22.6.10

Carlos Drummond de Andrade: "Memória"




Memória


Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.




DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. "Claro enigma". Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.

34 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

amo Drummmond e este poema é muito lindo. Lê-lo me leva a um outro poema, de Pessoa:

Fernando Pessoa
"Cancioneiro"
"Isto"

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!


Aliás, meu novo poema:

"pensar" - Para Péricles Cavalcanti.

que pulse
a vida

que passe
o vento

que pese o
poema

que pire
o tempo

que pênsil
o sonho!

que pense o...
sol-cérebro

apenas.
pulsando o

pretérito o
presente

pra sempre
pesando

passando
pra quê?

o sono
que expire

que expulse
o sonho

quem sonho?
quem soma?

que sumo?
que senda?

que surto?
quem sendo?

quem sangra?
(o risco

mais íntimo,
no mínimo)

canção
que surge.



Forte abraço,
Adriano Nunes.

Aetano disse...

Cicero,

"No céu também há uma hora melancólica. Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas."

(Drummond)

Meus sentimentos.

Aetano

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Aetano.

Arthur Nogueira disse...

Querido Cicero,

apesar de belo, é triste ler esse poema aqui. Que vocês sigam em frente com o mesmo brilho e que as coisas boas permaneçam vivas e iluminem nossa memória.

Um abraço apertado,

A.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Acompanhei a sua luta pela melhora de saúde da sua mãe. Meu sentimentos mais profundos!

"Partimos cuando nacemos,
andamos mientras vivimos,
y liegamos
al tiempo que fenecemos;
asi que cuando morimos
descansamos." - Jorge Manrique, Coplas por la muerte de su padre, V.


Adriano Nunes.

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Arthur.

Um forte abraço

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Adriano.

Um grande abraço

Nobile José disse...

moço do verso mais lindo,

um abraço no seu coração.

ADRIANO NUNES disse...

Amado Cicero,

Um poema para você:


"Não se morre... Somente" - Para Antonio Cicero.


Não se morre... Somente
O tempo é que se esquece
De ser o tempo, (Apressam-se
As Parcas!) o presente.

Nada se desvencilha
Do instante fugidio.
Vê-se imenso vazio,
N'alma, feito armadilha.

A memória de tudo
Vinga: o flerte, disperso
Num universo mudo,

Afunda-se no inverso
Da morte. Porque tudo
É viver... Viver só.


Abraço grande,
Adriano Nunes.

wilson luques costa disse...

Prezado Antonio Cicero,
Pelo que percebo seu coração lancina de saudade. Meus sentimentos sinceros, eu cujo coração lancinou há um mês com o meu amado pai. Minha sincera solidadriedade a você.

Sandra Silva disse...

"As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão."

Minha alma resolveu parar nesse verso, num daqueles instantes feito engasgo. Melhor calar!!!

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Nobile José.

Um abraço

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Wilson. Sinto muitíssimo também pelo seu pai.

Grande abraço

Monica Fischer disse...

Cícero,
Estamos todos aqui, para extrairmos brilho em nossas convivências, pois só o amor é capaz de se manifestar como ...LUZ... E só a luz é capaz de se comunicar eternamente entre os diversos planos que compõem o mistério de nossa existência.
“as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão”
Sinta-se abraçado e confortado por quem te admira muito,
Com todo meu carinho, Monica

rodrigo madeira disse...

"Tua morte, como todas, foi simples.
É coisa simples a morte. Dói, depois sossega. Quando sossegou –
Lembro-me que a manhã raiava em minha casa – já te havia eu
Recuperado totalmente: tal como te encontras agora, vestido de mim."

vinicius de moraes

tenho certeza, poeta, de que vc transformará este pesar em alegria
(pois "a thing of beauty is a joy forever")

força! forte abraço,
rodrigo.

Anônimo disse...

Cicero,

Lamento muito.

Beijo grande para ti e para a Marina,

F.

Alcione disse...

"Estou aqui e não estarei, um dia,
em parte alguma.
Que importa, pois?
A luta comum me acende o sangue
e me bate no peito
como o coice de uma lembrança.
(trecho do poema maio 1964 de Ferreira Gullar)

Meus sentimentos, Antonio Cicero.

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Mônica.

Beijo

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Rodrigo.

Abraço

Antonio Cicero disse...

Obrigado, F.

Abraço

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Alcione.

Beijo

João Renato disse...

Caro Cícero,
Uno meus sentimentos de pêsames ao de todos que se manifestaram.
Força,
JR.

Climacus disse...

"Wo das Liebste gegangen, bleibt die Liebe zurück, denn ander könnte Jenes gar nicht gegangen sein" numa tradução irresponsável, mas, talvez, com o espírito desse autor/tradudor: "No vazio aberto pelo mais amado, resta o amor, doutro modo, ele ainda estaria aqui" Heidegger.

Anônimo disse...

Para você este pequeno trecho das Elegias de Duíno - Sétima Elegia-R.M. Rilke:
"Oh, estar morto enfim e as conhecer infindamente, as estrelas todas: Pois como, como, como esquecê-las."
É isso, não as esquecemos jamais.
Abraços,

Antonio Cicero disse...

Obrigado, João Renato.

Abraço

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Climacus.

Antonio Cicero disse...

Obrigado, Maria Rodrigues.

Beijo

Climacus disse...

cara, não sou seu íntimo, nem sei ou sabia de nada, mas, força aí, abração!

Antonio Cicero disse...

Legal, Climacus.

Abraço

Claire disse...

A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória,
em lembrança, em narrativa.
Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto,
ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde, o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados,
para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem.
Sempre.

José Saramago

Anônimo disse...

Amado Cicero,

Todo o meu coração pra você nesse momento de dor!


"esse momento caro"

em silêncio, comparo
esse momento caro
em que um verso é criado
com todo o meu passado.

claro que me deparo
com um tesouro raro:
outro tempo é-me dado,
finco-me noutro fado.

à vida enfim declaro
que pode parar o
meu coração. cansado
de tudo, eis o meu brado!


Abraço forte,
Mateus.

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,


Meu novo poema:

"Naufraguemos"



Naufraguemos...
E larguemos ao mar
Tudo que nos restar
Para vão salvamento:
Todos os pensamentos,
Amores, sons, silêncios,

Preces, promessas, prantos,
Esperanças, poemas,
Salva-vidas e os remos.
Entre corais, no abismo
Dos segredos marítimos,
Talvez exista a vida

Que já não temos, tudo
Que nos respira, o sonho
De um emergir agora.
Deixemo-nos em nós,
Dentro das nossas naus
Abandonadas, almas

Afogadas, quimeras
À tona, espectros sós.
Lancemo-nos ao vácuo...
Cabeça, tronco, membros,
Mentiras, taras, traumas,
Porquês, desculpas, tédios...

Entreguemo-nos vivos
Àquele escafandrista
De primeiro mergulho,
Àquele que nos quer
Relíquia, pedra rara,
Ouro, prata, memória!


Abração,
Adriano Nunes.

fred girauta disse...

essa ruga entalhada
nos dias leves de outono,
quieta, mansa, discreta, ainda tensa,
tem a certeza da finitude eterna.

forte abraço, cícero.

Antonio Cicero disse...

Muito obrigado, Mateus.