1 - O que podemos esperar da
aula espetáculo que vai acontecer no dia de abertura da Feira?
Pela primeira vez, Marina e eu
vamos, lado a lado, falar em público sobre nossa parceria, explicando como
começou, como compomos nossas canções, de que modo nos inspiramos para compor
algumas delas, o que pensamos de nosso trabalho conjunto etc. Acho que nós
mesmos não sabemos bem o que esperar desse encontro, mas esperamos que dê certo
e seja interessante para o público.
2 - Há diferença entre se
escrever a letra de uma canção e se escrever para um livro?
Sim, pois escrevo minhas letras, em
geral, para melodias já prontas, que me são dadas por meus parceiros ou
parceiras. Logo, não posso deixar de levar em conta não só a própria melodia,
com todas as suas sugestões, como o parceiro ou parceira em questão, e a pessoa
que deverá cantar a canção final. Já quando escrevo um poema, não penso senão
no que vai acontecendo na minha cabeça enquanto o escrevo.
3 - Quais os benefícios de se
ter a(o) irmã(o) como parceira(o) de trabalho?
A vantagem é a intimidade que os
irmãos têm. Na hora de compor e de dizer por onde achamos que a canção deve ir,
é bom não ter muita cerimônia.
4 - Como a sua musicalidade
influencia os seus escritos (os que, evidentemente, não sejam letras de
música)?
Na verdade, não sei se sou tão
musical assim. Quem é musical é a Marina. Eu faço apenas as letras. Não toco
nenhum instrumento e sou inteiramente desafinado. O que acontece é que presto
muita atenção ao aspecto sonoro – por exemplo, ao ritmo – da própria linguagem
e, naturalmente, ao fazer um poema, sou capaz de usar qualquer um dos recursos
de versificação que me ocorrerem.
5 - Quais músicos atuais você
escuta e quais escritores dessa geração você lê?
Escuto, por exemplo (e por ordem
alfabética) , Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes, Arthur Nestrovski, Arthur
Nogueira, Caetano Veloso, Cid Campos, João Bosco, José Miguel Wisnik, Leo
Cavalcanti, Luis Tatit, Martinália, Péricles Cavalcanti...
6 - Que artistas, sejam de qual
época e de qual mídia for, inspiraram o seu trabalho?
Muitos; por exemplo (em ordem
alfabética) Anacreonte, Baudelaire, Bob Dylan, Caetano Veloso, Calímaco,
Catulo, Drummond, Hölderlin, Horácio, Rilke, Rimbaud, Shakespeare, T.S. Eliot,
Vinícius, Yeats...
7 - Como a maturidade e
experiência adquiridas em décadas de fazer artístico e intelectual influenciam
sua produção atual?
Não sou eu a melhor pessoa para
julgar meu próprio trabalho e minha própria evolução. Não sei dizer.
8 - Depois de já ter trilhado
por tantas mídias diferentes, que novidades podemos esperar de você no futuro?
Quando muito, novos poemas, novas
letras e novos ensaios de filosofia.
9 - Não podemos deixar de falar
das biografias não-autorizadas. Você é a favor ou contra? Por quê?
Sou contra a proibição de
biografias não autorizadas. Parecem-me inconstitucionais os artigos 20 e 21 do
código civil, pois contradizem o artigo 5º, inciso IV da Constituição, segundo
o qual “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”, e
contradizem o artigo 5º, inciso IX, segundo o qual “é livre a expressão da
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente
de censura ou licença”. E o inciso do mesmo artigo 5º que trata da privacidade,
que é o X, diz apenas que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, ASSEGURADO O DIREITO À INDENIZAÇÃO pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”. Ou seja, o máximo que se pode
pretender é a indenização pelo dano moral, mas jamais a proibição da publicação
de um texto. Assim, o que devemos lutar, no Brasil, é para que a justiça, não
apenas nesse caso, mas sempre, seja mais ágil; e para que, no caso específico
do “dano material ou moral” que uma biografia difamante cause no biografado,
seja realmente substancial a indenização imposta ao biógrafo. Acho também que
deve ser punida qualquer violação ILEGAL da privacidade de uma pessoa. Ninguém
tem o direito, por exemplo, de violar minha correspondência ou de
clandestinamente escutar minhas conversas telefônicas.
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