15.1.19

Alex Varella: "Ela é de Alexandria" e "O pombo flâneur"



Ela é de Alexandria

A luz negra de seu corpo ilumina todo o porto.
Ela é de Alexandria, da baía de Alexandria.
Eu venho de Sírias,
pelo Egito, por Jônia,
por Creta,
pela Grécia.
Em meu corpo corre o sangue do mar.




O pombo flâneur

Todo pombo é flâneur, mas o carioca ainda mais.
Conta Paulo Mendes Campos que era verão,
e dois deles tinham marcado um encontro,
às cinco azul em ponto,
nos céus do Rio de Janeiro.
Os tradicionais relógios da Mesbla e da Central marcavam a hora,
mas não marcavam o tempo,
(nenhum relógio marca o tempo).
Atravessando a cidade num fio de luz,
a vista ardendo de azul,
aquele pombo se atrasou
e, arrulhando,
em uma sentença se explicou:
“-- Desculpe , meu amor,
mas o dia estava tão bonito que eu vim andando;
eu tinha de vir andando!”




VARELLA, Alex. "Ela é de Alexandria" e "O pombo flâneur".

Um comentário:

bea disse...

Lindo, o poema do pombo.