31.3.11

Paul Verlaine: "Bibliophilie" / "Bibliofilia" : tradução de André Vallias




Bibliofilia

O livro velho, tantas vezes lido!
Com furos e fissuras ficou feio
Por uso, mas de súbito está cheio
De vida, ao tato e à vista oferecido.

O livro, que até pouco era defunto,
Ressurge "sem surpresa para o sábio"
Que sabe, ó Transformista de alfarrábio,
O quanto de arte pões no teu assunto.

Jovem de novo, afoito para o afã:
O livro – feito antiga cortesã
Que alguma fada-mãe deixasse virgem;

E, como se escutássemos a voz
Dourada de uma excelsa musa, nós
Relemos, entretidos na vertigem.

Foto: Otavio Schipper



Bibliophilie

Le vieux livre qu’on a lu, relu tant de fois !
Brisé, navré, navrant, fait hideux par l'usage,
Soudain le voici frais, pimpant, jeune visage
Et fin toucher, délice et des yeux et des
                                        doigts.

Ce livre cru bien mort, chose d'ombre et
                                        d'effrois,
Sa résurrection « ne surprend pas le sage ».
Qui sait, ô Relieur, artiste ensemble et mage,
Combien tu fais encore mieux que tu ne dois.

On le reprend, ce livre en sa toute jeunesse,
Comme l’on reprendrait une ancienne
                                        maîtresse
Que quelque fée aurait revirginée au point;

On le relit comme on écouterait la Muse
D'antan, voix d'or qu'éraillait l'âge qui
                                        nous point :
Claire à nouveau, la revoici qui nous amuse.



VERLAINE, Paul. Biblio-Sonetos. Tradução de André Vallias. São Paulo: Selo Demônio Negro, 2010.

3 comentários:

Oleg disse...

Chapeau, Verlaine! Bravo, Cicero! En voilà un poème réellement méritoire: ah, si les chenapans d'aujourd'hui savaient écrire de telles choses sublimes... Je crois que, embelli de la sorte, le monde gagnerait son indult. Oleg Almeida

Teresinha Oliveira disse...

Verdadeiro esse soneto do Verlaine. Os livros tem mesmo disso; envelhecem em nossas prateleiras, e nós junto.E, quando num momento distraído os relemos,eles são outros, porque nós também o somos.
Um abraço.

Jefferson Bessa disse...

Marca das mãos também
Mas ainda marca dos olhos
que leram e retornarão
ao vivo dos livros.
Belo poema. O título é excelente.
Um abraço.
Jefferson.