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No artigo que fiz para a "Ilustrada" da Folha de São Paulo e que aqui publiquei no dia 8 do corrente, expliquei que, segundo Sérgio Buarque de Hollanda, Domingos Carvalho da Silva, membro do grupo conhecido como Geração de 45, “decretara que o bom verso não contém esdrúxulas (apesar de Camões), que a palavra ‘fruta’ deve ser desterrada da poesia, em favor de ‘fruto’, e a palavra "cachorro" igualmente abolida, em proveito de ‘cão’; e mais, que o oceano Pacífico (adeus Melville e Gauguin!) não é nada poético, bem ao oposto do que sucede com seu vizinho, o oceano Índico”.
Pois bem, vejam que interessante o e-mail que o poeta Donizete Galvão me enviou, a propósito dessa observação:
Caro Antonio Cicero:
lendo seu artigo sobre as vanguardas e, sobretudo, sobre as palavras que Domingos Carvalho da Silva diziam estar proibidas de entrar em um poema, lembrei-me de um fato. Quando publiquei meu segundo livro saiu uma curta crítica dele a que nunca tive acesso. Só me lembro que um amigo meu leu e disse que ele fazia ressalvas ao uso da palavra quaradouro ( onde se quara as roupas). ele achava que o certo era "coradouro" palavra que nunca ouvi ninguém dizer lá em Minas. O velhinho não mudou. Ele tem um livro interessante sobre poesia, Uma teoria do poema.
Abraços,
Donizete Galvão
19.3.09
Donizete Galvão: sobre Domingos Carvalho da Silva
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Poesia
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8 comentários:
pensador,
obrigada por colocar aqui o desdobramento do artigo. você nos coloca sempre dentro, é ótimo!
tudo em tempo real e sem aparas!
infelizmente não foi desta vez que participei de um curso teu. mas haverá ainda um que caiba em meus horários. ano que vem (parece longe, mas não é, é só abrir e fechar de olhos...) não estudarei mais a noite e o espaço aberto no horário estará destinado ao exercício do pensamento.
espero poder frequentar muito o POP, ouvir muito o que você tem a dizer, os outros, as outras e pôr a máquina da cabeça para ferver!
grande abraço!
(rs, rs) mas que maluquice essa estória de palavras que podem e que não podem constar em um poema!...
chega a ser cômico pra não achar trágico (rs)...
fico me perguntando: o que será que o carvalho da silva pensa da poesia de waly salomão, esta bela bela bela metralhadora das palavras? e da prosa do leminski, o cachorro louco que sabia latim? e de tantos outros, grandes poetas, que não se enquadram dentro da teoria que ele esquematizou?
enfim.
coitadinho (rs)...
beijo!
pois é, cícero,
nada mais absurdo do que encarcerar a poesia.
o que diria o Domingos Carvalho dos sonetos de Jorge de Sena?
Eu adoro um palavrório estranho...
aí vai:
Vulvácea prostilânea algozedanto,
de bundiláctea fera estridecente,
na porrelapsa dediforme lente
se esmera de meter-se em qualquer canto.
Glandelírio retal de um doce pranto,
dedilhando rosácea semovente,
regala esporratura de repente,
espande clitorídeo esfincteranto.
Oblonga penca de alvatroz errância,
subtatos olfativos refinados,
de errática carnalescência avança,
em decúbitos crassos penetrados
de bruços no cuzcuz em abundância,
buracais espermáticos inflados.
forte abraço!
Antonio,
essa história de Domingos Carvalho da Silva é o extremo de um programa poético!
Deixarei um poema que escrevi:
CHUVA
Quando em verso digo chuva
Fala-se da única
Ao largo de outras chuvas
Faz-se ela não de água
Mas de som chiado
Na enxurrada de agora
De chuva que é voz
Porque já não a faço dizer
Com (funde-se) ao verso
Então comigo murmura:
Chuva
Um abraço...Obrigado
Jefferson
E o que ele diria do substantivo ou "adjetivo esdrúxulo em 'u'", do poema abaixo?
Objeto de amor
De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.
(Adélia Prado)
***
[rs]
Aeta
Caro Antonio Cícero,
A meu ver, todas as palavras podem e devem servir para um poema: agudas, graves e esdrúxulas: como entendo que em poesia não há poemas assim-assim (ou são bons ou são maus), nos maus poemas até as palavras graves e agudas ficam mal, quanto mais as esdrúxulas. Que o poeta seja livre de escolher (e podar, sobretudo), as palavras em função da sua "poiesis".
Domingos da Mota
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