O seguinte artigo foi publicado na minha coluna da "Ilustrada" da Folha de São Paulo sábado, 20 de setembro de 2008:
Sobre a popularidade de Lula
LULA MERECE merece os altos índices de aprovação que tem obtido. E o mais notável é que os merece enquanto frustra as expectativas tanto dos conservadores antipetistas quanto dos radicais de dentro e de fora do PT.
Os conservadores temiam, antes do primeiro mandato de Lula, a volta da inflação galopante, a declaração de moratória, os distúrbios sociais, o colapso das instituições, o caos. Os radicais basicamente torciam por tudo isso, sendo que, no lugar do caos, esperavam uma ampla mobilização popular que culminasse com a substituição da democracia representativa por uma "democracia direta" (leia-se: "ditadura populista"), tendo em vista a realização de "transformações estruturais", isto é, de uma revolução meio cubana, meio pacífica.
Nada disso aconteceu. Contra as expectativas tanto dos conservadores quanto dos radicais, o governo de Lula tem basicamente se mantido dentro dos marcos do Estado de direito.
Hoje os conservadores – que entretanto, no Brasil, jamais morreram de amores pela democracia – temem a implantação de uma ditadura populista. Infelizmente, certos atos promovidos ou apoiados por alguns dos radicais do PT – tais como o mensalão, certas tentativas de intimidar a imprensa, a campanha pelo terceiro turno, a campanha pela "democracia direta", a prática de agências de segurança ilegalmente espionarem até membros do Judiciário e do Legislativo, a lenidade para com os atos ilegais do MST etc.– não nos permitem descartar como simplesmente ridículos tais temores.
Já os radicais se mantêm fiéis a dois dogmas. O primeiro é o de que não será possível realizarem-se as "transformações estruturais" de que, segundo eles, o Brasil precisa, sem a substituição da democracia representativa por uma "democracia direta". O segundo é o de que essas "transformações estruturais" se fazem necessárias porque, a menos que as realize, o Brasil jamais será capaz de resolver ao menos quatro graves problemas: (1) a dependência em relação às metrópoles capitalistas e às flutuações financeiras internacionais; (2) a estagnação ou a regressão econômica; (3) a submissão de grande parte da população brasileira à miséria absoluta; e (4) a manutenção ou o aumento da disparidade de renda entre os brasileiros mais pobres e os mais ricos.
Dado que ainda vivemos numa democracia representativa e não numa "democracia direta", é claro que, de acordo com o primeiro dogma, não se puderam realizar as tais "transformações estruturais". Segue-se, de acordo com o segundo, que nenhum dos quatro graves problemas mencionados pôde ser resolvido.
O fato, porém, é que, na gestão de Lula, cuja política econômica, sabiamente, dá continuidade à do governo -afinal de contas de esquerda- que o antecedeu, a inflação foi controlada e o peso da dívida externa na economia sofreu uma diminuição considerável. Concomitantemente, desmentindo os economistas-ideólogos que supunham serem incompatíveis o controle da inflação e o crescimento econômico, a economia voltou a crescer a taxas respeitáveis, foram gerados milhões de empregos formais e o salário mínimo aumentou em termos reais. E, embora não se possa esperar que país nenhum escape ileso da atual crise financeira, a verdade
é que, se ela houvesse ocorrido há alguns anos, estaríamos em situação bem pior.
Mas, a meu ver, o mais importante feito de Lula foi ter conseguido a diminuição significativa de duas infâmias que pareciam indissociáveis do nosso país: a altíssima disparidade de renda entre os mais pobres e os mais ricos, por um lado, e a miséria absoluta de grande contingente da população, por outro. O progresso na luta contra esses dois horrores foi obtido não só pelo aumento do salário mínimo e a geração de empregos formais, mas também por meio da implementação efetiva de programas sociais como, em primeiro lugar, o Bolsa Família.
Em suma, contra as previsões dos radicais, o Brasil hoje (1) tende a se tornar menos dependente das metrópoles e das intempéries financeiras, (2) cresce economicamente, (3) vê diminuir a população sujeita à miséria absoluta e (4) vê diminuir a disparidade de renda entre os mais pobres e os mais ricos.
Ou seja, mesmo dentro dos marcos do Estado de direito e da democracia representativa, as coisas estão bem mais sujeitas à transformação do que rezam os dogmas. Mas é inútil esperar que os radicais, abrindo mão dos seus dogmas, abram os olhos para a realidade: esta já os deixou para trás há muito tempo.
19.9.08
Sobre a popularidade de Lula
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34 comentários:
muito bom artigo, cicero, muito bom mesmo!
tudo o que foi por você (d)escrito, de fato, vem ocorrendo e me deixa feliz. não porque seja o lula contribuindo com as tais mudanças - ou melhor, também porque é o lula (porém, isso não importa muito) -, mas por causa de uma melhoria na qualidade de vida de muitos cidadãos, pessoas assim, que nem eu, de carne e osso. pode parecer clichê, mas a frase do sociólogo betinho é muito pertinente em qualquer momento da vida: quem tem fome, tem pressa. as pessoas vivem 'agora', 'hoje', neste momento exato, no instante em que cada coisa 'é'; bom enxergarmos tais melhorias a partir de já. estejam cá, já!
(para que os dias nasçam ainda mais felizes e eu, desta forma, vingue a alma boa do poeta caju.)
beijo são, rica criatura!
Caro Antonio Cicero,
Concordo com você quando diz que o Presidente Lula merece os índices de popularidade sem precedentes que vem obtendo.
Não obstante, permita-me discordar de alguns dos caminhos que seguiu para chegar na constatação (com a qual concordo) de que o Governo Lula se mantém nos marcos do Estado de Direito e está de fato atacando os principais problemas sociais brasileiros.
Um destes caminhos foi soprar a vela dos conservadores quanto aos temores destes em ver uma ditadura populista, para o que contribuiriam "fatos" como, para ficar nos mais recentes, tentativas de intimidar a imprensa e a prática de agências de segurança ilegalmente espionarem membros do Judiciário e do Legislativo.
Quanto ao primeiro "fato" (tentativas de intimidação da imprensa), o que parece mais razoável é crer que o oposto dele seja verdadeiro. Mais crível é o fato de que a imprensa (ou a grande imprensa oligopólica nacional) tenta continuamente intimidar o governo federal, seja criando factóides, seja hiper-dimensionando a gravidade de alguns fatos (que passariam despercebidos em outros tempos ou em outros governos), mas no fim quase sempre tentando plantar focos de desestabilização nas instituições políticas e governamentais.
Embora não seja tão agressiva e reacionária quanto a mídia venezuelana (até porque Lula nunca foi tão agressivo ou supostamente "progressista", "socialista" ou "apressado" quanto Chávez), não é preciso ser um grande observador, nem tampouco acreditar em teorias da conspiração, para perceber que há, na grande mídia corporativa nacional, um visível mal-estar diante da realidade de o Brasil ser governado por um Lula, oriundo de camadas sociais historicamente negligenciadas por nossas elites tupiniquins.
Este "fato", ou fato invertido - a grande mídia cotidianamente buscar intimidar, pressionar e desestabilizar o governo Lula - se liga ao outro, o da suposta prática de agências de segurança governamentais (claro...) espionarem ilegalmente membros do Judiciário e Legislativo.
Bom, sobre este "fato", em primeiro lugar devemos lembrar que no Estado de Direito ninguém está (ou deveria estar) acima da Lei ou de seu império. Isso inclui senadores da República, ministros do Supremo e banqueiros - para ficarmos apenas em algumas ocupações que garantem foro privilegiado a seus ocupantes...
Em segundo lugar, também reza a lenda do Estado de Direito que ninguém pode sofrer sanções a partir de acusações sem provas que minimamente sustentem a denúncia - ou seja, a partir de meras suspeitas. No entanto, a prática de acusações sem provas parece quase sistemática pelo "jornalismo" cultivado na grande mídia oligopólica nacional. É o caso deste grampo supostamente feito de uma conversa entre Mendes e Torres, grampo supostamente feito pela Abin.
O que garante que as informações produzidas pela grande mídia gozam da prerrogativa de serem absolutamente verdadeiras, infalíveis ou indiscutíveis?
Deste absurdo decorrem outros, como o fato de o presidente do Supremo confundir as posições de juiz e parte-vítima (supostamente), e o ministro da Defesa cometer uma trapalhada atrás da outra, para o prejuízo de instituições republicanas como a PF e a Abin, e (coincidentemente) para o benefício de indivíduos poderosos e que vivem em meio a névoas (para dizer o mínimo do que pode ser quase uma nebulosa cósmica), como Daniel Dantas. E assim temos acusações levianas se acumulando e gerando bolas de neve que servem muito mais a determinados interesses do que à apuração (doa a quem doer) da verdade.
E o outro caminho, caro Cicero, foi soprar mais uma vez o balão de alguns opositores do governo, para os quais o governo Lula dá continuidade ("sabiamente") à política econômica do governo que o antecedeu, e que isso garantiria outra parte dos sucessos e da popularidade.
A rigor, esta tese é falsa. O governo Lula dá continuidade a apenas uma parte da política econômica do governo anterior, exatamente a parte que responde pelas amarras que impedem a economia de se expandir com mais vigor.
Na verdade, a condução da política macroeconômica pelo governo Lula é contraditória. Em alguns setores (BC), os instrumentos de gestão são conduzidos por mentalidades conservadoras/ortodoxas/liberais. Em outros setores (Bancos públicos), a política é expansionista, anti-cíclica, quase keynesiana.
Por outro lado, a ingerência da mentalidade liberal/ortodoxa da equipe econômica (BC) sobre outros setores do governo, ingerência esta que era muito maior nos governos FHC, é bem menor no governo Lula. Em especial no que diz respeito às áreas sociais (MDS) e de emprego (MTE, MPOG, no caso do emprego público), isso significa que há variáveis que influenciam indiretamente na dinâmica econômica e que já não mais são influenciadas pela ideologia econômica dominante no BC.
É o caso dos sucessivos reajustes do Salário Mínimo, em ritmo também bem superior ao obtido no governo FHC. Tais elevações do SM, com suas implicações nos valores pagos pela Previdência Social, mais a expansão da cobertura e do valor do benefício pago nos programas de transferência de renda, provocaram uma elevação da demanda agregada, aquecendo o mercado interno e sustentando, desta forma, índices de crescimento econômico no país, a despeito da crise externa.
Mais uma vez, há aqui uma contradição com o pensamento econômico praticado no BaCen.
Deste modo, é certo dizer que o governo Lula conseguiu imprimir uma dinâmica de maior crescimento econômico do que seu antecessor, APESAR de manter determinadas amarras, herdadas do governo anterior, as quais (âncora cambial suicida, juros estratosféricos e fantástico endividamento público, desarticulação do parque produtivo nacional por conta de uma abertura sem planejamento, destruição enorme do mercado de trabalho, com enorme desemprego alavancando a corrosão dos empregos formais, na forma da expansão brutal da informalidade/precarização laboral, privatização também sem planejamento, desastrosa em setores vitais à saúde da economia, como o energético, estímulo à desregulamentação e à ciranda financeira, tornando o país ainda mais vulnerável à volatilidade do sistema financeiro global - o qual, percebe-se somente hoje por tantos sabichões do passado, deve ser urgentemente regulado e submetido à dura fiscalização estatal, sob pena de se auto-destruir) impediram ou atrasaram muito o desenvolvimento socioeconômico do país.
Saudações,
Sidartha
Caro ACicero,
Como pode ser justificada a aprovação histórica do Lula se ele apenas deu continuidade ao governo anterior?
O Lula, p.ex., controlou a inflação [embora esta tenha crescido em 2007-8], mas quem acabou com a hiperinflação foi o FHC; aumentar o valor das bolsas, ou seja, distribuir mais dinheiro, ajuda [como medida emergencial], mas não resolve nada; o salário mínimo obteve aumentos reais, sim, mas continua uma miséria.
Não seria mais correto esperar que, justamente por gozar de tanta aprovação, o Lula devesse ter feito muito mais do que fez? Ele não fez e nem vai fazer nenhuma reforma estrutural; a educação, destruída nos governos anteriores, continua de mal a pior; não temos saúde nem segurança [a classe média paga os tubos de impostos e taxas e ainda tem de pagar escola e plano de saúde] etc.
Como professor, o que mais me incomoda é a situação calamitosa da educação. Estão-se formando semi-analfabetos. A faculdade virou ensino médio; o mestrado, graduação, e o doutorado, mestrado [o pós-doutorado não vale coisa nenhuma]. Enfim, aumentou-se a oferta de vagas, mas a qualidade do ensino foi nivelada por baixo. Veja os índices de aprovação da OAB!
O Lula, na verdade, recebeu uma herança bendita do FHC: a normalidade institucional, democrática. Só se pode ver algum mérito na manutenção da institucionalidade quando se compara a situação brasileira com a dos países vizinhos. Mas nesse ponto concordo com o Lula: o Brasil tem de ser comparado com o Brasil!
Abraço,
edg
Caro Sidartha,
No momento estou, como já observei em outros comentários neste blog, sem tempo para lhe responder detalhadamente. Mas, sucintamente:
1.
Quanto às tentativas de intimidar a imprensa, basta citar o projeto, de 2004, de criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), que teria a função de "orientar, disciplinar e fiscalizar" o exercício da profissão e a atividade de jornalismo, inclusive com poderes de punir as condutas que julgasse inadequadas com sanções que iriam de uma simples advertência à “censura”, e até à cassação do registro profissional; fora o fato de que o CFJ também teria a incumbência de emitir a carteira de trabalho dos jornalistas...
Em relação à censura, também o projeto da Ancinav, felizmente arquivado após a reação dos artistas e produtores culturais, era muito suspeito.
2.
Não aceito a tese de que a grande imprensa inteira seja contra o Lula, nem a de que ela busque cotidianamente “intimidar, pressionar e desestabilizar” o governo. Isso é paranóia. Parece-me que, com a exceção da revista “Veja”, o resto não tem nada em particular contra Lula. O que ocorre é que a grande imprensa, em toda parte do mundo, gosta de escândalos, venham de onde vierem. Nesse ponto, aliás, a imprensa inglesa, por exemplo, é pior que a Brasileira. A própria popularidade de Lula tem sido amplamente constatada e divulgada pela grande imprensa. Afinal, o meu artigo mesmo, elogiando Lula, foi publicado num órgão da grande imprensa: e ele teria sido publicado mesmo que eu não tivesse feito as ressalvas que você critica.
3.
É verdade que, no Estado de Direito, ninguém deve estar acima da Lei. Mas justamente: a lei não permite escuta telefônica de ninguém sem autorização judicial. E, francamente, parece coisa da KGB transformar a vítima da violação da lei no maior suspeito.
A questão de Daniel Dantas é outra. Mesmo que achemos que ele é culpado, o fato é que, se ele tem direito a hábeas corpus etc., não é possível lhe negar esses direitos. O argumento de que há brasileiros presos sem prova não vale nada: o certo seria lutar para garantir os direitos desses outros cidadãos, e não retirar os direitos dos poucos que os exercem. O contrário seria como dizer que, já que grande parte dos domicílios não têm esgoto, deve-se, por uma questão de justiça, retirar os esgotos dos demais.
4.
A sua afirmação de que “o governo Lula dá continuidade a apenas uma parte da política econômica do governo anterior, exatamente a parte que responde pelas amarras que impedem a economia de se expandir com mais vigor” é inteiramente falsa. A política econômica de Lula basicamente dá continuidade e aprofunda a de FHC. É disso, aliás, que inúmeros economistas petistas e ex-petistas o acusam. E, longe de impedir a economia de se expandir com mais vigor, é ela que está possibilitando a expansão que estamos a testemunhar.
Mas o mais importante é que ele efetivamente implementou alguns programas sociais de relativamente baixo custo, em relação ao enorme efeito que produzem.
******************************
Infelizmente, como eu disse, não estou com tempo para me aprofundar nessas questões, pelo menos até o fim do ciclo de conferências que me ocupará toda a semana que vem; de modo que não poderei voltar a esse tema por enquanto.
Abraço
adriano,
em momento algum eu disse que não era importante que o lula fizesse, se propusesse à realização de tais feitos. historicamente, acho bonito e bacana pensar que ele, com todo o passado político que tem, é quem, hoje, imprime mudanças consideráveis na realidade brasileira. porém, a minha questão não se centra na figura do lula: é importante, ao meu ver, que seja ele? sim, porém, não mais do que as mudanças em si. porque, se não fosse o lula a realizá-las, e sim uma outra pessoa, eu TAMBÉM estaria feliz. ficaria contente porque, no fundo, torço SEMPRE a favor do brasil. portanto, torço sempre para aqueles que se prontificam a coisas benéficas, a coisas que melhorem as nossas condições de vida. pra mim, muita diferença não faria se o país tivesse o lula como presidente, propondo-se, entretanto, ao "mais do mesmo" que enxergava até chegarmos aqui.
o centro do meu olho, o meu foco, não é "uma" figura política, mas o que esta, de efetivo, realiza. pois que, nem sempre, infelizmente, prática e retórica caminham juntas. muito bom quando acontece, como vejo neste nosso momento político. aí o contentamento realça.
é nesse sentido que falo; não se trata de um esnobismo à figura do lula, mas ao que ela, a figura - e leia-se aqui "figura" com o que a palavra carrega de significâncias - pode acarretar de "embaçamentos". não estou aqui, dizendo-me satisfeito com o governo lula, por conta do que é a "figura política" do lula. estou satisfeito com as suas políticas porque HOJE, porque AGORA, e porque são políticas que não seguem a cartilha da inoperância.
um abraço!
mais uma coisa, adriano: eu votei no lula. porém, muitos brasileiros não votaram, escolheram candidatos de outros partidos.
e isso pouco importa.
Edson,
Como estou sem tempo, apenas reproduzo abaixo trechos de uma matéria que saíu em O Globo, a partir de uma notícia da BBC (veja, Sidartha: é a grande imprensa):
O Globo Online, 23 de Junho de 2008
BBC Brasil
Desigualdade entre ricos e pobres caiu 7%, diz pesquisa do IPEA.
Os números divulgados pelo Ipea mostram que a diferença diminuiu porque os ganhos de renda dos mais pobres foram quase cinco vezes maiores que a recuperação da dos mais ricos.
O estudo do Ipea divide a população em dez grupos pela renda e mostra as variações nas médias salariais de cada decil. No acumulado do período, os três primeiros decis (com médias salariais de R$ 206, R$ 378 e R$ 422) tiveram aumentos salariais de 21,96%, 29,91% e 15,79%.
Para efeito de comparação, os três decis mais ricos (com médias salariais de R$ 1.159, R$ 1.797 e R$ 4.853) acumularam ganhos de 2,3%, 2,1% e 2,6%.
Para Pochmann, a redução da desigualdade é conseqüência do crescimento econômico com estabilidade monetária e articulado com políticas sociais.
"Geralmente aqueles que têm melhor escolaridade tendem a ter melhores resultados, especialmente em um país onde há preconceitos como o racial e o de gênero. O crescimento cria um ambiente favorável, mas por si só não garante melhor distribuição intersalarial", disse o presidente do Ipea.
O estudo, porém, diz que com a redução do desemprego e a expansão do PIB "seria razoável esperar um crescimento na demanda por mão-de-obra principalmente de menor valor e, por isso mesmo, uma elevação dos salários de base em relação aos extratos de mais elevada renda".
O Ipea cita ainda o crescimento do pessoal empregado e o aumento da massa salarial e do número de carteiras assinadas como "efeitos benéficos" do crescimento econômico do país.
Segundo o estudo, a participação dos salários no PIB tem se mantido estável desde 2004, revertendo uma tendência de queda verificada até então (de 40,3%, em 1995, para 35,8%, em 2002, segundo exemplo citado no estudo).
Abraço.
Edson,
Agora, de um artigo do New York Times:
NYT, July 31, 2008
Strong Economy Propels Brazil to World Stage
By ALEXEI BARRIONUEVO
Long famous for its unequal distribution of wealth, Brazil has shrunk its income gap by six percentage points since 2001, more than any other country in South America this decade, said Francisco Ferreira, a lead economist at the World Bank.
While the top 10 percent of Brazil’s earners saw their cumulative income rise by 7 percent from 2001 to 2006, the bottom 10 percent shot up by 58 percent, according to Marcelo Côrtes Neri, the director of the Center for Social Policies at the Getulio Vargas Foundation in Rio de Janeiro.
Other programs, like Bolsa Familia, give small subsidies to millions of poor Brazilians to buy food and other essentials. Bolsa Familia, which benefits 45 million people nationwide in distributing an annual budget of about $5.6 billion, has been far more effective at raising per-capita incomes than recent increases in the minimum wage, which has risen 36 percent since 2003.
The bottom-up nature of such social programs has helped expand formal and informal employment as well as the Brazilian middle class. The number of people under the poverty line — defined as those earning less than $80 a month — fell by 32 percent from 2004 to 2006, Mr. Neri said.
Abraço.
Prezado A. Cícero,
Acho que a análise isenta na política é mais difícil do que no amor. E depois de ter me interessado muito por ela, atualmente, o primeiro sentimento que me desperta é tédio, pois penso que os discursos são cada vez mais largos, e as margens de atuação cada vez mais estreitas no necessário quadro democrático parlamentar. Mesmo assim, farei um comentário:
Acho que Lula não é exatamente um deus nem um diabo, até porque ele muda bastante suas bandeiras, se é que tem (o que nem é um defeito absoluto na política).
Ainda que o Brasil tenha crescido menos do que paises semelhantes, ser presidente num período de crescimento mundial é bem fácil.
Não nos esqueçamos de que o General Médice, que foi ditador numa época de crescimento mundial, também tinha índices notáveis de popularidade, e isso não vinha só da censura, mas principalmente do momento de prosperidade que o país vivia. O próprio Lula já deu diversas declarações de saudades do governo Médice, do ponto de vista do emprego.
Como você diz, nenhum país escapa ileso de uma grande crise financeira, mas também nenhum deixa de lucrar num momento de prosperidade mundial (ainda bem, né).
Nessas épocas, basta não errar muito. Mas, infelizmente, sempre erramos nas épocas das vacas gordas, e como erro é uma coisa que se faz no presente, mas só aparece no futuro, quando a prosperidade acabar, saberemos o que foi acerto e erro.
O estômago não especula sobre democracia, tortura, mensalão, espionagem, corrupção etc, e creio que só com o tempo poderemos avaliar corretamente, sem paixão política e preciosismos, as atitudes concretas efetivamente tomadas pelo governo Lula dentro desse quadro mundial de prosperidade.
O ideal seria que pudéssemos admirar nossos presidentes como admiramos Getulio, Juscelino e Geisel, cada um deles pelos seus acertos.
Um abraço,
JR.
ACicero,
Não precisa responder, até porque não vou avançar nenhum novo argumento.
Creio que a principal informação do artigo dO Globo seja esta: "a participação dos salários no PIB tem se mantido estável desde 2004".
Ora, se o cenário econômico nacional fosse tão bom quanto se diz, se o crescimento fosse realmente sustentado, não seria de se esperar que a participação dos salários no PIB tivesse também crescido -- pelo menos, proporcionalmente à aprovação do presidente?
As estatísticas deixam muita coisa de fora. Os empregos gerados são realmente novos ou resultam da formalização de empregos já existentes? E qual é a qualidade dos empregos realmente novos?
Enquanto tem gente contente por ter entrado finalmente para a formalidade, ainda que com um subemprego, tem também gente fazendo o moviemnto contrário, como no caso dos aposentados --e de professores!--, que se vêem obrigados a fazer bico para tapar o buraco provocado pelo achatamento.
50 reais --uma pizza para a classe média média-- de bolsa família [dinheiro dado] representam cerca de 25% da renda de quem percebe 206 irreais: em termos absolutos não é nada, mas em termos relativos vale não só um voto como até uma romaria.
A realidade é que as crianças continuam indo à escola em primeiro lugar por causa da merenda e em segundo para justificar a bolsa. E elas saem da escola quase do mesmo jeito em que entraram, sem o menor preparo.
Abraço,
edg
Caro Antonio Cicero,
Esclarecido quanto à sua falta de tempo e possível demora ou impossibilidade de responder. Comento os seus pontos:
1. Odontólogos, economistas, médicos, advogados, entre outros profissionais, possuem Conselhos Federais, e ao que se saiba não se sentem tolhidos ou intimidados no tocante ao exercício de sua profissão. Pelo contrário, os CFs podem servir como marcos regulatórios importantes para o desempenho da profissão em condições melhores, mais adequadas ou seguras, inclusive para o próprio profissional.
Por que jornalistas seriam exceção? Se eu fosse jornalista provavelmente gostaria de ver minha profissão devidamente reconhecida e regulamentada. Quer dizer, a menos que o jornalismo não deva ser considerado uma profissão digna deste nome, como a medicina, a advocacia etc.
Imaginem que qualquer um fosse absolutamente livre para fazer procedimentos cirúrgicos se lhe desse na telha, ou prescrever receitas, remédios etc - enfim, fazer o trabalho de um médico, sem responsabilidade nenhuma por isso. Qual seria o resultado?
De modo similar, temos, no campo do jornalismo, pessoas igualmente desresponsabilizadas pelo que dizem ou fazem, o que me parece um convite à imprudência, negligência ou má-fé. Isso te parece razoável? Por que não, então, abolirem os outros Conselhos Federais profissionais e liberar logo tudo?
Finalmente, pelo que me consta o projeto de criação do CFJ não "é" do governo Lula, e sim de membros da categoria dos jornalistas (Fenaj). O governo Lula enviou o projeto simplesmente por ser isso uma exigência legal (projetos de criação de conselhos, após discussão e aprovação no Congresso, devem ser encaminhados pelo Executivo).
2. A grande mídia (os grandes jornalões, semanários, a Globo) retrata o mundo de modo interessado. Até aí nenhuma novidade, já que isso todo mundo faz em maior ou menor grau. O problema é fazer isso quase sempre de modo alinhado com determinados ideários político-ideológicos (oriundos de seus proprietários, que, ao que se saiba, não são santos, e tampouco árbitros tão equilibrados e justos quanto os nossos queridos magistrados do STF).
Peguemos, por exemplo, o ideário econômico que informa a visão jornalística da grande mídia. Em vez de me chamar de paranóico, por que você não experimenta citar, dentro da grande mídia, um único colunista ou jornalista, recorrente em alguma seção/coluna regular ou periódica, que possua uma visão positiva da intervenção do Estado na economia? Experimente me citar um único que fuja dos lugares-comuns à là Miriam Leitão, de que o Estado por definição é um mal (quando muito necessário), que o mercado, quanto mais livre melhor instância alocadora eficiente de recursos, que quanto menor o Estado melhor será a vida social e econômica da coletividade etc etc.
Quando o seu tempo permitir, experimente aceitar o desafio. E sobre o fato de a mídia trazer notícias como a que você mandou dO Globo ("Estudo do Ipea diz que caiu desigualdade entre pobres e ricos"), eu devo dizer que a grande mídia não pode viver apenas de satisfazer interesses de seus proprietários (Frias, Civitas etc): de vez em quando deve haver espaço para algum jornalismo. Até porque se os caras resolvessem sair completamente da realidade, que credibilidade teriam para fazer passar seus próprios recados interessados para o público?
3. Concordamos quanto ao óbvio de que escuta não autorizada judicialmente é ilegal e, portanto, estranha ao Estado de Direito. Mas o que isso tem a ver com a acusação, feita por Veja, replicada "jornalisticamente" pelo restante da grande mídia, a órgãos como a Abin ou a Polícia Federal, sem um mínimo de lastro em provas concretas? Ou voltamos à caça às bruxas de séculos atrás, em que a acusação continha em si mesma a prova do crime objeto da denúncia? Sem qualquer prova, "Veja" acusou a Abin e o restante da grande mídia começou a repetir incessantemente termos como "Estado policial" e "Grampolândia" (e quem faz os grampos? Abin e PF. E quem dirige tais órgãos? Indicados pelo governo. Qual governo? O Governo Lula. Pura coincidência...).
A mídia acusa (digo, "retrata jornalisticamente") baseada em que? Numa matéria da própria mídia, a qual se baseia numa afirmação da própria mídia: afirmou-se que a Abin é responsável pelo suposto grampo (Pra que Deus se a mídia pode muito bem criar a realidade a partir de suas próprias afirmações? "Disse então Deus: faça-se a luz, e a luz foi feita!"; "Disse então a mídia: foi um grampo, e foi a Abin; e foi um grampo, e foi a Abin!").
E, de nada em nada, conseguiram o afastamento do delegado Lacerda. Fiquei admirado de não proporem que o chefe da Abin fosse submetido à ordália, a fim de verificarem a culpa ou não do mesmo. Não seria mais absurdo do que a matéria de "Veja".
4. Sobre a política econômica do governo Lula não ser igual à de FHC, você se limitou a dizer que "é, sim", e que uma prova disso seriam economistas petistas e ex-petistas que acusam o governo Lula de ser igual (macroeconomicamente) a FHC. Bom, isso não é prova de nada, mas imagino que a sua falta de tempo em se aprofundar sobre o assunto tenha provocado isso.
Saudações,
Sidartha
Prezado Antonio, sua estrutura argumentativa é perfeita. Fico feliz que o Brasil ainda tenha pensadores do seu nível em plena ação. Ganhamos muito realmente, apesar de. Contudo, a meu ver, para que o Brasil supere as ainda existentes deficências nas disparidades sociais/renda, na miséria e na dependencia das flutuações financeiras internacionais (acrescentaria as desigualdades em educação), me parece faltar uma firme política de investimentos em ciência e tecnologia. A política atual não mira o alvo corretamente. É incrivel como adequados projetos de C&T podem implicar em sustentáveis ganhos sociais, econômicos e educacionais, a custos muito baixos em relação à sua não aplicação. O Brasil investe inadequadamente em C&T, as empresas sediadas no Brasil não investem em C&T. Não se entende que C&T pode mesmo fazer a grande diferença na solução das dificuldades que ainda persistem. Um grande abraço
Antônio
(permita-me hoje,
apenas hoje,
referir-me a você pelo nome próprio, em maiúscula na primeira letra, acompanhado de uma única palavra para comentar sua coluna-post e os inúmeros acertos em sua reflexão):
e-x-c-e-l-e-n-t-e!
com admiração,
um abraço,
betina moraes.
Muito obrigado, Betina!
Beijo,
ACicero
Prezado Luiz,
obrigado.
Concordo inteiramente.
Abraço,
ACicero
Sidartha,
entenda o seguinte: não sou militante de partido nenhum. Elogiei Lula porque, como muitos, aprovo o que acho que ele fez de bom. Para você, não basta elogiá-lo: é preciso dizer que ele é perfeito, para não “soprar a vela” dos conservadores. Não tenho essa preocupação. Para mim, amicus Lula, sed magis amica veritas. Seja um bom stalinista, se quiser, mas não me peça que o siga.
Sobre os seus quatro pontos:
1. Pense bem: um conselho federal que controle os odontólogos etc. preocupa-se apenas com o desempenho profissional dos odontólogos etc., não com a opinião deles. No caso dos jornalistas, ao contrário, as opiniões fazem parte da profissão. Esse tipo de falsa analogia é exatamente o que acaba justificando, para o militante, o totalitarismo.
2. Um colunista de esquerda num órgão de grande circulação? Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo.
3. Primeiro, Veja é um caso extremo. Segundo, os suspeitos principais são, evidentemente, os órgãos de segurança, que inclusive acusam uns aos outros.
4. O que penso sobre a política econômica de Lula está no meu artigo. Mas outros, de esquerda, pensam como eu. Cito-os:
Entrevista de Francisco de Oliveira ao Estado de São Paulo, 5/9/2005:
“A política econômica é continuísta, não oferece nada de novo”.
Fabiano Garrido e Gilberto Maringoni em Outro Brasil: Laboratório de Políticas Públicas da UERJ, 10/6/2005:
“Lula e a maioria do PT renderam-se a uma política econômica continuísta, tendo para isso que constituir uma base aliada desprovida de qualquer projeto de desenvolvimento nacional, mais interessada nos favores e sustentada por meio de práticas fisiológicas.”
Resenha do livro “Emprego, juros e câmbio – Finanças globais e desemprego” (Editora Campus – Elsevier, 350 páginas, R$ 65), de João Sicsú, professor de economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro:
"Segundo ele [Sicsu), as “mudanças” patrocinadas pelo governo petista não são apenas continuístas, nem lentas, e muito menos cautelosas. 'Foram mudanças profundas, que podem impedir que mudanças reais venham a ocorrer'”.
Entrevista de Luiz Werneck Vianna, a Valor, 29/12/2003:
“O governo Lula tem sido a radicalização do governo do PSDB”.
Abraço,
ACicero
Cícero,
As madrugadas estão sendo maravilhosas: todo blog aparentemente poderia ser igual - layout e contexto - mas não é! A razão pela qual o seu se diferencia dos demais é simples: há o ANTÔNIO CÍCERO - não é uma apologia ou um encantamento supérfluo - é a verdade sentida por mim. Não há um bossalismo,uma prepotência, uma ditadura de pensamento em sua respostas, mesmo quando elas divergem da opinião dos leitores do seu blog.A sua maneira de expor os fatos, sentido e didática claros, abrindo clarões é deliciosamente humana e acima de bem e mal.
Peço que sempre continue assim:
"LIVRAI-NOS DESSE TEMPO ESCURO"*
*Gilberto Gil
SEU AMIGO E ADMIRADOR ADRIANO NUNES.
Obrigado, Adriano. Suas palavras me estimulam, mas são generosas demais. Infelizmente, às vezes erro no tom das respostas que dou, principalmente quando estou sem tempo, mas não consigo me conter.
Abraço,
ACicero
Obrigado, Adriano. Suas palavras me estimulam, mas são generosas demais. Infelizmente, às vezes erro no tom das respostas que dou, principalmente quando, mesmo estando sem tempo, não consigo deixar de dizer alguma coisa.
Abraço,
ACicero
Parabéns não só pelo post, mas pela inteligência da discussão nos comentários.
Lula é um fenômeno, independente das críticas, algumas delas com muito fundamento.
Mas o Brasil está melhor. Bem melhor. Sinceramente não imagino que estivesse assim nas mãos de um Alckmin, por exemplo.
Eram nossas opções, afinal. Creio ter acertado no meu voto, apesar de continuar com minhas críticas.
E elas, as críticas, tanto minhas como de uma galera que também votou no Lula, deveriam ter mais ouvidos.
A principal? Sim, não precisamos chafurdar tanto pra mudarmos aqui e acolá. Sobreria ainda mais investimento para o social se pudermos não pagar "a conta" de tantos canalhas que se fazem necessários mas que na realidade não são.
O modelo de poder precisa ser alterado. A direção social do governo não. Já é nítido que a economia funciona quando o povo não passa fome, bem diferente do antigo pensamento de crescer o bolo para divisão posterior. Essa tese do poder anterior fracassou e afundou como o Titanic onde somente a classe superior sobrevive e a inferior fica trancafiada nas cabines submersas da fome e pobreza.
Caro Cicero,
0. Não sei o que te levou a pensar que eu considero o governo Lula perfeito.
1. Os Conselhos profissionais deveriam ser entendidos como mecanismos de proteção da atividade profissional respectiva. Um jornalista pode perfeitamente ter uma opinião, e pode perfeitamente ser tolhido em sua opinião, ou pressionado a distorcê-la, ou falsificar o seu próprio trabalho, em função de interesses outros que não o do ofício de noticiar. E, se ele não possui instâncias ou organismos legais por meio dos quais buscar referências ou auxílio nestes casos, tal situação coloca em risco a credibilidade de seu trabalho e da profissão.
Um conselho profissional legitimado pelos próprios profissionais poderia, sim, criar procedimentos para regular o exercício da profissão, fixar critérios, propor avaliações etc. Neste sentido não há nenhuma falsa analogia.
2. Acho duvidoso que Jânio de Freitas possua uma visão positiva da intervenção do Estado na economia. E não sei o que ser de esquerda tem a ver com isso.
3. "Os suspeitos principais são...". Suspeitos principais segundo quem? A grande mídia? Me responda uma coisa: sobre aquilo que faz a grande mídia é insuspeita em qualquer circunstância? Você até jogou um boi de piranha no rio: a "Veja". Esta revista seria extremista em sua ojeriza ao governo, enquanto o resto da boiada pode passar como moderada, equilibrada e normalmente fidedigna à verdade? Ora, Cicero, você não pode dizer que a grande mídia oligopólica (com ou sem Veja e Grupo Abril) não tenha interesses e não seja parte em disputas políticas etc. Ou você acha que a grande mídia pode mesmo ser enquadrada na condição de uma instituição que, de modo desinteressado, altruísta, se limita a retratar fatos, emitir opiniões, fazer acusações, cobrar e fiscalizar em nome de...
Aliás, em nome de quem mesmo a grande mídia corporativa faz este papel de grande poder fiscalizador e vigilante da honestidade das instituições públicas/estatais? Quem deu o mandato de grande procurador, vigilante e fiscalizador da moralidade pública à grande mídia corporativa? E ela pode fiscalizar, mas não pode ser fiscalizada, porque aí já é stalinismo e totalitarismo? Convenhamos...
4. Sobre o que você pensa da política econômica de Lula. Aparentemente você apenas concorda com quem diz que a política econômica é igual, mas sem condições de verificar a veracidade de tal opinião, não é? Você disse que o que pensa da política está no seu artigo, mas lá tudo que se vê é você dizer que a política é a mesma, e que controlou-se a inflação, gerou-se milhões de empregos etc. Ora, nada disso se refere ao que é a política econômica, e sim aos seus efeitos.
Que adianta trazer nomes (Chico de Oliveira, Maringoni, Sicsú, Werneck Vianna) e dizer que eles pensam como você (ou melhor, que você pensa como eles)? A menos que você tenha condições de analisar o mérito do argumento destes analistas e de verificar sua confiabilidade ou não (para o propósito referido, qual seja, responder se a política econômica de Lula é igual à de FHC?), ficará restrito à superfície do palpite, ou do achismo: eu acho que é igual, outros disseram que é igual, inclusive gente de esquerda (e o que isso significa?), então o que penso deve estar correto.
Para começo de conversa, Chico de Oliveira e Werneck Vianna não são economistas, assim como Maringoni (esse, pior ainda, é apenas um jornalista) - ou seja, seria melhor, já que o debate é no plano mais estrito da economia, que você pegasse outros caras, como Belluzzo ou Delfim Netto.
Olhando para o perfil político-ideológico, temos que Oliveira, Maringoni e Sicsú se situam bem à esquerda do governo Lula. Então, relativamente à posição que advogam no debate, é claro que o governo Lula será acusado, repito, acusado de ser "continuísta". Claro, ora, já que o governo Lula não fez o que eles esperavam e queriam. Mas o fato de o governo Lula não ter correspondido aos anseios destes analistas não significa que eles estejam certos ao concluírem que o governo Lula é apenas um FHC-3. Concorda?
Enfim, Cicero, em minha resposta para você eu tentei, ainda que de modo não muito detalhado, mostrar argumentos - que entram no mérito da questão - que apontariam para o fato de que a política econômica não é igual. Em todo caso, para sua apreciação, mando para você o link de um artigo que saiu no Valor Econômico, o qual comenta esta questão e tem o sugestivo nome de "AS DUAS FACES DA POLÍTICA ECONÔMICA". O link é: http://www.ipea.gov.br/003/00301009.jsp?ttCD_CHAVE=4248
Preste atenção ao que diz Oureiro (da UFPR), no final do texto. Ele traz outros elementos de DESCONTINUIDADE da política econômica do governo Lula em relação a FFHH.
Saudações,
Sidartha
CÍCERO CÍCERO!
Quando eu digo que há humildade em suas respostas eu não estou simplesmente elogiando: é um fato.
SEMPRE LUZ!
ABRAÇO.
ADRIANO.
Sidartha,
De novo, constato que não temos mais base para diálogo. Veja:
1. Para mim, quanto mais livre for a imprensa, melhor. Um órgão da imprensa controla o outro. Fora disso, quem se sentir lesado ou caluniado pode recorrer à lei. E só. O resto é censura intolerável.
2. Evidentemente, você não lê Jânio de Freitas.
3. Não existe uma entidade chamada “grande mídia”. Existe uma pluralidade de veículos de comunicação, alguns maiores, outros menores. Alguns poucos são muito grandes, mas eles estão longe de constituir um monopólio, pois competem entre si. Por isso, eles têm jornalistas, colunistas fixos e colaboradores eventuais das mais variadas tendências. E existe um número grande de veículos de tamanho médio, de todas as tendências, que têm um número imenso de leitores. E há uma infinidade de veículos pequenos. Falar de “grande mídia” como uma coisa só é uma simplificação grosseira, suscetível de ser usada por manipuladores autoritários ou totalitários.
Toda mídia pode e deve ser fiscalizadora. Faz parte do papel dela. E é cada órgão da mídia ficaliza o outro, numa sociedade aberta. Quer uma prova de que as coisas não são tão simples? A própria revista "Valor Econômico", que você cita para "corrigir" a minha impressão (que você, sem dúvida, atribui à influência que sofro da "grande mídia") sobre a política econômica do Lula tem, no seu conselho de administração, dois nomes que fazem parte da nata da "grande mídia", como Roberto Irineu Marinho e Luís Frias.
4. De novo, você se engana. Citei nomes de esquerda exatamente porque sei que, se citasse nomes de direita, você os criticaria na mesma base em que me criticou: dizendo que estavam puxando a brasa para Fernando Henrique.
Não estou com muito tempo sobrando e não quis perder tempo repetindo o óbvio: a base da política macroeconômica de Lula está, como a do último FHC, em dar ênfase à estabilidade e ao controle da inflação através da fixação das taxas de juros, do câmbio flutuante e da preocupação com os superávits primários.
5. Finalmente, devo dizer que minha posição em relação a FHC não é a sua. Acho que o Brasil se beneficiou de ter tido dois presidentes consecutivos de esquerda. E acho lamentavelmente imaturo que os dois maiores partidos de esquerda, o PT e o PSDB, não consigam fazer uma aliança para o bem do Brasil e que, em vez disso, cada um deles seja mais capaz de se aliar com o que há de pior na política brasileira.
Mas não quero convencer você de nada. Divergimos em questões de princípio.
Caro Antonio,
Concordo com a maior parte do que disse. Só dou um peso um pouco diferente às coisas. Acho muito preocupante o viés autoritário do PT.
Mas talvez você tenha razão - o melhor seria os dois grandes partidos de esquerda se unirem, já que separados não tem se fiscalizado mutuamente, e sim competido em clientelismo e fisiologismo.
Parabéns pelo belo artigo.
um abraço,
Lucas Nicolato
PS: Tributo a Waly, com Macalé, Adriana e Omar só pode ser tudo de bom, não?
Caro Cicero,
Apenas mais uma coisa, e sobre a questão da grande mídia: os teóricos da sociedade aberta, entre os quais Popper e seus antecessores, dificilmente combinariam a defesa da sociedade aberta com monopólios ou oligopólios de qualquer natureza.
A idéia de que no Brasil há uma pluralidade de veículos de mídia, maiores, menores e que competem entre si, para sugerir com isso que a mídia brasileira se fiscaliza e é "democrática" ou plural, mais parece uma peça de ficção do que um retrato da realidade.
Na realidade temos os maiores veículos de comunicação constituindo um oligopólio - que não compete entre si coisa nenhuma, ficando muito mais uns replicando o que os outros dizem ou falam primeiro -, sendo seguidos em geral (nem sempre) pelos veículos médios - não raro de propriedade total ou parcial dos grandes proprietários, ou de políticos amigos/parceiros (me diga o que foi a gestão de ACM no Ministério das Comunicações no governo Sarney, e me diga se houve algum contra-movimento em relação àquilo).
Temos apenas algumas exceções que confirmam a regra acima, casos por exemplo da competição entre Record e Globo etc. E com a internet e sua disseminação, esperemos que a oligopolização da mídia brasileira seja um fato com os dias contados.
Finalmente, não tente simplificar a minha posição, alegando que eu estou dizendo que todos os jornalistas são autômatos de meia dúzia de barões da comunicação empenhados na dominação do mundo. Sei muito bem que tal sistema tem fissuras e lacunas, contradições e tensões em seu interior, tanto quanto sei que as fissuras, lacunas e tensões que saem demais da curva normalmente são expelidos da condição de regulares/estáveis.
Realidade próxima da pluralidade ou democratização da mídia seria se tivéssemos jornalões ou departamentos de jornalismo em emissoras não apenas alinhados em geral com o conservadorismo e com o liberalismo, mas também com pontos de vista desenvolvimentistas, nacionalistas, pós-keynesianos, de esquerda, progressistas etc. Porque hoje quem se atreve a falar em tais coisas é quase imediatamente desqualificado com rótulos de populista, ultrapassado etc.
Saudações,
Sidartha
Eu daqui de longe, distanciada mas interessada, apreendo um Brasil que gosto, também, de aprender. Assumindo a minha falta de informação pormenorizada, leio-o contudo como alguém despreconceituoso e original na maneirade abordar as questões.
:))
Caro Lucas,
concordo com você. É deveras preocupante o viés autoritário do PT.
Lula está com uma popularidade inédita. Isso quer evidentemente dizer que ou a grande mídia não tem o poder avassalador que os militantes radicais lhe atribuem, ou não é tão monolítica quanto eles dizem. Penso que as duas coisas são verdadeiras. No entanto, os militantes radicais ainda acham justo controlar até mesmo as críticas ineficazes que se façam ao governo; e desqualificam tudo o que não seja elogio irrestrito e superlativo. Por que agem assim? Porque supõem estar numa guerra (a "luta de classes") e, numa guera, não se pode abrir nenhuma brecha para o inimigo. Guerra é guerra. E assim, adeus liberdade de expressão. É a sina da esquerda revolucionária. Espero que o próprio Lula não acabe embarcando nessa.
Quanto ao show de hoje, deve ser ótimo mesmo.
Abraço,
ACicero
Caro Antonio,
Exatamente. Mas não me parece que o viés autoritário se limite ao trato com a "grande mídia". As transgressões dos princípios democráticos, embora mais discretas e muito menos nocivas que as praticadas algumas décadas atrás, ocorrem em todas as brechas possíveis, sempre com a justificativa da "guerra", do "bem maior".
Às vezes penso que o pensamento ditatorial, tendo-se mostrado ineficaz para os interesses da direita, infelizmente ainda não foi completamente esquecido pela esquerda, que se sente sempre tentada a subverter a ordem - dita "opressora" - que a rigor já não existe como uma hegemonia há bastante tempo. Há uma espécie de fetiche da origem, como se a sociedade - passe ela por quaisquer transformações - sempre fosse reflexo do primeiro senhor que oprimiu seus servos. Mas creio que novas gerações de políticos não caem nas mesmas armadilhas que os saudosistas da clandestinidade.
(Talvez nesse aspecto o político mais jovem do Brasil seja Gabeira, que, mesmo tendo participado da luta armada, não vacilou no momento de abandonar a velha concepção da esquerda e levantar a bandeira da sociedade aberta - e da radicalização da abertura)
Mais uma vez, parabéns pelo artigo, e pela dedicação à discussão filosófica e política, mesmo quando o tempo é escasso e as responsabilidades muitas.
Quanto ao show, não pude ir ontem, mas não perderei hoje.
grande abraço,
Lucas
salve cícero
com sua licença vou entrando no seu blog. seus comentários pró lula foram muito discutidos por aí...eu me assusto, político com muita popularidade? isso não presta cícero, sobretudo em época de eleição onde ele nem concorre, deduz-se que a máquina vai funcionar mais do que devia...político bom anda no sapatinho, eu creio ser assim que a sociedade tem que tratá-los no ambiente democrático.
salve cícero
com sua licença vou entrando no seu blog. seus comentários pró lula foram muito discutidos por aí...eu me assusto, político com muita popularidade? isso não presta cícero, sobretudo em época de eleição onde ele nem concorre, deduz-se que a máquina vai funcionar mais do que devia...político bom anda no sapatinho, eu creio ser assim que a sociedade tem que tratá-los no ambiente democrático. quanto a política econômica, quem comanda a política econômica da américa latina? o ambinete social em geral vai muito bem, mas na prática...é o terror, todo mundo tem medo de circular, o estado paralelo tomou um tamanho assustador e todo mundo está a espera de um refluxo dessa avalanche, será ainda possível? ou estamos condenados? seremos colômbia? o que será da segurança pública na américa latina? que ambiente é esse? tá bom???
cícero, somos seus fans, pense com a gente.
abs
Caro Antonio Cicero,
Estava pensando num modo bastante didático para explicar o porquê de a política econômica de Lula ter diferenças significativas em relação à de FHC/tucanos. Talvez tenha encontrado.
Numa frase: a política fiscal do governo Lula é muito, muito diferente da política fiscal do tucanato.
Este é um fato inegável, tanto que pode ser constatado por aqueles que, não obstante acharem que a política econômica lulista é "igual" à de FHC, vêem motivos para criticar ações no governo atual que considerariam condenáveis.
Vez por outra vemos na grande mídia notícias que "denunciam" a "gastança" do governo Lula, na forma de gastos ou despesas diversos. Miriam Suinão, Waacks e outros robôs-apresentadores em telejornais, os seus patrões na Folha, Cicero, etc., estão entre os que acham nefasta esta diferença de Lula em relação a FHC.
Pois bem. E é exatamente este aumento das despesas do governo que responde por efeitos na dinâmica econômica que não existiam (ou existiam em bem menor grau) no governo FHC.
Coisas como a elevação do emprego público, elevação do investimento público (em infra-estrutura, PAC, Luz para Todos, essas coisas, além de expansão do crédito para consumo e investimento, no caso de bancos públicos etc), elevação da despesa do governo com coisas como Salário Mínimo e Bolsa Família, tais coisas significam uma elevação do gasto público muito superior ao que existia no governo FHC.
E é esta diferença do governo Lula, que de tal modo aumenta a liquidez na economia e estimula o consumo e o investimento privados, um dos fatores que tornam o crescimento econômico maior agora do que nos anos FHC (inclusive no que diz respeito ao crescimento obtido por meio da expansão do mercado interno, fenômeno rarefeito, para não dizer quase nulo, nos anos FHC).
Quem nos fala sobre o impacto que o gasto público geralmente promove sobre a dinâmica econômica é a ciência econômica de matriz keynesiana. Coisa que você jamais encontrará (talvez com um microscópico eletrônico) entre articulistas, colunistas e outros indivíduos falantes nos veículos da grande mídia nativa.
Saudações,
Sidartha
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