NÊNIA
A
morte nada foi para ele, pois enquanto vivia não havia a morte e, agora que há,
ele já não vive. Não temer a morte tornava-lhe a vida mais leve e o dispensava
de desejar a imortalidade em vão. Sua vida era infinita, não porque se estendesse
indefinidamente no tempo mas porque, como um campo visual, não tinha limite.
Tal qual outras coisas preciosas, ela não se media pela extensão mas pela
intensidade. Louvemos e contemos no número dos felizes os que bem empregaram o
parco tempo que a sorte lhes emprestou. Bom não é viver, mas viver bem. Ele viu
a luz do dia, teve amigos, amou e floresceu. Às vezes anuviava-se o seu brilho.
Às vezes era radiante. Quem pergunta quanto tempo viveu? Viveu e ilumina nossa
memória.
CICERO, Antonio. "Nênia". In:_____. A cidade e os livros. Rio de Janeiro: Record, 2002.
Um comentário:
lindo
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