caso estamos falando de uma agressão que extrapola os limites do próprio corpo. O que acontece, por exemplo, com o uso do cigarro em ambientes coletivos, mas nem assim justifica um ato autoritário.


Marcelo, você disse que as mulheres de burca “provavelmente” não têm a opção de usar ou não a vestimenta. Em um ponto creio que todos aqui concordam: o uso da burca É imposto. E não só pela força física, com agressões, mas principalmente psicológicas. Quando eu digo que uma mulher pode sim querer andar coberta dos pés a cabeça, não estou falando de auto-mutilação ou auto anulação. Estou falando de seguir as crenças que lhes foram ensinadas desde crianças e que elas também acreditam. Assim como nós temos os nossos valores e costumes. Deve-se pensar que essas mulheres nasceram e cresceram dentro dessa cultura. Elas estão habituadas, ainda que forçosamente, ao uso da burca. Como fica pra essas mulheres de repente serem obrigadas pelo Estado a se mostrarem nas ruas? É óbvio que vestidas como ocidentais, mal seriam percebidas. Mas para elas é algo novo. Não conheço a sociedade francesa, mas creio que assim como no Brasil, cantadas – leves ou pesadas- sejam costumeiras. Se para as ocidentais, por vezes é esse comportamento é altamente constrangedor, imagine pra quem passou a vida escondida?

Anita disse...

Cícero,

Você mesmo, ao responder o comentário do Fred, concordou que há um conflito de direitos, e que "quase ninguém anda, por vontade própria, coberto da cabeça aos pés.". Ora, quase ninguém não é ninguém, e se alguém quer usar, essa pessoa está sendo atacada em seus direitos. E eu não concordo com a hierarquização de direitos.


Preciso deixar claro que não sou absolutamente contra a proibição e muito menos a favor da burca, como parece ter ficado a entender. Reforço que minha posição ainda é de desconfiança. Fui dar uma olhada pra ver em que pé está estava essa discussão na França e vi que, ao contrário do que eu estava imaginando, a lei ainda não existe e vai ser criada uma comissão para discutir o assunto antes... Creio que esse seja o caminho razoável, pois, ao que parece, não será algo imposto. (Mais uma vez!)


Amado, o machismo tem tantas vertentes, cada uma mais perversa que a outra, que seria difícil dizer em qual delas podemos encontrar seu cúmulo, rs. Mas é sem dúvida alguma uma cena revoltante; mais, repugnante. E concordo, uma pessoa em tal situação jamais teria coragem de buscar ajuda policial, com amparo legal ou não. O uso da burca está arraigado demais para que uma lei possa ser usada como “uma boa desculpa para a auto-liberação daquelas que se sentem obrigadas a fazê-lo por motivos religiosos.” É mais provável que essas mulheres sejam proibidas de sair de casa. E aí o que era para proteger acaba por castrar ainda mais.



Também estou achando a discussão muito boa... É bom poder usufruir da liberdade ;)


Beijos a todos!!


Ah, Cícero, obrigada pela resposta no outro post a respeito do teu livro!

biografia disse...

Caro Antonio,

Mas, a principio, se se proibe um "absurdo" de uma religiao, nao se deveria proibir todos os "absurdos" de todas as religioes?

um abraco,
Denny Yang

Anita disse...

Concordo totalmente com esse último comentário do Fabrício...

Laurene disse...

Cícero:

Sabia q vc ia cair nessa, pois confunde a razão com o projeto de poder do Ocidente ligado a ela. Só por essa ótica se justificam críticas a Foucault e aos filósofos contemporâneos.

Apoiando a proibição, na verdade uma continuação da política de Luc Ferry enquanto ministro da educação, e que proibiu os véus nas escolas em nome da razão, em verdade você apoia uma medida racista. O objetivo final é impedir a imigração e é assim que eles pensam em desestimulá-la.

Há mais, há mais. Acho que essas mulheres vestidas de um lindo azul aí estão resguardadas pela burca de serem mulheres objeto. Elas podem livremente falar. Além do mais, é uma burca e não um cinto de castidade.

Proibir não. Fazer uma campanha contra violência contra mulher, sim. Proibir é dar um passo rumo ao racismo e o neofascismo francês, que usa desses expedientes contra os imigrantes. Não seja tolo, Cícero.

Antonio Cicero disse...

Fabrício, Anita e Denny,

O que não é tolerável é que essas pessoas, encerradas em casa – na burca – mesmo quando vão à rua, não tenham a possibilidade de atingir a maioridade: não possam se relacionar senão com seus familiares; sejam privadas de personalidade pública. Isso é uma afronta à dignidade dessas mulheres, quer elas sejam conscientes disso, quer não. Suponha que, no lugar de fazer a mulher usar uma burca, o homem a obrigasse a usar uma coleira? Deveríamos deixar isso acontecer, caso, em consequência da sua crença religiosa, as próprias mulheres achassem isso certo? Se um escravo se sente seguro como escravo e tem medo da liberdade, devemos permitir que ele continue sendo escravo? Há muitos relatos de escravos que queriam continuar a ser escravos. Pois essas mulheres estão exatamente na situação de escravas.

Para libertar o escravos, não se pode esperar que todos os escravos queiram a liberdade. Não foi, aliás, assim que se fez a abolição nos Estados Unidos, no Brasil, em toda parte.

A abolição da burca é um passo pequeno, mas talvez importante para atenuar a opressão de determinado grupo de mulheres muçulmanas. Como diz a Filipa, não é fácil saber como ela se dará na prática. Entretanto, a proibição lhes facultará deixar de usar essa monstruosidade sem o temor de serem castigadas – inclusive fisicamente – por seus maridos.

Anita: Não creio que essas mulheres sejam mantidas presas em casa, porque certamente têm que ir à rua para fazer compras de mercado etc., para os seus senhores.

Fabrício: Sobre os dois problemas de que você fala, começando pelo segundo: você acha que o Estado está sendo opressor quando não permite que o homem bata na sua mulher? Bem-vinda a opressão, então. Pois ele já faz isso. E não está fazendo mais que sua obrigação.

Sobre o primeiro problema de que você fala, discordamos ainda mais radicalmente. Mas não vou me estender aqui sobre isso porque esse assunto já foi tema de vários artigos meus que se encontram neste blog, nos quais critico os dogmas do multiculturalismo vulgar. Veja, por exemplo, “A controvérsia do multiculturalismo”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2007/04/o-artigo-seguinte-foi-publicado-na.html; “Barbárie e civilização”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2007/07/barrie-e-civilizao.html; “Os limites da diversidade cultural”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2007/12/os-limites-da-diversidade-cultural.html; “O relativismo e a modernidade”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2007/12/o-relativismo-e-modernidade.html; “O falibilismo versus o relativismo”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2008/01/o-falibilismo-versus-o-relativismo.html; “Identidade e violência”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2008/06/sobre-identidade-e-violncia.html; “A noção de humanidade”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2008/06/noo-de-humanidade.html; “Sobre o roubo da história”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2008/11/sobre-o-roubo-da-histria.html; “A ética e a religião”, em http://antoniocicero.blogspot.com/2009/03/etica-e-religiao.html.

Denny pergunta se, a principio, se se proibe um "absurdo" de uma religião, não se deveria proibir todos os "absurdos" de todas as religiões?

Denny: Quando os absurdos são crenças absurdas, ninguém pode proibi-las. Cada qual pode acreditar no que quiser. Cada qual tem o direito à burrice que quiser. Só quando essas crenças se traduzem em ações – como a imposição da burca às mulheres – é que o Estado pode intervir.

Marcelo Pereira disse...

Olá Anita. Também estou gostando muito da discussão.

Anita, eu ia tentar responder à sua réplica, mas o Antonio Cicero o fez antes e muito melhor do que eu com os meus parcos recursos.

Danny, há absuros e absurdos. Por exemplo, para os muçulmanos, um dos cinco pilares da vida é fazer a peregrinação a Meca. Para mim, que não sou muçulmano (nem professo nenhuma religião), é absurdo. Mas qual o problema se esse sujeito guarda uma grana e nas férias vai a Meca? Por mim, que vá com Deus. :) Que direito ele infringe? Que grande mal causará a ele e outros?

Não vê a diferença fundamental entre esta crença e o uso da burca? Se consideramos todas as pessoas como parte de uma humanidade e cremos em certos direitos fundamentais, nos é intolerável que coisas como a escravidão, a extirpação do clitóris e a burca ainda ocorram, seja onde for, mas em especial num país como a França.

Anita, creio que exista sim uma hierarquia de direitos. Direitos, assim como Liberdade e Justiça, não é um termo ABSOLUTO. Qualquer sociedade impõe restrições às pessoas, para que a vida em comum seja possível. Quando alguém comete um crime grave, é julgado e punido com a perda temporária de um direito, o da liberdade. No entanto, o direito à vida e à integridade física são - cada vez mais - respeitados. Não há aqui uma clara hierarquia de direitos?

Anita disse...

Cicero,

a abolição da escravatura é um belo exemplo de como a lei não foi, em si, uma solução. Espero que ninguém acredite que eu vá defender a escravidão, óbvio! Mas o que aconteceu com os negros? Num dia foram libertados, no outro estavam todos lançados à marginalidade. As consequências podem ser vistas e sofridas até hoje. Mais de um século depois tentam tapar o sol com a paneira...

É necessário trabalho de conscientização. De esclarecimento mesmo, pq não? Kant mesmo dizia que uma vez dada a oportunidade, o processo de passagem para a maioridade se daria naturalmente. Mas isso ão pode ser empurrado goela abaixo. A liberdade imposta perde seu sentido, é outra cela da prisão.

Repito, não sou contra a proibição. Sou contra a "proibição e ponto, daqui pra frente vc se vira!".


Acho que os links foram indicados para o Fabrício, mas vou pegar carona,rs. É um assunto que me interessa muito e que merece ser pensado.

Grande Beijo!

biografia disse...

Caro Antonio,

Obrigado pela resposta: "Denny: Quando os absurdos são crenças absurdas, ninguém pode proibi-las. Cada qual pode acreditar no que quiser. Cada qual tem o direito à burrice que quiser. Só quando essas crenças se traduzem em ações – como a imposição da burca às mulheres – é que o Estado pode intervir."

Tenho mais um comentario a fazer, neste caso: quem define o que e' absurdo ou nao, em algo relacionado as diferencas culturais? O pensamento hegemonico ocidental? E se o islamico arabe achar que e' um absurdo cortar o prepucio de um penis? Ele deve proibir essa pratica judaica?

E, no plano do discurso - que tambem nao deixa de ser uma acao politica: e se eu considerar um absurdo a igreja catolica proibir o uso da camisinha para seus fieis e seguidores? Ou e se uma cultura achar a imposicao do celibato um "absurdo"? Quem define o que e' absurdo ou nao?

No atual contexto politico, tambem e' obvio que a questao nao poderia ter, justamente... seu vies politico. Nao e' uma medida um pouco "over", "exagerada", ja' que estamos tratando de uma proibicao de uma pratica religiosa quica milenar, quando esta mesma religiao e praticantes sofre um um linchamento cultural por causa de um punhado de extremistas fanaticos e terroristas? Nao seria, no caso, uma medida politica anti-etica, se proibir apenas o uso da burca em relacao ao Islamismo, e nao outros "absurdos" que outras pessoas de outras culturas consideram de outras religioes?

Bom, me alonguei um pouco no comentario, e fiz mais perguntas retoricas, mas queria mais tentar relativizar um pouco a questao,

sem ainda ter uma conclusao na minha opiniao,

um abraco,
Denny Yang

Antonio Cicero disse...

O seu exemplo não é bom, porque os muçulmanos também praticam a circuncisão.

Consideremos a coisa concretamente. Evidentemente, se a circuncisão levasse, digamos, à impotência sexual do circuncisado, seria legitimamente condenável. Como nada de tão terrível se segue, não se tem o direito de condená-la.

Quanto à proibição da camisinha: de fato, muita gente – eu mesmo incluído – acha errada a proibição da camisinha. Mas a Igreja não é capaz de obrigar ninguém a descartá-la. Cabe aos fieis acatar a proibição ou não. A grande maioria não a acata. Ou seja, a decisão última é de cada um. Não é como a burca, que é uma imposição do marido à mulher. Ao contrário do que acontecia na Idade Média, ninguém, no mundo moderno, é, sob pena de ser degradado, perseguido ou morto, obrigado a ser católico.

A mesma coisa em relação ao celibato. Ninguém é obrigado a ser sacerdote.

A antiguidade de uma prática não é argumento. A escravidão existiu durante milhares de anos e é hoje condenada.

Os princípios que nos levam a condenar a burca etc. não pertencem ao “pensamento hegemônico ocidental”, mas foram impostos TAMBÉM ao Ocidente pela RAZÃO desde o Iluminismo, no século XVIII. Antes disso, havia também no Ocidente coisas absurdas, como servidão, tortura, ordálio, prisão e execução na fogueira de quem não concordava com os absurdos do Cristianismo etc. Se existe algum “pensamento ocidental”, aliás, trata-se da cultura cristã. O que se opõe tanto aos absurdos do Cristianismo, quanto aos do Islã ou aos de qualquer outra religião é a razão. No princípio do século XX, ela se opôs, por exemplo, ao costume milenar chinês de atrofiar os pés das mulheres. Não foi a razão “ocidental” que se opôs a isso, mas a RAZÃO, ponto. A razão não tem pátria. Não há pior provincianismo e etnocentrismo do que pensar que a razão – que pertence, por direito, a todo ser humano – pertence ao Ocidente. Também os muçulmanos que usam sua razão – como, por exemplo, Hirsi Ali, opõem-se aos absurdos de sua religião. A propósito disso, leia os artigos que recomendei acima.

João Renato disse...

Prezados Cícero e comentaristas,

Todos sabemos que a história está repleta de abusos e intolerâncias - sobretudo da europa -, mas se não acreditamos nos nossos valores culturais, não temos direito de ter valores culturais.
Acho que alegar o direito das mulheres optarem pela burca é apenas um argumento teórico, como seria um hipotético direito de mulheres optarem por serem estupradas, de crianças optarem por serem abusadas sexualmente ou de alguém optar por ser escravo. Independente de hipotéticas e irreais opções, a pedofilia, o estupro e a escravidão são PROIBIDAS na nossa sociedade.
O respeito às diferenças culturais não deve incluir o respeito as visões culturais que agridam - frontalmente - os nossos valores culturais (eu disse "frontalmente"). E os meus valores culturais não admitem que uma mulher seja obrigada pelo marido a andar embrulhada.
Podemos cometer erros agindo assim ? É claro, mas é o ônus de ter valores culturais.
A proibição da burca é como as políticas de ação afirmativa de combate ao racismo, em que o ganho é muitíssimo maior do que eventuais erros ou perdas.
Ponto para o Sarkozy.
Abraços,
João Renato.

Anita disse...

Olá Cicero, o que houve com o comentário que enviei hj mais cedo?? a respeito da escravidão...
bjus

Antonio Cicero disse...

Anita,

Todo o mundo concorda que foram lamentáveis as condições dos escravos libertados. Contudo, o Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão. Você acha que se poderia ter dito aos abolicionistas que esperassem um pouco, até que se tivessem preparado condições melhores? Quem dissesse isso seria, com razão, considerado um reacionário, um anti-abolicionista disfarçado. A primeira coisa era, com razão, a abolição. Depois viria o resto. Não veio nada: o que é lamentável. Mas o certo é que, de um modo ou de outro, o que não se poderia ter deixado de fazer era abolir IMEDIATAMENTE a escravidão. É importante pensar nos problemas subsequentes, mas é INADIÁVEL pôr na ilegalidade tudo aquilo que é degradante para o ser humano.

Antonio Cicero disse...

Penetralia,

Não sou eu, mas você que confunde o “projeto de poder do Ocidente” com a razão. Eu, ao contrário, diferencio a razão de qualquer projeto de poder. A razão não pode se confundir com coisa nenhuma, porque ela é, em primeiro lugar, crítica, e “crítica” quer dizer “separação”. A razão – e só a razão – é o que nos permite criticar todos os projetos de poder.

É claro que as potências imperialistas gostariam de confundir os seus projetos com a razão. Mas é impossível. Tanto que a crítica mesma a esses projetos – a crítica ao imperialismo – foi feita pela razão: e só pode ser feita por ela.

Toda tentativa de reduzir a razão a uma cultura particular acaba levando a autocontradições. Foi o que aconteceu com Foucault e alguns outros filósofos contemporâneos, como demonstrei no artigo a que alude.

“Mulheres vestidas de um lindo azul”? Isso me lembra Marx, que falava de arrancar as flores que enfeitam as cadeias dos oprimidos. “Livres pela burca de serem mulheres-objetos”? Mais objeto – embrulhado – do que essas mulheres, é impossível. Logo você estará propondo introduzir a burca no Ocidente, obrigando as mulheres, para deixarem de ser mulheres-objetos, a se cobrirem da cabeça aos pés; ou, quem sabe, obrigando-as a usar máscaras?

Racista, Penetralia, é confundir as superstições e os costumes retrógrados de uma corrente religiosa qualquer com a “raça” das pessoas que são oprimidas por esses costumes, crenças e superstições: dizer, por exemplo, “Fulana é árabe, logo é certo que ela apanhe do marido”. Ou: “Fulano é árabe, logo a razão – que é ocidental – não lhe diz respeito”. Nada é mais etnocêntrico e pró-imperialista do que pensar que a razão é ocidental.

Hirsi Ali, uma mulher somali que conseguiu se libertar das superstições e dos costumes retrógrados que imperavam em sua tribo, explica que o fez porque a razão lhe mostrou que:

É errado subordinar as mulheres aos homens;
É errado executar pessoas por serem homossexuais;
É errado matar apóstatas;
É errado chicotear e apedrejar as mulheres até a morte;
É errado amputar as mãos dos ladrões;
É errado dizer que quem morre lutando pela sua religião terá o paraíso;
etc.

Concordo com ela. A Idade Média ocidental também foi terrível. Tolice é pensar que ela era menos opressiva do que a modernidade.
Não posso pôr a minha antipatia por Sarkozy ou considerações táticas à frente dos meus princípios. Esse tipo de coisa, aliás, sempre foi o erro de grande parte da esquerda.

Pense bem.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Como você bem sabe, não sou muito ligado à Filososfia (amo-a, mas não a estudo como devia),mas o debate aqui fez-me expor alguns pontos que me interessaram e que achei que eu poderia cooperar um pouco, um pouco mesmo, sei disso:

1) Creio que nenhuma ação pode ser medida de imediato, sem que o tempo venha esclarecer se ela será benéfica ou maléfica: exemplificando: quando abolida a escravidão, realmente não foi pensado como ficariam os negros adiante - uns voltaram (preferiram a ser escravos novamente para fugirem da humilhação e marginalização) a ser escravos, outros morreram de fome, outros sobreviveram, etc e tal - foi dramático, mas foi conseguido um PASSO MAIOR: tanto para os que determinaram a ação de libertar - AGIRAM COM A RAZÃO - tanto para os que obtiveram a liberdade - LIVRES EM BUSCA DA DIGNIDADE QUE NUNCA PUDERAM TER ANTES. E existe maior dignidade para um ser humano que ser livre? Penso que não! Eu vi em alguns comentários que até hoje em dia há sofrimento por causa desse ato dito "não-pensado" para as reações futuras: o que é uma inverdade relativa, pois existem delegacias especializadas combatendo o trabalho escravo, seja ele negro, branco, índio... as leis contra racismo, antes inexistentes, vigoram com rigor e aplicação, etc e tal... Ou seja, Foi preciso e devia haver a LIBERDADE para que outros direitos fossem conseguidos!

2) Acima de preceitos religiosos e políticos devem prevalecer a LIBERDADE E A DIGNIDADE de um ser humano: A VIDA PLENA!

3) Ninguém usaria uma burca se ela não fosse de uso obrigatório. Aqui, vê-se claramente que a imposição para o uso torna a mulher um ser domesticado: brutalmente ferida na sua feminilidade, na sua liberdade de ser mulher. A burca lembra-me AS BITOLAS, daqui do Nordeste, usadas para guiar jegues, bois, cavalos, mas são até piores - porque as bitolas guiam o animal para que eles não caiam em poços, etc, machuquem-se - MAS DEIXO CLARO QUE TAMBÉM CONDENO O USO DE BITOLAS EM ANIMAIS E EM HUMANOS!

3)Quem é que ainda acredita que o uso da burca está somente ligado aos preceitos religiosos e culturais é o pior cego que existe: AQUELE QUE NÃO QUER VER REALMENTE - SALVE SARAMAGO! - QUE POR TRÁS DA BURCA NÂO SE ESCONDE A MULHER - TENTA-SE OCULTAR A BRUTALIDADE DISFARÇADA DO PATRIARCALISMO, DO MACHISMO VIOLENTO QUE USA DA LEI DIVINA DESCOMEDIDAMENTE PARA HUMILHAR, BATER, APEDREJAR, EMBRUTECER, EMBURRECER, MINIMIZAR UMA MULHER!


4) A FRANÇA, com toda a sua História de IGUALDADE, FRATERNIDA E LIBERDADE, por que aceitaria tal imposição às mulheres? Não vejo isso como represália aos imigrantes, mas como uma tentativa de minimizar o dano causado à liberdade da mulher.


5) A RAZÃO, tão bem explicada por você, CICERO, não pertence nem ao OCIDENTE NEM AO ORIENTE, a razão é a razão, e ela se basta: como diz Caetano: O CERTO É SABER QUE O CERTO É CERTO!


Não sei se pude ser claro, mas tentei chegar a esse ponto: CONDENO QUALQUER TIPO DE PRISÃO: estética, cultural, religiosa, concreta, literal, de pedral, cal e cimento, DE ALMAS, DE CORPOS!


VIVA A RAZÃO E A LIBERDADE!


BEIJO IMENSO!
ADRIANO NUNES.



P.S. O DEBATE AQUI É ÓTIMO E O SEU BLOG, O O CANTO DA LIBERDADE! PARABÉNS A TODOS OS COMENTARISTAS!

P.S2: ATÉ QUE TÔ GOSTANDO DE FILOSOFAR! RSRSRSR

Laurene disse...

Oi, Cícero, a discussão rendeu hein?

No quadro em que eu, penetrália, penetrei aqui, fiquei multiculturalista vulgar e você ficou um Luc Ferry do desvelamento do ser!

Que projeto de poder que não leva em conta a razão?

Foucault também investiu contra as ilusões de que a modernidade não fosse repressiva. Aliás, ele nos fez ver isso melhor do que ninguém.

Acho estranha essa sua dialética de proibir para libertar. Ele deveria falar em integração da comunidade muçulmana! Mas você sabe que não é isso que Sarkozy quer.


Julien Coupat, militante anarco-autônomo e acusado de ter sabotado o TGV, anunciou que a direita francesa assume cada vez mais aspectos autoritários e fascistas, rompendo o pacto que ela fez depois da II Guerra com os stalinistas.

O projeto de Sarkozy não é movimentar razão X religião. Se ele quisesse, também, obrigar a Igreja Católica a obrigar as freiras a celebrarem missas, quem sabe eu o apoiaria também.

Isso imputei a você e nisso me equivoquei, assumo. O objetivo dele é pressionar os imigrantes; a razão pode ser usada de forma emancipatória ou repressiva, só que você tende a absolutizá-la, a ver nela somente aspectos positivos!

Antonio Cicero disse...

Penetralia,

vou comentar ponto por ponto do que você diz:

“Foucault também investiu contra as ilusões de que a modernidade não fosse repressiva. Aliás, ele nos fez ver isso melhor do que ninguém.”

Uma pergunta: ao investir contra as ilusões de que você fala, Foucault estava sendo moderno ou estava sendo o quê?

“Acho estranha essa sua dialética de proibir para libertar. Ele deveria falar em integração da comunidade muçulmana! Mas você sabe que não é isso que Sarkozy quer.”

Acho que você não entendeu. Como eu já disse, não tenho o menor interesse nas intenções do Sarkozy. De maneira geral, a figura dele me dá asco: não está à altura de um país como a França. A proposta sobre a proibição da burca me interessa porque põe em questão o multiculturalismo e os direitos humanos.

Quanto à “integração da comunidade
muçulmana”, você pode estar certo de que, para os próprios defensores da burca, isso seria pior do que a proibição dela. Eu, por outro lado, apoiaria.


“Julien Coupat, militante anarco-autônomo e acusado de ter sabotado o TGV”

Eu entendi mal, ou você acha que ser acusado de ter sabotado o TGV dá credenciais a alguém para falar de política?

“O projeto de Sarkozy não é movimentar razão X religião. Se ele quisesse, também, obrigar a Igreja Católica a obrigar as freiras a celebrarem missas, quem sabe eu o apoiaria também.”

Sinto muito, mas não tenho tanto interesse quanto você nem no Sarkozy, nem nas missas, nem nas freiras da Igreja Católica.

“A razão pode ser usada de forma emancipatória ou repressiva, só que você tende a absolutizá-la, a ver nela somente aspectos positivos!”

De fato, a razão é o único absoluto epistemológico: mas enquanto tal não tem nenhum aspecto positivo. Trata-se de um absoluto essencialmente negativo.

Laurene disse...

Oi, Cicero.

Curiosamente, procurei o título dessa postagem no google e encontrei um tal de Waldevinos (!) no Twitter que sintetizou porque ele concorda com vc:

"Valores liberais são superiores. Relativismo= Lula + Sarney".

São tantas as luzes do Iluminismo, mas o problema é a recepção, né não?

Rapha Z disse...

A discussão acabou a mais de um ano atrás mas me interessa muito o assunto. Só tenho pouco a dizer: Proibindo ou não a burca, a mulher mulçumana vai continuar sendo oprimida. A outras coisas que talvez deveriam ter mais peso na hora de contestar algum costume religioso ou cultural, ainda mais que a nossa(e quando digo nossa quero dizer eu mesmo), por quê não contestar o abuso sexual que boa parte delas sofrem desde crianças. No final das contas, podemos fazer todas as avaliações, todos os pesos, todas as críticas mas nunca saberemos os absurdos ou positividades que eles vivem a não ser que vivamos com eles(as), e até como eles(as). Te desafio a pesquisar e escrever sobre um tema: Infanticídio Indígena. É um tema polêmico, que faz parte do nosso Brasil. E conheço pessoalmente, histórias dos que sobreviveram. Tem bastante material na internet, e dicussões de leis questões antroplógicos(como Ronaldo Lidório). Nem sei se irá ver esse comentário mas tá valendo a pena.

Guilherme Ferreira disse...

"deve haver mulheres que gostam de usá-la"

Ahahahahahahah...

(maldita inclusão digital...)
:-)

Tavinho Paes disse...

foi assim que, imagino e especulo, bin Laden cruzou o Afeganistão e foi parar no Afeganistão ... só não compreendo bem a preferência pelo tingimento azul do algodão, embora saiba que o Anil seja umasubstância farta na Cashemira