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Hábitos
Quantas vezes Platão assoou o nariz,
e São Tomás de Aquino
tirou os sapatos,
quantas vezes Einstein escovou os dentes,
e Kafka ligou e desligou a luz,
antes de enfim chegarem
ao que lhes cabia fazer?
Semanas sem fim, feitas as contas,
levamos
abotoar e desabotoar camisas,
procurar os óculos
ou, tomada a decisão,
novamente descartá-la.
Como são efêmeras as nossas opiniões
e as nossas obras, em comparação
com aquilo que nos é comum:
cozinhar, lavar a roupa, subir escadas –
repetições de pouco relevo,
pacíficas, corriqueiras
e mais indispensáveis que qualquer chef d'oeuvre.
Angewohnheiten
Wie oft mußte Plato sich schneuzen,
der heilige Thomas von Aquin
seine Schuhe ausziehen,
Einstein sich die Zähne putzen,
Kafka das Licht ein- und ausschalten,
bevor sie zu dem kamen,
was ihnen aufgetragen war?
Ganze Wochen, aufs ganze gesehen,
bringen wir damit zu,
unsere Hemden auf- und zuzuknöpfen,
unsere Brillen zu suchen
oder das, was wir zu uns nahmen,
wieder auszuscheiden.
Wie flüchtig sind unsere Meinungen
und unsere Werke, verglichen mit dem,
was wir miteinander teilen:
Kochen, Waschen, Treppensteigen –
unscheinbare Wiederholungen,
die friedlich sind, gewöhnlich
und unentbehrlicher als jedes chef d’oeuvre.
De: ENZENSBERGER, Hans Magnus. Rebus. Frankfurt: Suhrkamp, 2009.
16.6.09
Hans Magnus Enzensberger: de "Rebus": tradução de Samuel Titan
Labels:
Hans Magnus Enzensberger,
Poema,
Samuel Titan
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12 comentários:
Que delícia de verdade.
E provocando um pouco:
Quantos realismos foram necessários para que Monet, Renoir, Degas e Van Gogh chegassem ao impressionismo?
Adoro as provocações que encontro por aqui.
Abraços
CICERO,
Lindo!
Meu novo poema:
"AVULSA" (PARA ARNALDO ANTUNES)
A noite terminou
Triste, sem uma estrela,
Fugaz e sem fulgor.
Entre as trevas que invento,
A lua. Posso vê-la
Lutando contra o tempo,
Escondendo-se agora,
No horizonte, engolida
Pelas horas, expulsa
Da calota, da vida
Do dia que a devora.
A noite esvai-se avulsa.
Abraço forte!
Adriano Nunes.
o alimento para a humildade...
Me lembrei agora de um filme quase trash chamado "A mosca". O personagem principal era um cientista. Quando ele abria o guarda roupa, víamos que todas as suas vestimentas eram iguais: isso era uma sugestão que ele não poderia perder tempo escolhendo o que vestir, pois o tempo é precioso e ele teria que usá-lo ao máximo para pensar. Uma visão oposta ao poema... Parabéns, Cícero, por mais uma transcriação (conforme vc me ensinou noutro comment, que Augusto chama de transcriação a tradução de um poema)!
dessas coisas que nos são comuns, como olhar um poste de luz, brotam todas as outras, como fotografar esse mesmo poste, e a partir dele pensar uma poesia efêmera.
http://triagem.blogspot.com/2009/06/cuesco-blanco-amarilla-luz-tumor-marron.html
Emerson,
obrigado, mas os parabéns devem ir para o Samuel Titan, que foi quem transcriou o poema.
Abrço
on,
Dizem que Einstein tinha um guarda roupas tal como o personagem de A Mosca.
muito bom!
Sério, Marcelo? Nunca tinha ouvido falar nisso, mas é muito interessante. Pode ter vindo daí a idéia de se representar isso num filme. Cícero, vi agora: Parabéns ao Samuel Titan, então! Ana Clara, muito legal essa sua foto com a strato vermelha! Abraços a todos.
num nível mais "inferior", o mesmo se pode notar em relação aos personagens das histórias infantis: lembro-me de pensar se a cinderela nunca ía à casa-de-banho...
(nesse contexto, os filmes não-disney, como o shrek, são óptimos: o personagem principal, arrota, dá puns... enfim, é quase "normal"!)
abraço!
Antonio,
Pérola!
um poema:
***POEMA SECO***
Eis minha vida,
Dilacerada
Pelos meus sonhos,
Ardendo em versos.
Tudo que quis,
De que me vale
Agora? Canto
A minha dor.
Vibra, sozinha,
Outra canção,
Nesta manhã
Triste, sem tez.
Tudo suporto.
Tudo se esconde
Dentro de mim.
Ai, coração!
Beijos,
Cecile.
coisa linda este poema, meu poeta porreta!
quanta constatação boa, bacana de se ler!
amei!
beijo grande, moço bonito!
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