27.1.12

Gastão Cruz: "Pedro Hestnes"





Pedro Hestnes

Passou a alguns metros de onde eu
estava; não o via
há anos e nem sei
qual a última vez que com ele falara

Não o reconheci de imediato e bastou
essa dúvida para criar um hiato
na linha dos olhares de repente cruzados
dentro da tarde; receara

decerto não ter sido por mim reconhecido
enquanto que eu não fora já a tempo
de lhe mostrar que o vira e me lembrava
do seu rosto mesmo que um pouco menos

luminoso que outrora; e um remorso
absurdo me tomou por ter perdido
esse olhar hesitante
no desconcerto breve de uma tarde



CRUZ, Gastão. Observação do verão. Lisboa: Assírio & Alvim, 2011.

3 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


que lindo! Bravo! Grato por compartilhá-lo!


Abraço forte,
Adriano Nunes

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

O meu mais novo soneto, Para Caetano:


"Fragmentos de um soneto urgente" - Para Caetano Veloso



Dado como morto, o poeta
Agora não mais canta o instante
Raro, funde-se aos livros ante
A nostalgia circunspeta.

Daquela artimanha secreta
Nada mais resta. Nem bacante
Nem outra ideia interessante...
De vez, deu-se ao Touro de Creta,

Às pressas. Nem algo indigente,
A rima, o ritmo entre esta gente
Iridescente, algum relato,

Fragmentos de um soneto urgente,
Encontraram... Nem o formato
Do tédio... Nem ato insensato.



Abraço forte,
Adriano Nunes

Nelson Santander disse...

Eu vivo passando por isso...