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Escrevia com lápis e borracha
Em folhas
Do caderno de caligrafia.
Com tijolo, telha e carvão
Abrindo sulco na terra,
No chão,
No muro e na calçada.
Com canivete na mão, no tronco das árvores.
Até que um dia descobri
Que a mesma folha em que escrevia
Era e vinha
Das plantas e das árvores.
Foi desde então que resolvi
(e inda hoje quero assim)
Que só devo escrever mesmo em folhas verdadeiras,
As originais.
De: VARELLA, Alex. Em Ítaca.Ilha de Santa Catarina: Noa Noa, 1983.
13.1.09
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11 comentários:
engraçado.
abraço.
Cicero,
Lindo e perfeito. Percebamos os sons em "V" em palavras diferentes e precisas no poema! Bela postagem!
Abração!
Adriano Nunes.
Inda ontem lia seu livro e agora encontro seu blog.
que prazer!
Antonio,
Belo poema!
***NAFTALENO***
Entreguem às traças
Os meus trapos, tudo
Que escrevi: futuro,
Passado, desgraças
Do presente. Traços
Dessa vasta vida,
Em mim dividida
Desde o mormaço
Da vã Criação,
O tempo estragou.
Em meu coração,
Tristes, sem amor,
Os meus versos vão
Perdendo sua cor.
Beijos,
Cecile.
Nossa confesso que não me lembrava dessa leitura de 1983,leio muito e por vezes o HD falha.Uma belo resgate postado Cícero,uma reflexão profunda.E tão lindo quanto ler aqui ACONTECIMENTOS e ver que aqui os ACONTECIMENTOS navegam revelando e trazendo aos nossos olhos sentimentos expresados dessa "nossa gente".E um dia não vou me surpreender em ler um livro de muitos que aqui escrevem e dividem com todos os sentimentos.Louvadas e livres sejam as mãos...Beijo no coração de todos que compreendem que sentimento nem sempre cabe em um só peito ou em dois...GRAAL
Cícero,
Poxa, mas este blog é um mundo em si. Que delícia explorá-lo. Melhor que um sábado inteiro na Livraria Cultura da Paulista !!
Vou ler com muita calma e linká-lo ao meu blog.
Visite-me.
Um forte abraço,
Chico
que ótimo, poeta, encontrar este poema aqui!
adoro-o! acho-o muito muito muito bonitinho. bonitinho, entenda-se por delicado, sensível, e grandioso por isso.
beijo, lindeza!
Há poesia em cada história que vivemos.
Cada história é um ninho.
De lá despencam os poetas,
cegos e exaustos de tanto brilhar.
Uma poeira de poesia assoma o céu da nossa língua.
A palavra cintila.
O pensamento exala.
Estreito vão,
que atravessamos entre o verbo e o coração.
Antonio,
Meu poema mais recente:
***CAIS*** (Para Adriano Nunes)
Cheguei ali cansada e tudo era cantiga desgastada
E conchavos insólitos. Talvez tivessem sido as horas,
À espera, diante do espelho, de esperanças presas a rituais
De felicidade feminina: tudo deteriorava o meu destino.
De outro mar, o vento era. As pedras, de um porto abandonado
Onde as ondas brincavam de destruir o meu olhar.
Desvencilhei-me dos intervalos
De quem me penso e senti-me despida
De mim. Tudo se processava destarte sonho e desassossego.
Em redor do pescoço, pus o cachecol azul,
Como se pronta para o salto decisivo estivesse.
Olhei para as ilhas além e apenas
Poucas gaivotas gritavam o meu silêncio grave.
Subitamente e de encontro à minha alma,
A maré cheia dilatava ainda mais
O vazio do momento: viver não é preciso!
O mar. Sim, o mar tão perto dos violentos desejos
E dos tormentos. O mar revolto vindo à tona,
Sem Nereu e suas Nereidas,
Sem navios, sem náufragos, desprendendo-se
De sua líquida tez e conseguindo deformar as minhas lágrimas.
Surgem vorazes vaga-lumes de vidro
No campo visual. A paisagem perpassa e soçobra:
Estou tonta. O porto é parte de mim.
Sinto-me cada vez mais estranha.
O sol acima o que quer dos meu medos?
O que tanto pensa que aquece ou ilumina?
Apenas o vão da solidão pertuba a brisa
E acena-me de leve, quase rasante pouso...
Impacto: viver não é possível?
Agarro-me ao nada-ser e tudo me dói.
O tempo é firme e afunda-se em meu coração.
A tarde vinga cinza e o porvir apavora-me.
Penso em desistir...
Estou cansada e o tédio convence-me
De que é melhor apagar todas as luzes.
Pondero as vidas, não as minhas.
São os mais preciosos versos!
Ouço o canto das Sereias...
Atiro-me ao mar.
Beijos,
Cecile.
Cicero,
Que bom ver novamente o Paulinho aqui no blog! Paulinho, não suma! Seus comentários e sua energia positiva são lindos!
Abraço imenso em você e no Cicero!
Adriano Nunes.
Cicero, lembrei deste cá, de Cabral, não o Pedro dos idos tempos, mas de mesmo nosso João de Melo Neto:
"Folheada, a folha de um livro retoma
o lânguido vegetal da folha folha,
e um livro se folheia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a folha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em folha de árvore
melhor do que o vento em folha de livro.
Todavia, a folha, na árvore do livro,
mais do que imita o vento, profere-o:
a palavra nela urge a voz, que é vento,
ou ventania, varrendo o podre a zero.
Silencioso: quer fechado ou aberto,
Incluso o que grita dentro, anónimo:
só expõe o lombo, posto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos;
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberto a vida toda, quanto da música,
viva apenas enquanto voam as suas redes.
Mas apesar disso e apesar de paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe extraiam, o interroguem
e jamais exala: fechado, mesmo aberto."
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