27.6.10

Mais confusões de Tuffani

Primeiro, uma viagem ao exterior que me ocupou muito tempo e, em seguida, o falecimento de minha mãe impediram-me de prestar atenção ao que Maurício Tuffani escrevia sobre mim. Hoje, porém, um amigo me chamou atenção para um artigo que havia lido no blog dele. Os frequentadores do Acontecimentos sabem que aprecio uma boa polêmica, em que se discutam ideias filosóficas. Só desisto se reconhecer que meu interlocutor tem razão ou se eu e/ou ele começarmos a nos repetir. A discussão com Tuffani, porém, dá-me um enorme fastio, pois os textos dele não contêm senão confusões, erros, imprecisões, sofismas baratos e distorções das palavras minhas ou das de Heidegger (cujo pensamento ele evidentemente não conhece), e nenhuma ideia. Contudo, acabei decidindo por, pelo menos, rebater algumas de suas acusações e insinuações. Eis aí:


I.
Na minha réplica ao segundo ataque de Tuffani, chamei atenção para o fato de que, já que praticamente todos os grandes comentadores da obra de Heidegger o consideram anticartesiano, caberia a quem pensa o oposto refutar meus argumentos e citar vários e importantes comentadores de Heidegger que afirmassem o contrário.

Que fez então Tuffani? Duas coisas:

1)

Ele disse que apresentou um fundamento, sim. Qual? A seguinte frase de Heidegger em “Carta sobre o humanismo”:

“No âmbito do pensamento essencial, toda oposição é insensata”.

Pergunto: pode alguém seriamente achar que essa afirmação é algum indício de que Heidegger não era anticartesiano?

É como se alguém, querendo provar que Deleuze não era contra o pensamento dos “Nouveaux philosophes”, lembrasse que ele declarou a Claire Parnet que “objeções não levam a nada”.

É como se alguém, querendo provar que determinado filósofo kantiano não havia mentido em certa ocasião, apresentasse uma declaração escrita dessa pessoa, no sentido de que “mentir ofende a humanidade de quem o faz”.

Em suma, Tuffani não apresentou mesmo nenhum fundamento para sua declaração.
E não é o próprio Heidegger que, na mesma “Carta sobre o humanismo”, exorta a pensar CONTRA os valores e diz que “pensar CONTRA os valores não significa bater os tambores a favor da ausência de valor e da nulidade do ente, mas significa: CONTRA a subjetivização do ente, trazer a clareira da verdade do ser ante o pensamento”? (HEIDEGGER, Martin. “Brief über den Humanismus”. Wegmarken. Frankfurt: Vittorio Klostermann, 1967, p.349.

Ademais, qualquer um que conheça a trajetória de Heidegger sabe que a "Carta sobre o humanismo" consiste, antes de tudo, num ATAQUE a “O existencialismo é um humanismo”, de Sartre, ensaio que havia sido publicado no mesmo ano da publicação da “Carta”. Nela, Heidegger está, portanto, OPONDO-SE a Sartre. Se levarmos a sério a frase citada por Tuffani, isso quer dizer ou que Heidegger está sendo insensato, ou que o pensamento dele não é essencial, ou que a frase “No âmbito do pensamento essencial, toda oposição é insensata” não passa, realmente, de um frase. Que Tuffani não tenha percebido isso confirma minha impressão de que ele mal e confusamente consegue ver uma árvore do pensamento de Heidegger, mas não a floresta.

Mas Tuffani pensa poder congratular-se porque, segundo ele, “nessa resposta Antonio Cicero pelo menos não insiste mais em defender a aplicação do adjetivo ‘feroz’ ao substantivo ‘anticartesianismo’”. Ora, Tuffani, não é que eu tenha deixado de pensar que o anticartesianismo de Heidegger não seja feroz, mas que, se você tivesse apenas se oposto ao uso desse adjetivo, seu erro teria sido bem menor.

2)
Acreditem ou não, ele citou um texto de Richard Rorty, afirmando que Heidegger, Wittgenstein e Dewey haviam realizado uma revolução anticartesiana!

Isso não deixa de ser um modo tortuoso de reconhecer que Heidegger foi anticartesiano. Mas, sem querer dar totalmente o braço a torcer, ele diz então que se opõe ao meu uso de “anticartesiano”, entre outras coisas, porque:

“o uso do prefixo “anti” em relação à obra de qualquer pensador tem implicações que extrapolam o que se pretendia caracterizar ao usá-lo. Por exemplo, o termo “antiliberal” pode ser aplicado a comunistas, fascistas e até a anarquistas, mas não iguala estas três categorias nem mesmo naquilo em que cada uma delas se opõe à dos liberais”.

Que espécie de "lógica" é essa? Se for assim, a linguagem não é possível, pois nenhum vocábulo deverá ser usado em relação a nada, já que todos têm “implicações que extrapolam o que se pretendia caracterizar ao usá-lo”. O vocábulo “bonita”, por exemplo, pode ser usado em relação a uma mulher, a uma palavra, a uma lancha, a uma metáfora, mas não iguala essas três coisas nem mesmo naquilo em que cada uma delas se opõe a “feia”.

De todo modo, quem disse que todos os anticartesianos são iguais, senão no fato de serem anticartesianos, cada qual ao seu modo? Pelo jeito, ele não está lutando contra mim, mas contra moinhos de vento.

II.
Tuffani criticou em mim o que considera a “banalização” da filosofia. Observei que ele não cita exemplos concretos do meu afã banalizador. Depois, comentei que, segundo ele, a banalização “está no apelo exagerado aos ‘ismos’ – o humanismo, o niilismo e outros – e em chavões manipuláveis ao gosto de cada intérprete”. Ironicamente, observei que o próprio Heidegger, filósofo que ele pretensamente quer salvar da minha banalização, escreveu uma obra chamada “Carta sobre o HUMANISMO” e outra chamada “O NIILISMO europeu”…

A ironia lhe passou despercebida. Pareceu-lhe que cometi um erro de grandes proporções ao mencionar a “Carta”. Para prová-lo, ele citou um texto dela em que Heidegger ataca os ismos. A partir desse “erro de grandes proporções”, ele afirma que poderia “tecer considerações das mais desfavoráveis” sobre minha interpretação acerca do título dessa obra.

Observo apenas duas coisas: a primeira é que o ataque heideggeriano aos ismos é que não passa de uma banalidade. Esse desprezo pelos ismos se encontra nos mais vulgares manuais de estilo. Há algo mais banal do que os manuais americanos de estilo? Pois bem, em quase todos eles, lê-se: “avoid isms”: "evite ismos”. Faça a experiência, Tuffani: escreva no Google, entre aspas, a expressão “avoid isms” e veja o tipo de resultados que você vai ter. Exemplo:

(http://www.fscj.edu/employers/documents/SummerSchedule2010.pdf):

“Avoid ‘isms,’ stereotypes, bias and gender errors, and discover the five “C’s” of better writing”.

A segunda coisa a observar – e dá ainda mais motivo para ironia – é que Heidegger, na própria “Carta sobre o humanismo”, além de “humanismo” e existencialismo”, usa “materialismo”, “comunismo”, “americanismo”, “nacionalismo”, “antropologismo”, “subjetivismo”, “internacionalismo”, “individualismo”, “coletivismo”, “irracionalismo”, “positivismo”, “ateísmo”, “niilismo”, “indiferentismo”, “teísmo”, “biologismo”, “pragmatismo” “idealismo”, por exemplo.

Logo, ao contrário do que pensa Tuffani, nada indica, pelo menos nesse livro, que ele realmente tivesse algo contra o ismo de “anticartesianismo”.

III.
O que se segue no artigo de Tuffani é uma confusão completa: a árvore lhe tapa totalmente a floresta. Ele diz:

“Contrariamente a toda a tradição que sempre mostrou as concepções cartesianas como sendo fundamentadas somente pelo próprio pensamento de Descartes, isto é, como sendo o verdadeiro fundamento autônomo da filosofia moderna, Heidegger apontou em Ser e Tempo (§ 6, § 18, e § 19) que essas noções são derivadas da escolástica medieval. Na medida em que a análise heideggeriana aponta essa dependência, eu me contrapus à afirmação de Antonio Cicero de que o pensamento desse filósofo alemão é uma 'desqualificação' da razão”.

Aqui cabe perguntar: o que é que tem a ver uma coisa com a outra? Como é que o fato de que Heidegger afirma que o pensamento de Descartes deriva da escolástica medieval significa que está errado dizer outra coisa completamente diferente, isto é, que Heidegger relativiza ou desqualifica a razão?

Que Heidegger afirme que o pensamento de Descartes tenha relação com a escolástica é uma coisa; que Heidegger desqualifique a razão é evidentemente outra, completamente diferente.

O meu artigo (1) qualifica Heidegger de anticartesiano e (2) diz que Heidegger relativizou a razão. Mas não confundo essas duas coisas.

En passant, observo que Heidegger, ao relativizar a razão, desqualificou-a, pois relativizar uma coisa é, como diz o Houaiss, tratá-la ou descrevê-la “negando-lhe caráter absoluto ou independente, considerando-a, portanto, como de importância ou valor relativo”. Já a desqualificação de uma coisa é, como diz o mesmo Houaiss, a sua “perda da excelência, da qualidade superior”. Ora, que maior excelência pode uma coisa ter do que ser tida por absoluta? E, sendo assim, que maior desqualificação pode sofrer do que passar a ser tida por apenas relativa?


IV.
Determinado trecho do § 6 de Ser e tempo diz o seguinte:

“Se, para a questão do ser, deve-se conseguir transparência em relação à sua história, ela precisa liberar-se da tradição esclerosada e a dissolver os encobrimentos por esta produzidos. Entendemos essa tarefa como a consecução, seguindo o fio condutor da questão do ser, da destruição do conteúdo tradicional da ontologia antiga, até alcançar as experiências originárias em que as primeiras e desde então decisivas determinações do ser foram obtidas.

“Essa comprovação da procedência dos conceitos ontológicos fundamentais como a exposição investigadora da sua ‘certidão de nascimento’ nada tem a ver com uma má relativização dos pontos de vista ontológicos. A destruição tampouco tem o sentido negativo de uma arrasar a tradição ontológica. Ela deve ao contrário defini-las em suas possibilidades positivas, e isso sempre quer dizer, em seus limites. [...]”

Heidegger nega, portanto, que tenha a intenção de fazer uma “má relativização” (“schlechte Relativierung”) dos pontos de vista ontológicos. Evidentemente, como se depreende das sentenças seguintes, para ele uma “má relativização” seria uma relativização que tivesse apenas um sentido negativo: que apenas descartasse a tradição em bloco. Ora, ele pretende definir os pontos de vista ontológicos também em suas possibilidades positivas “e isso sempre quer dizer, em seus limites”. Em outras palavras, o que pretende não é uma “má relativização”, mas uma BOA relativização. É o que afirmo em O mundo desde o fim.

Pois bem, Tuffani não entendeu nada desse trecho de Heidegger; e entendeu menos ainda o trecho de O mundo desde o fim. O que ele pensa é que Heidegger está dizendo que a destruição que pretende realizar nada tem a ver com uma relativização (tout court) dos pontos de vista ontológicos...

Recentemente, alguém me alertou para o fato de que a tradução portuguesa de Ser e tempo omite a palavra “má”, que traduziria “schlechte”. Sendo generoso, culparei a tradução brasileira pela confusão de Tuffani.

V.
Tuffani acha, por alguma razão, que eu deliberadamente deixei de dizer que Heidegger considera, nos seus livros da década de 1920 e 1930, que o pensamento de Descartes é tributário do pensamento escolástico. Simplesmente, não vejo por que eu teria obrigação de mencionar isso. Não o fiz porque (1) isso nada tem a ver com minhas preocupações ao citar os textos em questão e (2) isso é simplesmente um dos modos em que, naquelas décadas, manifestava-se o anticartesianismo de Heidegger.

Como os trechos que efetivamente citei (por exemplo: “a radicalidade da dúvida de descartes e o vigor da nova fundamentação da filosofia e do saber em geral é uma aparência e, assim, fonte de ilusões fatais, hoje muito difíceis de serem eliminadas [...]” e “esse PRETENSO novo princípio da filosofia moderna não apenas não consiste [...]”) já revelavam, de modo mais abrangente, que Heidegger negava a originalidade de Descartes, não vi por que entrar em detalhes nesse ponto.

Aliás, como a tese que eu defendia era a de que Heidegger era anticartesiano, e como o trecho em questão tenta relativizar e desqualificar Descartes, eu, se quisesse, tê-lo-ia citado em apoio à minha tese, logo, contra a de Tuffani. Vê-se como é estranha a “lógica” dele. Evidentemente falta-lhe aptidão para a argumentação racional: o que talvez seja a verdadeira explicação para sua implicância com a minha defesa da razão.

Na verdade, a relação de Descartes com a escolástica já foi muito melhor tratada por outros, como Étienne Gilson, por exemplo, do que por Heidegger. Heidegger, até a década de 30, exagerava essa relação, como se chegasse a ser uma dependência. Na década de 40, porém, ele mudou, passando a reconhecer e enfatizar a originalidade do pensamento de Descartes, o que é mais correto. Como Tuffani, evidentemente, não conhece essas obras, vou citá-las.

Em “A época das concepções do mundo”, por exemplo, Heidgger afirma que

“O ente é determinado PELA PRIMEIRA VEZ [a caixa alta é minha] como objetividade da representação, e a verdade como certeza, na metafísica de Descartes. O título de sua obra principal é: Meditationes de prima philosophia, meditações sobre a primeira filosofia. “Prote filosofia” é a designação aristotélica do que se chamará mais tarde Metafísica. A Metafísica moderna inteira, Nietzsche inclusive, manter-se-á doravante no interior da INTERPRETAÇÃO DO ENTE E DA VERDADE INICIADA POR DESCARTES”.

E mais:

“Descartes não é superável senão pela superação do que ele mesmo fundou, pela superação da metafísica moderna, quer dizer, ao mesmo tempo, da Metafísica ocidental”.

Portanto, o respeito de Heidegger por Descartes cresceu, com o tempo. O que não quer dizer que ele tenha deixado de ser seu inimigo: ao contrário.

Em O niilismo europeu, Heidegger explica ainda melhor a extraordinária novidade de Descartes:

“ATRAVÉS DE DESCARTES E DESDE DESCARTES, na metafísica o homem, o ‘eu’ humano torna-se de modo dominante o ‘sujeito’”.

E:

“PARA O FUNDAMENTO DA METAFÍSICA DA MODERNIDADE, A METAFÍSICA DE DESCARTES É O COMEÇO DECISIVO”.

Concordo com tudo isso.

VI.
Na época de Ser e tempo (década de 1920), em relação ao Dasein, Heidegger pretende usar determinadas palavras, como “Verfall”, “decadência”, sem carga valorativa. Depois de Ser e tempo, porém, a partir da década de 1930, Heidegger voltou a empregar a palavra “Verfall” pejorativamente, como todo o mundo. É o que afirmei, rebatendo a afirmação de Tuffani de que, ao chamar Descartes de decadente em texto de 1935, Heidegger não pretendia desqualificá-lo. Para provar o contrário, Tuffani citou o seguinte trecho de “Carta sobre o humanismo”, de 1947:

“O termo [decadência] não significa uma queda do homem, entendida sob uma perspectiva filosófico-moral e ao mesmo tempo secularizada, pois designa uma relação essencial do homem com o ser, no interior da referência deste à essência do homem. [Das wort meint nicht einen » moralphilosophisch « verstandenen und zugleich säkularisierten Sündfall des Menschen, sondern nennt ein wesenhaftes Verhältnis des Menschen zum Sein innerhalb des Bezugs des Seins zum Menschwesen.]
(Über den Humanismus, p. 24.)”

De maneira geral, é concebível que os erros de Tuffani de que falei acima não sejam resultado de má fé; talvez resultem simplesmente de sua ignorância. Este, porém, me parece mais suspeito. Vejam bem: eu afirmo que o uso pejorativo de “Verfall” se restringe, em Heidegger, à época de Ser e tempo, que é de 1927. Tuffani cita, em resposta, um texto de 1947, que parece dizer o oposto. Apenas, ele omite a primeira frase desse parágrafo. E que diz ela? Que:

“O esquecimento da verdade do ser a favor de uma afluência do ente impensado em sua essência é o sentido da chamada “decadência” [Verfallens] em Ser e tempo”.

Ou seja, confirmando o que afirmei, no parágrafo criticado por Tuffani, Heidegger está explicando o sentido de “Verfall” exatamente em Ser e tempo.

VII.
A tese de que a banalização é pior do que o dogma dispensa comentários, pois, como já comentei, o dogma é a banalização canonizada.

12 comentários:

ADRIANO NUNES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Antonio Cicero disse...

Adriano,

de fato é perda de tempo. É que, ao ler as calúnias que ele escreveu, não me contive. Mas, realmente, não vale a pena.

Abraço

Letícia disse...

Cicero,
como você mesmo disse, parece que esse senhor luta contra moinhos de vento.

Estive um tempo sem passar por aqui e apenas agora soube da sua mãe. Sinto muitíssimo.

Grande beijo,
Letícia Balceiro

Afrânio disse...

Cícero, você poderia mencionar resumidamente as principais teses de Heidegger para relativizar a razão? Desde já, meu agradecimento.

Nobile José disse...

poisé... tb acho q chega de tuffani... rs.

aos poucos vou achando os poetas da minha geração. ontem li um poema na folha da ANA MARTINS MARQUES:

O BRINCO
Pode ser que como as estrelas
as coisas estejam separadas
por pequenos intervalos de tempo
pode ser que as nossas mãos
de um dia para o outro
deixem de caber
umas dentro das outras
pode ser que no caminho para o cinema
eu perca uma de minhas ideias
preferidas
e pode ser
que já na volta
eu me tenha resignado
alegremente
a essa perda
pode ser
que o meu reflexo sujo
no vidro da lanchonete
seja uma imagem de mim
mais exata
do que esta fotografia
mais exata do que a lembrança
que tem de mim
uma antiga colega de colégio
mais exata do que a ideia
que eu mesma
agora tenho de mim
e portanto pode ser
que a moça cansada
de olhos tristes
que trabalha na lanchonete
tenha de mim uma imagem
mais fiel
do que qualquer outra pessoa
pode ser que um gesto Qum jeito de dobrar
os lábios
te devolva
subitamente
toda a infância
do mesmo modo que uma xícara
pode valer uma viagem
e uma cadeira
pode equivaler a uma cidade
mas um cachorro estirado ao sol não é o sol
e uma quarta-feira não pode ser o mesmo que
uma vida inteira
pode ser
meu querido
que esquecendo em sua cama
meu brinco esquerdo
eu te obrigue mais tarde
a pensar em mim
ao menos por um momento
ao recolher o pequeno círculo
de prata
cujo peso
o frio
você agora sente nas mãos
como se fosse
(mas ó tão inexato)
o meu amor.

Antonio Cicero disse...

Afrânio,

Bem sucintamente:

Bem sucintamente:
Para Heidegger, o que chamamos de “razão” não é absoluto, universal ou necessário, mas se baseia em determinada interpretação do ser dos entes: precisamente na interpretação metafísica do ser dos entes. Ora, a metafísica não passa de um momento da história do ser. O mesmo ele diz da lógica que codifica a razão.

Abraço

Antonio Cicero disse...

Nobile José,

também gostei desse e do outro poema dela que foi publicado no Ilustríssima.

Abraço

Eleonora Marino Duarte disse...

pensador,


entendo seu incomodo e sua preocupação com a infâmia, suas respostas estão lúcidas e bem colocadas.

eu faço questão de lhe dizer, leio todas as vezes que houverem escritos expressando o seu pensamento, aqui ou em qualquer lugar, na forma de artigo, poesia, letra de música, ensaio filófifico, pois acredito plenamente no seu exercício como pensador e no belo resultado que de seu pensamento resulta.

porém, para mim o caso tuffani está bem claro no que diz respeito ao próprio objetivo de tal senhor, ele obviamente tem a má intenção de aparecer através da prática chatíssima da polêmica com quem tem mais atenção do que ele, para assim tentar conseguir alguma atenção para si.

não deixa de ser o famoso falem mal mas falem de mim, ultrapassado como arte de se colocar na vida e na mídia.

um abraço grande para você!

Antonio Cicero disse...

Querida Betina,

Obrigado por suas palavras. Acho que você tem razão. O melhor teria sido ignorar essa história.

Domingo à noite, minha mãe faleceu. Fiquei arrasado. Na terça, eu estava tão deprimido que cancelei todos os compromissos da semana, inclusive o artigo que deveria entregar à Folha na quinta-feira, para ser publicado no sábado. No sábado mesmo, porém, ao ler, alertado por um amigo, os disparates que Tuffani havia escrito – coisa que eu vinha evitando fazer –, a tristeza se transformou em raiva e redigi o artigo num rojão.

Tenho certeza de que qualquer um que conheça Heidegger percebe imediatamente que Tuffani não sabe do que está falando, de modo que, a rigor, não era sequer necessário responder, mas, sábado, a revolta falou mais alto do que o bom senso. Não tolero a imbecilidade relativista contemporânea, que quer fingir que todas as “opiniões” se equivalem e de que cada qual tem a sua “verdade”. Tampouco aguento a hipocrisia de quem acha uma grosseria chamar a ignorância de “ignorância” e a má fé de “má fé”: a hipocrisia de quem à verdade prefere o falso bom-mocismo da tartufice.

Talvez eu devesse mesmo ter ignorado essa história... Mas, naquele sábado à noite, não deu para suportar a insolência da ignorância.

Beijo

Anônimo disse...

“A hora do erro chega a todo ser humano. Mas quem logo a percebe e se corrige é menos tolo, menos infeliz, tem menos culpa”, Tirésias para Creonte, Antígona, de Sófocles – tradução de Millôr Fernandes.

Eleonora Marino Duarte disse...

Querido Antonio Cicero,

compreendo imediatamente os motivos que o levaram a responder (muito bem respondido) ao senhor fulano e quero acrescentar que minha admiração por sua intelectualidade e competência como filósofo só aumentaram diante da tal discussão.

imagino como, no meio de uma perda irreparável, quando nos sentimos sem parte de nossa identidade, você possa ter se sentido caluniado pelas tolas e ignorantes questões do senhor fulano. na verdade, você fez o que era certo.


suas palavras voltaram a me comover quando li o que você disse aqui no comentário...

um beijo.

Aetano disse...

Millôr acabou de postar no Twitter:

"Humorismo é o ismo que vai rir por último"

rs