3.11.09

Paul Eluard: "À peine défigurée"

Apenas desfigurada

Adeus tristeza
Bom dia tristeza
Estás inscrita nas linhas do teto
Estás inscrita nos olhos que amo
Não chegas a ser a miséria
Pois os lábios mais pobres te denunciam
Por um sorriso

Bom dia tristeza
Amor dos corpos amáveis
Potência do amor
Cuja amabilidade surge
Como um monstro sem corpo
Cabeça desapontada
tristeza belo rosto



À peine défiguré

Adieu tristesse
Bonjour tristesse
Tu es inscrite dans les lignes du plafond
Tu es inscrite dans les yeux que j'aime
Tu n'es pas tout à fait la misère
Car les lèvres les plus pauvres te dénoncent
Par un sourire

Bonjour tristesse
Amour des corps aimables
Puissance de l'amour
Dont l'amabilité surgit
Comme un monstre sans corps
Tête désappointée
Tristesse beau visage.



ÉLUARD, Paul. La vie immédiate. Paris: Gallimard, 1981.

16 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Ótimo! E a tradução linda! (é sua?)



Grande abraço,
Adriano Nunes.

Anônimo disse...

Antonio,


Belo! Grande postagem!


Um soneto recente, que fiz para o amado Caetano:

"Outra Canção" - Para Caetano Veloso.



Tudo se for
Feito de amor.
Grande prazer,
Satisfazer

Um coração.
Nessa canção,
(Quanta alegria
O meu teria!)

Imenso sonho.
Quando componho,
Eu só renasço

E crio um laço
Raro, profundo
Com todo mundo.


Beijos,
Cecile.

Tene Cheba disse...

Bom Dia !!!

Antonio Cicero disse...

Adriano,

Obrigado. É minha sim. Quando não ponho o nome do tradutor, é porque é minha. Acho que vou começar a pôr.

Abraço

Climacus disse...

"Viele versuchten umsonst, das Freudigste freudig zu sagen,/
Hier spricht endlicht es mir, hier in der Trauer sich aus".

Hölderlin, "Sóphokles, IV, 3".

Arthur Nogueira disse...

Querido Cicero,

belíssimo poema. Inevitavelmente, lembrei de Maysa cantando "Bom dia, tristeza", de Adoniran e Vinícius.

Beijo grande ;*

ADRIANO NUNES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tene Cheba. disse...

O desejo mais profundo da alma resvala na indiferença, com que homens e outros seres captam diferentes realidades.
Tristeza, portado pelo lindo poema,não me corta mais, cada vez menos Ser, anomalias também não me incomadam.
Foi assim que olhei o Sol nascendo, hoje, ontem, ano passado, indiferente, sem trocas, a segunda lei da termodinânmica, não ocorre.
Foi assim que olhei para o livro que reservei, olho para ele todos os dias, desde que o deixei sobre a mesa, tal e qua com os jornais, mal consigo ler o Ilustrada.
Que rio seco me tornei, fraco ou forte, inerte, sem reação, sem movimento, dotado de inércia jupiteriana.
Ma a ponte continua ali, visível, arcada, tantas pessoas trafegam, eata mesma quantidade não a notam.
Até o rio, inanimado, limpo, completamente esquecido.
Como é bom sentir triteza, como é bom ver o Pôr do Sol.
Bom Dia constância. Muito bom dia !

Jefferson Bessa disse...

Como é bom ver a outra "face" do rosto das coisas!!!

Abraços.


Jefferson.

Climacus disse...

"kiy-bheroa` pâniym yiythabh lêbh"

"a tristeza no rosto torna melhor o coração".

Eclesiástes 7, 3.

Anônimo disse...

Amo-te Glorinha,
amo você,
amo as bicicletas,
amo andar de bermudas.
Amo-te Glorinha,
tesourinha,
amo sua linha,
dez.
Glória, glorinha,
Maria, ia.

Jefferson Bessa disse...

Um poema que escrevi:


no vão do braço
no vão dos músculos
o verso sobe e se deita

na contração natural se esvai,
na linha de fibra cordial
o verso desce e desliza

ombros e mãos se elevam
tudo recebe assim afável
a cavidade crescente cortês

o corpo se abre como assento
nele aqui deixarei se sentar
o verso ofertado e mais vigoroso
(Jefferson Bessa)

Abraços.

Tene Cheba. disse...

Naquele momento, desconexidades,
esvaindo, o ser definha,
morto, muitas lembranças.
E foi assim que Natanael contava,
sua primeira tourada,
onde o ser, na arena,
lutava, sob o anel,
de gente insandecida,
a cada espetada, o pobre touro,
arfava.
Touro sem cérebro, sem nervos,
sem sangue, touro objeto.
A cada espetada, o público gozava,
tanto fazia, se touro ou toureiro,
não entendo.
Bom dia tristeza.

nydia bonetti disse...

A tristeza desfigura. Que bonito isso...

Climacus disse...

desfigura, mas, reconfigura.

Dalva M. Ferreira disse...

Coincidência? Pode ser... Mas, duzentos anos depois, cheguei à fonte com o meu cântaro vazio de versos, com sede de beber. E a fonte estava lá, jorrando no deserto. Obrigada fonte. Obrigada poesia.