Desejo
Só o desejo não passa
e só deseja o que passa
e passo meu tempo inteiro
a enfrentar um só problema:
ao menos no meu poema
agarrar o passageiro.
CICERO, Antonio. Porventura. Rio de Janeiro: Record, 2012.
(No prelo)
BLOG DE ANTONIO CICERO: poesia, arte, filosofia, crítica, literatura, política
6 comentários:
Cícero:
Há algum tempo, vi num comentário de uma de suas postagens alguém pedindo a tradução de O Jardim de Proserpina, de Swinburne. Eu já conhecia o poema há algum tempo, e também nunca havia encontrado nenhuma tradução "decente" dele. Resolvi eu mesmo abraçar a tarefa. Acabo de publicá-lo no meu Tumblr, nesse endereço: nsantand.tumbrl.br. Minha tradução está lá, com as respectivas notas sobre o trabalho (deu trabalho mesmo!). Obrigado pelo apoio!
A tradução? É esta:
O Jardim de Proserpina
Algernon Charles Swinburne
Cá, em que a terra é calma;
Cá, em que o drama é como
Ar morto e exaustas almas,
Dúbios sonhos assomo;
Vejo o campo a medrar
Para a ceifa e o plantar,
A colheita e o roçar,
Mundo fluido em sono.
Farto de dor e riso,
E de quem chora e ri;
Do que vem sem aviso
Aos que colhem aqui:
Dos dias e das horas,
Secos brotos da flora,
Gana, sonhos, pletora,
Tudo, menos dormir.
Aqui a vida é morte,
E onde não há olhares
Brisas tênues escoltam
Débeis almas e naves;
São párias à deriva,
Nus de expectativa;
Mas aqui não há brisa,
Nem voejam tais aves.
Nada cresce no charco,
Nada de vinha ou flora,
Só um florescer parco,
Verdes uvas de Cora,
Camas de juncos móveis
Prenhes de folhas débeis
Que ela esmaga e fere.
Homens em sua hora.
Gris, e sem marca ou nome,
Em tal terra de sal,
Eles deitam e dormem,
Da noite ao arrebol;
E como alma tardia
Cindida na porfia,
Bruma por companhia,
Da treva irrompe o sol.
Até mesmo o mais forte
É da morte um amigo,
No céu, não rir da sorte,
Nem, no chão, do castigo;
Mesmo o que há de belo
Tem seu fim, seu flagelo;
Mesmo a paz e o desvelo
São, no fim, desabrigo.
Gris, além dos portais,
Com folhas coroada,
Une coisas mortais,
Mãos eternas, geladas;
Seus lábios são macios
Assombram os gentios
Que a buscam, erradios,
Pelas eras e plagas.
Por eles ela vela,
Por todos ela espera;
Esquece a terra bela,
A vida pura e vera;
Primavera, grãos, ave,
Vá, em seu vôo suave,
Aonde o som soa grave,
E calcada é a hera.
Lá vão amores murchos,
De asas gastas, cansados;
Anos tais ramos mochos,
E entes consternados;
Sonhos mortos e breves,
Grãos cobertos por neve,
Folhas (que o vento as leve):
Abris[1] despedaçados.
Não sei se sofreremos,
E o gozo é incerto;
Amanhã morreremos;
O tempo é sem dileto.
O amor é fraco, aflito,
Tem lábios, mas contrito,
Ais, e olhos de olvido,
Choro que afasta o afeto.
Por muito amor à vida,
Do medo e fé libertos,
Damos graças devidas
A uns deuses incertos:
Que as vidas se extingam,
Que os mortos não se ergam;
Que os rios que serpenteiam,
Ao mar cheguem decerto.
Nem o sol, nem estrela,
Então, despertarão:
Nem água que encapela,
Nem um sinal ou som:
Nem folhas de outono;
Nem dias de abandono,
Só um eterno sono,
E eterna escuridão.
Parabéns por esse feito, Nelson!
Quem agradece sou eu. Gostei muito. Vou pôr um link para o seu blog.
Abraço
Cai como uma luva no presente momento de minha passagem por aqui....
Noite chuvosa
Nevoeiro
Pelo corpo inteiro
A sombra
Impossível dizer
Nesse momento
Apenas a intenção
Mais sublime convida
Rosa, branco,
Pétala
Diga-me agora
O que é manhã
Sem demora
És penhasco
Ferindo e abrindo
Rasgando e formando laço
Ou Seu abraço
Na página branca da minha vida
Boa tarde. Obrigado por compartilhar seu poema. O blog é maravilhoso. Acompanho sempre. Queria saber se existe um "dicionário" poético; uma coletânea ou obra de poeta que se dedique a conceituar palavras relevantes. Não achei nada na internet nada parecido.
Abraços!
Sim, Rodrigo Tomé. Há o "Pequeno dicionário de arte poética", do Geir Campos (Rio de Janeiro: Conquista, 1960). Receio que ele esteja esgotado, mas é possível encontrá-lo em sebos virtuais.
Abraço
Postar um comentário