Em 1941, Vinícius de Moraes escreveu o seguinte poema para Manuel Bandeira:
Saudade de Manuel Bandeira
Não foste apenas um segredo
De poesia e de emoção
Foste uma estrela em meu degredo
Poeta, pai! áspero irmão.
Não me abraçaste só no peito
Puseste a mão na minha mão
Eu, pequenino – tu, eleito
Poeta, pai! áspero irmão.
Lúcido, alto e ascético amigo
De triste e claro coração
Que sonhas tanto a sós contigo
Poeta, pai, áspero irmão?
De: MORAES, Vinícius. Nova antologia poética. Org. Antonio Cicero e Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
Em 1948, foi publicado o seguinte poema de Bandeira, respondendo ao de Vinícius:
Resposta a Vinícius
Poeta sou; pai, pouco; irmão, mais.
Lúcido, sim; eleito, não.
E bem triste de tantos ais
Que me enchem a imaginação.
Com que sonho? Não sei bem não.
Talvez com me bastar, feliz
– Ah feliz como jamais fui! –
Arrancando do coração
– Arrancando pela raiz –
Este anseio infinito e vão
De possuir o que me possui.
De: BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
Em 1960, Bandeira dedicou outro poema a Vinícius:
Saudação a Vinícius de Moraes
Marcus Vinícius
Cruz de Moraes,
Eu não sabia
Que no teu nome
Tu carregavas
A tua cruz
De fogo e lavas.
Cruz da poesia?
Cruz do renome?
Marcus Vinícius
Que em tuas puras,
Tuas selvagens
Raras imagens
Da mais pungente
Melancolia
Ficaste ardente
Para jamais:
Quais são teus vícios,
Vinícius, quais,
Para os purgares
Nas consulares
Assinaturas?
Marcus Vinícius
Eu já te tinha
(E te ofereço
Esta tetinha)
Como um dos marcos
De maior preço
Do bom lirismo
Da pátria minha.
Mas não sabia
Que fosses Marcus
Pelo batismo.
Hoje que o sei,
Te gritarei
Num poema bem,
Bem, não! No mais
Pantafaçudo
Que já compus:
– Marcus Vinícius
Cruz de Moraes
(Melo também),
De cruz a cruz
Eu te saúdo!
De: BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.
11.7.08
De Vinícius de Moraes a Manuel Bandeira e vice-versa
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5 comentários:
que presente, senhor antonio cicero correa lima!
sou louco por esses poemas! acho-os tão lindos, tão delicados...
maravilha encontrá-los aqui, e logo hoje, pois, coincidências à parte, o primeiro poema lido por mim, pela manhã, foi um do manuel bandeira. e, há pouco tempo, citei um outro do bardo, num comentário meu.
beijoca gostosa,
carinho apertado
e cafuné n'alma!
Quem és para mim?
Meu ar, meu Querubim
A alegria
A vontade de dizer sim
Horizontes de acontecimentos
Transformando em
Cisnes
Cimentos
Intermedíária ponte do itinerário
Que vai de um ponto ao outro
Do calendário
Lente de aumento
Ungüento, invento
Para onde vai a vela
Vai o vento.
Muito gosto eu desta "troca de galhardetes". Por isso, agradeço a quem os apresenta assim aqui.
[tentei fazer o mesmo com o Van Gogh e o Gauguin
http://okayempatins.blogspot.com/search?q=galhardetes]
:))
Obrigada infinitamente. : )
E há ainda mais alguns poemas que registram essa amizade: "Lapa de Manuel Bandeira" e "Meu Deus, eu andei com Manuel Bandeira", ambos de VM.
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