19.3.11
François Villon: Balade des dames des temps jadis / Balada das damas dos tempos idos: trad. de Modesto de Abreu
Balada das damas dos tempos idos
Dizei-me em que terra ou país
Está Flora, a bela romana;
Onde Arquipíada ou Taís,
que foi sua prima germana;
Eco, a imitar na água que mana
de rio ou lago, a voz que a aflora,
E de beleza sobre-humana?
Mas onde estais, neves de outrora?
E Heloísa, a mui sábia e infeliz
Pela qual foi enclausurado
Pedro Abelardo em São Denis,
por seu amor sacrificado?
Onde, igualmente, a soberana
Que a Buridan mandou pôr fora
Num saco ao Sena arremessado?
Mas onde estais, neves de outrora?
Branca, a rainha, mãe de Luís
Que com voz divina cantava;
Berta Pé-Grande, Alix, Beatriz
E a que no Maine dominava;
E a boa lorena Joana,
Queimada em Ruão? Nossa Senhora!
Onde estão, Virgem soberana?
Mas onde estais, neves de outrora?
Príncipe, vede, o caso é urgente:
Onde estão elas, vede-o agora;
Que este refrão guardeis em mente:
Onde estão as neves de outrora?
Ballade des dames du temps jadis
Dites-moi où, n'en quel pays,
Est Flora la belle Romaine,
Archipiades, ni Thais,
Qui fut sa cousine germaine,
Écho parlant quand bruit on mène
Dessus rivière ou sus étang,
Qui beauté eut trop plus qu'humaine.
Mais où sont les neiges d'antan ?
Où est la très sage Hélois,
Pour qui châtré fut et puis moine
Pierre Esbaillart à Saint Denis ?
Pour son amour eut cette essoyne.
Semblablement où est la reine
Qui commanda que Buridan
Fut jeté en un sac en Seine ?
Mais où sont les neiges d'antan ?
La reine Blanche comme lys
Qui chantait à voix de sirène,
Berthe au grand pied, Bietris, Alis,
Haremburgis qui tint le Maine,
Et Jeanne la bonne Lorraine
Qu'Anglais brulèrent à Rouen ;
Où sont-ils, où, Vierge souv'raine ?
Mais où sont les neiges d'antan ?
Prince, n'enquerrez de semaine
Où elles sont, ni de cet an,
Qu'à ce refrain ne vous ramène :
Mais où sont les neiges d'antan ?
VILLON, François. Poésies complètes. Paris: Galliimard, 1934.
MODESTO DE ABREU. "Balada das damas dos tempos idos" (tradução de "Balade des dames des temps d'antan"). In: MAGALHÃES JR., R. Antologia de poetas franceses. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy Ltda Editora, 1950.
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5 comentários:
Cicero,
Poema muito belo!
Fiz esse aqui para você:
"um pedacinho que vai" - Para Antonio Cicero.
a vida é a vida.
cedo ou tarde, tudo
nela cabe:
mentiras
um sonho
toda a realidade.
a vida é
o que a gente não pode.
assusta-nos
alegra-nos
abriga-nos...
que sorte!
fica um pedacinho
na memória.
a vida é outro tempo...
não a deciframos
nunca:
ai, quanto nos devora!
Abração,
Adriano Nunes.
Mirante
Houve um tempo
Em que bastava o trepidar
Das folhas no jardim
Uma música
E aquilo dentro de mim
Transbordava
Sem mácula
Somente o sorriso
Sem mágoa
E saltitante
Sem nada diante
Além da própria lua
O instante
Roubado na penumbra
Daqui desse mirante
Caro Cicero,
maravilhosa escolha para postagem, como sempre. Aproveitei a rara lembrança e digitalizei de um Lp de 1953 a canção que Georges Brassens fez para o poema.
Grande abraço
Nunca havia visto um poesia com meu nome!
Obrigada
É um belo poema, Adriano. Muito obrigado!
Abraço
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