3.1.12

Roland Barthes: de "R. Barthes par lui-même"




Por gostar de encontrar e de escrever inícios, ele tende a multiplicar esse prazer: eis por que escreve fragmentos: tantos fragmentos, tantos inícios, tantos prazeres (mas não gosta de fins: o risco de uma cláusula retórica é grande demais: temor de não saber resistir à última palavra, à última réplica).



BARTHES, Roland. R. Barthes par lui-même. Paris: Ed. du Seuil, 1975.

4 comentários:

Cláudia Barral disse...

Maravilhoso! Me identifiquei muito!

Adoro os textos que você posta aqui e o mais interessante é notar que essa compilação de textos vai revelando muito de quem a gera.

Abraços, Cícero! Feliz ano novo!

Leandro Jardim disse...

Perfeito, me identifico também!

grande abraço

Carlos Frazão disse...

Dar origem a, começar, início, iniciar, entrar. E como não há nenhuma origem absoluta, chegar é sempre um regresso. Barthes afirmou que escrever é uma forma de dizer o que podia ter sido dito de outro modo, o que podia ter sido dito e não foi. Penso sempre neste não dito quando leio o dito. E se a literatura fosse o lado silencioso do som ou da marca das palavras? Mais o que não se lê, uma espécie de sinal que desliza e nunca se fixa? O não dito, apenas uma hipótese a dizer. Por isso, segundo um determinado foco, nunca se escreve, escrever é sempre uma tentativa, um vazio por preencher. E se há um nome para dar a qualquer coisa o nome de “literatura” é porque o vazio é sempre mais do que o nada. A literatura é esse vazio. No poema, talvez como em nenhum outro género, a construção literária - enquanto totalidade que diferencia, integra, distribui identidades, assinala diferenças - busca uma certa concretização possível do que é possível, anseia exprimir-se plenamente para possuir no limite o que se perde, o que é tudo, inexoravelmente. Excelente tentativa de dizer o não dito, pois este emerge inexpressável na escrita que dele se aproxima. O que não significa o “Verbo”, uma entidade anterior à materialidade da palavra, pelo contrário, é a palavra que se inventa que projecta a inevitabilidade da palavra por inventar.


Um Abraço.

Carlos Frazão disse...

Deixo aqui um esclarecimento por me parecer que pode haver alguma dúvida no meu comentário. Na última parte do texto o que pretendo dizer é que não há o "Verbo", não há nenhuma entidade anterior à materialidade da palavra. Como diz Piaget, aqui muito útil, na origem não está o verbo, mas a acção. A escrita é também uma acção, nada lhe escapa.

Abraço,Cícero.