4.2.11

Giorgio Caproni: "Prima luce" / "Primeira luz": trad. por Aurora Fornoni Bernardini




Primeira luz

Leitosa de alvorada
nasce nas colinas,
gaguejando palavras ainda
infantis, a primeira luz.

A terra, com seu rosto
mádido de suor
abre ensonados olhos d'água
à noite que embranquece.

(São sempre os pássaros os primeiros
pensamentos do mundo).



Prima Luce

Lattiginosa d’alba
nasce sulle colline,
balbettanti parole ancora
infantili, la prima luce.

La terra, con la sua faccia
madida di sudore,
apre assonnati occhi d’acqua
alla notte che sbianca.

(Gli uccelli sono sempre i primi
pensieri del mondo).


CAPRONI, Giorgio. "Come un'allegoria (1932-35)". In: BERNARDINI, Aurora Fornoni (org. e trad.). Agamben comenta Caproni. Florianópolis: UFSC, 2011.

4 comentários:

Roberto Bozzetti disse...

Cícero,
não conheço o que Agambem escreveu sobre, mas me impressiona no poema o encadeamento espacial - preservado muito bem na tradução - fazendo um texto de impressionante sugestão cinética; a meu ver ainda, a palavra "mádida" (que os simbolistas adoravam) carreia também sinestesicamente esse sentido cinético. Belíssimo poema.
E fiquei me lembrando do "Anoitecer" do Raimundo Correia, que flagra também pelo jogo dos "enjambemts" esse movimento de fluir, embora haja um detalhismo de cromo nele que estranhamente faz o movimento ir se tornando estático - ou pelo menos estabelecendo uma tensão que leva para o estático.

Um abraço

Antonio Cicero disse...

Caro Roberto,

Agamben não escreveu nada sobre esse poema, pelo menos no livro em questão. Na verdade, o livro intitulado “Agamben comenta Caproni” consiste numa excelente antologia bilingue, de 250 páginas, da poesia de Caproni, sendo a tradução portuguesa muito bem feita pela Aurora Fornoni Bernardini. De Agamben, ele contém apenas um texto de 15 páginas, escrito a pretexto do poema de “Res amissa”, de Caproni.

Abraço

Roberto Bozzetti disse...

Obrigado pela indicação, Cícero.
Mas é uma opção editorial "estranha" esse título...
Um abraço!

Antonio Cicero disse...

Roberto,

meu palpite é que ela se deve ao fato de que Caproni é praticamente desconhecido no Brasil, enquanto Agamben é conhecidíssimo.

Bem, se o nome do Agamben servir para chamar atenção para o Caproni, já valeu, pois este é um grande poeta.

Abraço